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Em novo disco, Larissa Luz louva a religiosidade afro-brasileira

Em novo disco, Larissa Luz louva a religiosidade afro-brasileira

Em entrevista ao Gazeta Online, a cantora fala de "Trovão", seu terceiro disco de estúdio que conta com 13 faixas e mistura tambores africanos com música eletrônica

Publicado em 3 de julho de 2019 às 17:31

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Larissa Luz, cantora . (Divulgação/André Cruz)

"Sou de Iansã com Ogum, e ideias do mal eu derrubo e corto com a minha espada!" Foi assim, evocando espíritos e divindades da religiosidade afro-brasileira, que Larissa Luz, baiana arretada e revelação da MPB, atendeu ao Gazeta Online para falar de seu novo álbum, "Trovão", recém-lançado pelo selo Altafonte/Natura Musical. O EP já está disponível para download em várias plataformas digitais, como Spotify, Deezer e iTunes.

Após interpretar Elza Soares nos palcos - no musical "Elza", ainda em cartaz em São Paulo, com sucesso de público e de crítica -, a ex-vocal do Araketu lança o seu terceiro trabalho solo, agora com produção de Rafa Dias (da revelação soteropolitana Attooxxa) e 13 músicas inéditas que contam com participação de gente talentosa, como Ellen Oléria e uma turma boa da Bahia, como Lazzo Matumbi, Luedji Luna, Letieres Leite e o alabê Gabi Guedes.

"Este disco nasceu da necessidade de mostrar traços da nossa conexão ancestral com os ritos e práticas das religiões africanas. Acredito que o EP tenha uma abordagem atual e urbana, trazendo um misto de tecnologia com ritmos tribais", filosofa - e conceitua - a cantora, destacando a faixa "Gira" como sendo uma das suas preferidas de "Trovão".

"Essa composição foi fruto de uma parceria muito produtiva com Bia Ferreira e Doralyce. Com ela, fizemos uma espécie de ritual religioso em forma de canção. A música tem referências do candomblé e da umbanda, um mix de instrumentos africanos com batida eletrônica", explica.

MACUMBA DIGITAL

"Gira", inclusive, ganhou um videoclipe conceitual e exótico, em um visual que mistura religiosidade e cultura pop. A direção é do sempre competente Heitor Dhalia, responsável por filmes como "À Deriva" e "Tungstênio". Aqui, o cineasta propõe orixás desconstruídos envoltos em uma espécie de Santa Ceia. Uma "heresia" de bem-vindo rigor estético. Veja o clipe de "Gira".

"Conheci o Heitor (Dhalia, diretor do clipe) em um show em Salvador e sempre desejamos trabalhar juntos. Foi um casamento perfeito entre música e conceito visual. Acredito que o clipe seja uma forma de liberdade para exercermos a nossa religiosidade sem medo. Não precisamos mais seguir um padrão que nos foi imposto desde a época da colonização", discursa.

As outras faixas de "Trovão" também evocam rituais afro-religiosos. "Macumba", por exemplo, tem os atabaques do alabê Gabi Guedes contrastando com batidas eletrônicas, uma assinatura característica de Rafa Dias, que, além de produzir, ajudou Larissa na criação de melodias e letras.

"Ele criava os bits e eu passava a abordagem musical que queria para o disco. Juntos, fomos escrevendo as letras e tentando achar o tom vocal para cada uma delas", relembra a cantora, elogiando, também, a participação do guitarrista Chibatinha (também membro do Attooxxa) em seu novo projeto.

DIVA DOS PALCOS

Larissa Luz, cantora . (Divulgação/André Cruz)

Interpretar Elza Soares no teatro, de acordo com Larissa Luz, fez com que ela repensasse toda a sua carreira, especialmente a forma de cantar. Muito elogiada pelo papel, a baiana chegou a ser indicada a vários prêmios por sua atuação nos palcos.

"Era um lugar em que eu estava aprendendo e tentei trazer muitas ferramentas do mundo da música para o teatro. A Elza Soares tem uma voz potente. A pesquisa para encaixar a voz dela à minha me deu uma gama de possibilidades, principalmente como cantora. Dizem que, após participar do espetáculo, o meu timbre de voz ficou bem parecido com o dela", comenta.

Falar tão abertamente de elementos da religiosidade afro em "Trovão", exemplificando até rituais do candomblé em forma de música, servem, de acordo com Larissa, para educar um país marcado pelo desrespeito a sua diversidade.

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"Quebrar estereótipos é a palavra-chave de 'Trovão'. O racismo ainda é muito forte e a macumba é vista de forma pejorativa. Precisamos criar um movimento antirracista. No Brasil, o negro não foi educado para respeitar a sua ancestralidade. Exigir esse respeito é o primeiro passo", conclui.

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