> >
Primeira edição do Festival Dia D em Vitória completa 20 anos

Primeira edição do Festival Dia D em Vitória completa 20 anos

No dia 3 de julho de 1999 a Praça do Papa foi tomada pelo evento, um marco na história da música e cultura capixaba

Publicado em 2 de julho de 2019 às 20:55

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura

A efervescente cena musical capixaba dos anos 1990, com bandas como Manimal, Pé do Lixo, Lordose Pra Leão, Dead Fish, Mukeka di Rato, Casaca, Java Roots, Zémaria, entre outras, teve seu auge em um festival que marcou a música capixaba. No dia 3 de julho de 1999, oito mil pessoas se reuniram na Praça do Papa, em Vitória, para o Dia D.

O evento foi idealizado por Cid Travaglia, conhecido como Cidinho, baterista da banda Pé do Lixo e ativo na cena musical desde a década de 80. Cidinho trabalhou nas edições do festival de 1999 a 2002, e se desligou do evento logo após a edição de 2002, não tendo envolvimento na conturbada edição de 2003, que acabou não rolando.

“O objetivo era criar um festival focado na cultura capixaba principalmente porque os artistas da terra não recebiam o reconhecimento e respeito que mereciam. Tivemos que criar um evento que virasse uma vitrine da produção local. O primeiro tinha 27 bandas, e alguns dias após termos colocado a campanha promocional na rua veio a notícia que Cidade Negra tocaria no Álvares Cabral no mesmo dia. Muita gente nos disse para desistirmos. Mas tivemos um público de oito mil pessoas e a cena cultural se aqueceu bastante depois”, relembra Cidinho.

As bandas capixabas que faziam música autoral já tinham grande abertura nas rádios locais e faziam shows frequentes, mas o público ainda era um desafio “O cachê era pouco, mas todo mundo comprou a ideia porque nunca existiu um festival dessa proporção. Era algo utópico. Eram milhares de pessoas pagando para assistir a bandas capixabas. O Dia D foi a ponta do iceberg, tinha muita coisa acontecendo por aqui. Foi a coroação de uma geração”, diz Amaro Lima, do Manimal, que tocou em todas as edições do evento.

CRESCIMENTO

Na segunda edição, em 2000, o número de bandas quase dobrou, foram 52. Eram dois palcos e uma tenda de circo. Exposição de cartoons, fotografias, pista de skate, pinturas, artesanato, teatro e o audiovisual se entrelaçavam pela Praça do Papa.

“A ousadia foi capturar essa atmosfera favorável da música capixaba e juntar tudo em um grande festival. Eram vários estilos musicais. Rock, hip hop, reggae, eletrônica, blues... Foi uma grande mostra da cultura contemporânea daquele momento. A partir da primeira edição, as bandas batalhavam para poder participar do festival”, destaca o jornalista e músico José Roberto Santos Neves que cobriu o evento e também tocou nas edições de 1999 e na de 2001 com as bandas Lucy e Thor.

VEJA TRECHO DO SHOW DA BANDA LUCY NA EDIÇÃO DE 2001

LEMBRANÇAS

Memórias não faltam para quem viveu o auge do festival. Em 2002, como recorda José Roberto, quando a banda Lordose Pra Leão se apresentou no Palco Moqueca ao mesmo tempo em que o Casaca, que despontava como o grande nome da música capixaba na época. Para chamar a atenção do público, o Lordose lançou mão de recursos polêmicos. “O Casaca era hiperpopular então colocamos dançarinas no palco porque queríamos atrair a galera.” conta Adolfo Oleari, integrante do Lordose.

Algumas bandas, como a Crivo, cresceram junto com o festival. Em 1999 a banda tocou no palco que era uma lona de circo, no ano seguinte no palco médio e no último ano, no palco principal. “A gente se preparava como se fosse o show mais importante do ano. Foi uma vitrine essencial. Lembro que vários festivais e eventos com bandas locais vieram na sequência”, recorda Tati Wuo, vocalista da Crivo.

O FIM

O Dia D atraiu também olhares do mercado e da imprensa nacional. O projeto começou a ecoar pelo Brasil. Fábio Massari, na época VJ da MTV, e o produtor musical Carlos Eduardo Miranda foram alguns que circularam pelo evento, além de executivos de gravadoras. Alguns artistas assinaram contrato, como o Casaca, com a Sony.

“O Festival Dia D provou que a cena capixaba tinha valor, aumentou a autoestima dos artistas locais, motivou a produção de conteúdo autoral, e fez florescer um mercado de trabalho que gerou empregos, estimulou o turismo, abriu os olhos do público e da mídia local para os talentos da terra , ajudou a popularizar os artistas”, diz Cidinho.

Em 2003, porém, o festival terminou de forma meio trágica. Nos bastidores, muita polêmica e explicações desacertadas. Fora da organização desde 2002, o idealizador lamenta a forma como tudo acabou. “Já não fazia parte da ultima edição em 2003 e foi triste ver tudo que havia sido construído descer pelo ralo, e consequentemente a cena cultural capixaba foi enfraquecendo. Que venham novas ideias, novos eventos e que tudo possa florescer novamente e que a valorização do artista local não se apague”, torce Cidinho.

Este vídeo pode te interessar

VEJA MAIS FOTOS DAS EDIÇÕES DO DIA D:

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais