Quando a cantora Gabriela Brown começou sua carreira em estúdio, ela não conseguia se enxergar nas pessoas que trabalhavam à sua volta. Não havia mulheres nas posições de técnicas de som, produtoras, idealizadoras, donas de gravadora. Ela gosta de dizer que "conviver com quem nos representa é inspirador e motivador", por isso resolveu criar um espaço que ela não teve em sua trajetória: o projeto "Luz Del Fuego".
Gabriela idealizou um workshop de imersão num estúdio, no qual 15 mulheres irão se inteirar de tudo que envolve a produção musical. Será um fim de semana para aproveitar este momento propício à discussão para alimentar a criatividade e convidar mulheres a emergirem.
A inspiração do nome vem da artista capixaba Luz Del Fuego. Dançarina, atriz e escritora, ela foi uma mulher à frente do seu tempo. Já nos anos 1930, não aceitava opiniões sobre seu modo de viver, era adepta do vegetarianismo e desfilava pelas praias de Marataízes de bustiê quando o biquíni ainda não era uma realidade brasileira.
O objetivo do projeto é que a musicista capixaba seja emancipada, assim como foi Luz Del Fuego. Nós estamos ganhando espaço, mas ainda somos muito subestimadas no cenário musical, explica Louisy Carvalho, produtora cultural.
Se você chega num estúdio para gravar, mas não tem conhecimento, você acaba sendo passada pra trás ou recebendo um tratamento inferior, principalmente se você é mulher, conta Louisy. Para resolver essa incipiência, durante os dois dias de curso, as selecionadas passarão por uma vivência de todas as áreas: aprenderão como se cria uma letra, quais os conceitos de harmonia e melodia, como fazer produção musical e como funcionam equipamentos de mixagem e masterização.
As facilitadoras serão as produtoras Naná Rizzini e Natália Ferlin, a cantora Gabriela Brown e a musicista Dora Dalvi. Além disso, as artistas assistirão a uma palestra sobre gestão de carreira com a empresária Karola Balves. Louisy conta que chegar até essas mulheres não foi tarefa fácil, porque o mercado é predominantemente masculino.
A gente tem algumas vozes capixabas que fazem sucesso, mas são pouquíssimas mulheres que fazem fotografia, mixagem, produção... É difícil encontrar essas mulheres e, como são poucas, elas acabam tendo a agenda muito cheia.
O processo de aprendizagem contará com metodologias práticas e dinâmicas. A ideia é que, a cada oficina, elas apliquem o que conheceram e, ao fim, saiam com uma música criada colaborativamente, conta Gabriela.
Também não existe nenhuma restrição quanto às inscrições. As mulheres podem cantar, podem compor, podem tocar qualquer instrumento ou apenas estar interessadas em seguir a carreira da música como produtoras. O mais relevante é que o trabalho que elas desenvolvam seja autoral, salienta Louisy.
REPRESENTAÇÃO
Para as organizadoras, quanto mais diverso o grupo, mais grandiosa e efetiva será a troca de experiências. Louisy explica que quem se inscrever vai passar uma seleção. Nós queremos um grupo de mulheres que seja plural, com diversidade de orientações sexuais, identidades de gênero e etnias, e também que façam gêneros diferentes dentro da música. Gabriela reitera: Achamos fundamental abraçar as diversidades.
Mais do que fazer contatos profissionais, as artistas também poderão utilizar o Luz Del Fuego para compartilhar afetos. Pretendemos usar o curso para criar também uma rede de apoio. Um lugar para dividirmos experiências, forças, fraquezas e realizações. Eu enxergo as mulheres como potências da natureza que foram podadas ao decorrer dos séculos. É hora da reparação histórica, destaca Gabriela.
Workshop Luz del Fuego
Quando: 14 e 15 de setembro.
Onde: Estúdio Funky Pirata, Fradinhos, Vitória.
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