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Ator de 'Malhação' usa salto e diz que gosta de se 'montar'

Ator de "Malhação" usa salto e diz que gosta de se "montar"

Pedro Vinícius dá vida ao Michael de "Malhação", um gay bem resolvido com sua sexualidade

Publicado em 25 de setembro de 2018 às 12:45

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Pedro Vinícius, de 18 anos, dá vida a Michael, em "Malhação", edição Vidas Brasileiras. (Reprodução/Instagram @pedroviniciusmb)

Em "Malhação", na edição Vidas Brasileiras, ele dá vida ao seu primeiro papel na TV: um personagem gay bem resolvido. Acontece que o ator paraibano Pedro Vinícius, de 18 anos, tem muitas semelhanças com o papel que vive na novela teen: Michael, um garoto que tem fortes relações como o universo feminino. Assim como na trama adolescente, Pedro adora usar salto alto e roupas consideradas de mulher. "Já me 'montei' algumas vezes. Há pessoas que estranham bastante, e me olham com cara de reprovação, mas eu já encarei a realidade que eu não agradarei a todos", diz em entrevista ao jornal Extra.

Em entrevista ao jornal Extra, o ator revela também que já sofreu preconceito na época da escola: "Já fiquei no meio de uma roda em que meninos me xingavam, já tive meus livros arrancados da minha mão e jogados no chão, seguido da frase 'eu vou te ensinar a ser homem', bem como já tive 'amigos' que se ofereceram para me ensinar a andar e falar como homem, porque para eles, tudo o que eu fazia, era muito 'mulherzinha'. E eu sou mesmo muito mulherzinha, bichinha, afeminado, viadinho. Tudo isso eu sou, e me orgulho".

O que há de semelhança entre o Michael e o Pedro?

Bastante coisa, somos muito parecidos. Assim como ele é muito bem resolvido com quem ele é, eu também sou. Temos mães muito parecidas também, que sempre apoiaram os filhos nas suas decisões, e as pessoas com quem nos relacionamos nunca foi uma questão contundente para uma boa relação familiar. Minha mãe, Célia, e a mãe do Michael, Beth (Gorete Milagres), são quase a mesma pessoa

É difícil interpretar o Michael?

É um personagem que eu tenho bastante ligação. Portanto, entender o personagem, como a cabeça dele funciona e encontrar as razões para as ações dele não é uma dificuldade. Muitas das vezes eu encontro mais dificuldades em como expressar isso da melhor forma possível para o público, afinal, é um personagem que muitas pessoas não entendem

. (Reprodução/Instagram @pedroviniciusmb)

Como está a repercussão nas ruas sobre o personagem?

Está interessante. Quando comecei com o Michael, por causa da exposição, eu confesso que tive muito medo de sofrer ataques homofóbicos pela internet e nas ruas. Sei que fazendo o Michael ou não, infelizmente, a LGBTfobia é uma violência que faz parte da minha realidade, assim como faz parte de tantas outras pessoas. Mas, por enquanto, nunca sofri algo nas ruas. E fico feliz que todas as vezes que me pararam foi para tirar fotos e receber elogios pelo personagem

Qual a importância da Malhação abordar o preconceito e a intolerância contra os gays?

É de extrema importância. E não só contra os gays, mas também contra toda a Comunidade LGBTQ+. Sabemos que "Malhação" é uma novela que dialoga não só com o público jovem, mas também com o público adulto, que, por vezes, procuram a novela para entender mais sobre a nossa juventude. Dessa forma, abordar o preconceito é uma maneira de fazer com que muitos pais e mães repensem a forma que lidam com um filho ou uma filha que é LGBTQ, por exemplo. Já há bastante intolerância nas ruas, por que haver também dentro do próprio lar?

Você já sofreu ou sofre muitos preconceitos?

Eu me sinto muito privilegiado por não ter passado por uma agressão física tão forte, uma vez que eu vivo num dos países que mais mata pessoas LGBTQ’s, estar vivo e poder falar sobre isso é um privilégio. Eu já sofri muito por causa das pessoas ao redor, principalmente na infância. Já fiquei no meio de uma roda em que meninos me xingavam, já tive meus livros arrancados da minha mão e jogados no chão, seguido da frase 'eu vou te ensinar a ser homem', bem como já tive “amigos”que se ofereceram para me ensinar a andar e falar como homem, porque para eles, tudo o que eu fazia, era muito “mulherzinha”. E eu sou mesmo muito mulherzinha, bichinha, afeminado, viadinho. Tudo isso eu sou, e me orgulho

Vi no seu Instagram outro dia você usando um salto alto. Você costuma usar roupas consideradas femininas? Como se sente?

Sim, eu costumo usar roupas. Eu me sinto muito à vontade, gosto muito do meu estilo, particularmente. Adoro usar salto alto, seja qual for a situação, desde trabalho até eventos mais formais. A minha regra para roupa é simples, se eu acho que ficou bem e eu me sinto confortável com ela, eu uso, afinal, roupa não tem gênero

. (Reprodução/Instagram @pedroviniciusmb)

E como é a reação do público em relação a você usar saltos?

Primeiro as pessoas elogiam o salto, daí depois elas olham para mim e falam “meu deus, é um cara!”. Isso realmente acontece, mas não é sempre assim. Há pessoas que estranham bastante, e me olham com cara de reprovação, mas eu já encarei a realidade que eu não agradarei a todos

Já se "montou" alguma vez ou teve vontade?

Sim, eu já me "montei" algumas vezes no período que estava no ensino médio. Foi uma catástrofe, eu usava uma peruca ondulada meio grisalha que ia até o meio das costas e fazia uma maquiagem escura, sem fazer uma pele antes. As roupas eram das minhas amigas que me emprestavam. Era muito divertido, e eu achava tudo isso um máximo, afinal eu estava descobrindo uma parte muito nova minha, e que hoje em dia eu não conseguiria viver sem de maneira alguma. Eu ainda tenho muita vontade de me montar, adoraria sair com as drag queens cariocas numa noite de miga

Como e com que idade você se descobriu e se assumiu gay?

Eu nunca gostei de rotular minha sexualidade, acredito que a sexualidade é fluida. Eu gosto de me relacionar com qualquer tipo de pessoa, independentemente de ser homem ou mulher, desde que eu me sinta atraído por elas e elas por mim. E eu sei que gostava de “pessoas”(e não necessariamente só de meninas ou só de meninos) desde os 10 anos, por aí. Eu tinha umas paixonites por meninas que estudavam comigo, mas também sentia muita atração por alguns meninos. E quando eu comecei a perceber isso, foi muito difícil porque eu não tinha com quem falar sobre, e conforme o tempo passava, aquela atração misturada com uma curiosidade ia aumentando e aumentando até que um dia eu tive a oportunidade de ficar com um menino. E eu tive a absoluta certeza que também gostava de ficar com meninos. Por medo das pessoas e do que elas podiam fazer comigo, eu guardei segredo por muito tempo. Mas sempre lidei muito naturalmente com isso dentro de mim. Hoje sou muito bem resolvido com isso

Qual foi a reação dos seus pais e como eles lidam com isso hoje?

Eu só tenho minha mãe. A história da minha mãe descobrindo que eu não sou hétero é bem engraçada. Eu acho, pelo menos. No final de 2015, eu tinha colocado na minha cabeça que não ia contar nada para minha mãe, mas que ia agir como eu sempre agi em casa e que isso não era um fator a ser conversado, já que eu sigo a seguinte lógica: "se as pessoas heterossexuais não precisam falar pros pais que são heterossexuais, porque eu tenho?”. E assim foi feito. Tinha um dia que eu estava em João Pessoa, de férias, e eu e minha mãe começamos a falar de como tinha sido o ano na Escola (que fica no Rio). Ela perguntou sobre professores, notas e os amigos, daí chegou uma hora que ela perguntou: “Mas e aí? Beijou muita menina?”, eu respondi que sim. E ela perguntou: “E menino? Também?”, aí eu respondi sim. Estávamos na cozinha, ela estava fazendo o almoço e eu sentado numa cadeira. Ela só parou e virou para mim: “O quê?”. E aí foi o resto das férias inteiras conversando com minha mãe, falando pra ela que tudo bem ser assim, e que eu sabia que não era uma fase e etc.. E ela me falando para ter cuidado, que ficava preocupada com as pessoas lá fora e tudo mais. Sempre tivemos uma relação incrível, e ela sempre me aceitou e me amou de qualquer jeito, a única coisa que ela sempre falou pra mim foi: “Seja honesto!”, e pronto

Você tem recebido muitas cantadas de gays nas redes sociais por causa do papel?

Tenho recebido muitas coisas por causa do papel (risos). Na verdade, eu não recebo tantas cantadas de caras gays, mas recebo muitas mensagens de caras gays falando sobre representatividade, elogiando meu trabalho e me agradecendo por estar ocupando esse lugar expondo minhas opiniões acerca do Movimento LGBTQ+. Claro que há pessoas em geral que mandam uma coisinha aqui e outra ali, mas em sua maioria são pessoas comentando sobre o trabalho

Já namorou alguma vez?

Eu tenho um relacionamento aberto há uns 2 anos e pouquinho. É meu primeiro relacionamento sério e é muito bom estar com alguém

. (Reprodução/Instagram @pedroviniciusmb)

Como foi parar em "Malhação"?

De 2015 até o ano passado, estudei na Escola SESC de Ensino Médio, uma escola-residência do Rio de Janeiro. Nessa escola, os alunos terceiranistas devem escolher algum setor para estagiar durante o ano, e eu havia escolhido trabalhar no Espaço Cultural Escola SESC. Em setembro estava acontecendo um evento, e nós, alunos, estávamos fazendo visitas guiadas para grupos de pessoas que queria saber mais sobre a Escola. A visita durou em torno de uma hora, e quando acabou, a nossa responsável falou que uma mulher queria falar comigo e com minha amiga, que também estava guiando aquele grupo. Quando fomos falar com essa mulher, ela se apresentou e disseque era Natália Grimberg e que ia dirigir a próxima temporada de Malhação. Ela nos convidou para fazer o teste e cá estou

Você disputou o papel com muita gente?

Muitas pessoas concorreram para os papéis de Malhação. Não sei quantas exatamente estavam competindo para o Michael no início dos testes, mas quando estávamos na reta final, eu e mais três fizeram o texto dele. Esse foi o meu primeiro e por enquanto único teste, então, tudo o que me acontecia eu encarava com uma dificuldade absurda, afinal, eu queria ir bem e conseguir o papel na novela. Que bom que deu certo

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Fonte: jornal Extra. 

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