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Caetano Veloso diz que Mr. Catra representava 'ethos das periferias'

Caetano Veloso diz que Mr. Catra representava 'ethos das periferias'

Baiano fez homenagem ao funkeiro carioca, morto neste domingo

Publicado em 10 de setembro de 2018 às 13:19

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Mr. Catra e Caetano Veloso. (Reprodução)

A morte de Mr. Catra, neste domingo, aos 49 anos, chocou fãs, admiradores e amigos. Muitos deles se manifestaram nas redes sociais, exaltando a importância do funkeiro carioca e o apoio dado por ele para suas respectivas carreiras.

Entre os admiradores, Caetano Veloso, que tornou-se amigo de Catra, publicou um texto no Facebook em que relata como conheceu o músico carioca, além de outros causos.

A publicação conta ainda com um vídeo em que a dupla canta uma versão de "Vaca profana" no programa "Bagulho doido", apresentado por Catra no Multishow em 2016.

"É um caso existencial que o Brasil deveria amadurecer para estudar. O povo e tantos de nós amadurecemos para amar. 32 filhos. Muita coisa para ser vivida em apenas 49 anos", concluiu Caetano no texto que pode ser lido abaixo, na íntegra:

"Quando, nos anos 90, o Orfeu de Cacá Diegues ficou pronto, fomos exibi-lo em Vigário Geral e no Vidigal. Em Vigário, houve um show em que eu cantava canções que compus para o filme e, representando o som de rap e funk das favelas que (para desgosto de Kenneth Maxwell) pontuava suas cenas, subiram ao palco MV Bill e Mr. Catra. Havia uma tela grande ao ar livre para projeção e um palco adjacente.

Quando eu fui anunciado, um número simpático de moradores se aproximou e pude ver algumas caras atentas entre os que me ouviam. Quando Bill foi anunciado, houve aplausos mais intensos e cresceu muito o número de espectadores frente ao palco. Mas a multidão se multiplicou e delirava ao grito do nome de Mr. Catra. Muita gente vinha dos barracos, gente que nem tinha se abalado para vir ver o filme. Fiquei fã de Bill, cuja música já conhecia, impressionado com sua beleza, elegância e integridade. E Catra, que eu desconhecia totalmente, me fascinou para sempre.

Fiquei amigo tanto de Bill quanto de Catra. Com Bill tenho tido mais colaboração e parceria. Mas Catra foi uma série de surpreendentes revelações. Sua voz, suas conversas, suas histórias, sua vida, sua obra.

Em Vigário Geral ouvi coisas que vieram a ser conhecidas como funk proibidão. Depois ouvi de Catra autobiografia em que ele, criado por família branca de classe média, resolveu, adulto, ir viver na favela.

Mais tarde, fui vê-lo cantar no Paris Café, no Recreio dos Bandeirantes, canções religiosas hebraicas sobre base eletrônica, entre damas da noite de salto alto e sem roupa. Seu amor por Israel era imenso. Sua visão da história era ousada e problematizada pessoalmente ("negros é que escravizaram negros e os venderam na costa"; "não precisamos de cotas mas de reencontrar a nobreza negra"; "não vou votar em ninguém em 2018: do jeito que tá hoje, me arrependo de ter lutado pela redemocratização").

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Teve vida poligâmica organizada. Ele representava coisas essenciais do ethos das periferias urbanas brasileiras. E era um cara alto astral, que sabia gostar de viver. É um caso existencial que o Brasil deveria amadurecer para estudar. O povo e tantos de nós amadurecemos para amar. 32 filhos. Muita coisa para ser vivida em apenas 49 anos".

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