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Mulheres conquistam espaço na cozinha profissional

Mulheres conquistam espaço na cozinha profissional

No Dia Internacional da Mulher, reunimos histórias de quem faz e acontece na profissão

Publicado em 7 de março de 2019 às 22:22

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Por décadas e décadas, o pensamento retrógrado de que “lugar de mulher é na cozinha” ressoou por aí e, como todo estereótipo de gênero, teve seus impactos na sociedade. Mas, seguindo essa lógica, por que então os homens sempre ocuparam as posições de destaque na gastronomia nacional e mundial?

Para citar um exemplo relevante, a chef carioca Roberta Sudbrack, quando foi eleita a melhor chef mulher da América Latina pelo 50 Best da revista inglesa “Restaurant” há alguns anos, fez questão de lembrar o quanto a cozinha é machista, refletindo as questões sociais que vivemos.

À época, há pouco menos de cinco anos, Sudbrack lembrou que, quando a mulher resolve ocupar, literalmente, um espaço na cozinha profissional, é questionada por conta “da pressão”, “do cansaço”, “do calor”, “do ambiente desafiador”.

Fenômeno na TV nos últimos anos (e também questionado por chefs profissionais por conta da “glamourização” da gastronomia), o “Masterchef” é outro exemplo. O programa de entretenimento reuniu, em diferentes edições, situações em que homens depreciaram o trabalho de companheiras de reality. A chef Paola Carosella, uma das juradas, é inclusive conhecida por suas posições fortes e por sempre rebater comentários machistas.

Aproveitando o ensejo do Dia Internacional da Mulher, lembrado neste 8 de março, o Prazer&Cia decidiu reunir histórias de três mulheres que fazem e acontecem na cozinha: Mônica Pimentel, comandante do Bendito Bistrô; Vanessa Bonfim, do Bar do Nininho e da Vanessa; e Cleuza Costa, à frente da equipe do Della Bistrô. Dividir um pedaço da trajetória de cada uma é também uma forma de fazer uma homenagem a cada chef, cozinheira, confeiteira e mais.

Empreendedora

Há exatos seis anos no comando do Bendito Bistrô, a história da chef Mônica Pimentel na cozinha começou ainda na juventude. Dos 54 anos vividos, cerca de 35 envolvem fogões, salões, bancadas e utensílios culinários em geral.

Mônica esteve à frente do Mão na Massa, famoso na Praia do Canto na década de 1990. Nos anos 2000, mudou-se para os Estados Unidos, onde permaneceu por 12 anos e chegou a trabalhar com renomados mestres-cucas em Boston.

“Eu sempre tive um espírito empreendedor e gosto de cozinhar desde quando nem existia curso de gastronomia no Estado. Quando era novinha, fazia salgado para vender... Até que fui trabalhar como garçonete aos 19 anos no restaurante de uma amiga e, depois de um tempo, a missão de administrá-lo sobrou para mim”, conta.

A chef ressalta que sempre tentou impor respeito e identidade própria em sua atividade profissional, mas que ainda assim enfrentou percalços pelo caminho.

“Nos Estados Unidos também cheguei a sofrer com cozinhas inteiras comandadas por homens. Hoje em dia, as pessoas me respeitam muito, inclusive na minha família, porque sempre trabalhei bastante por isso. Acho que a mulher está crescendo cada vez mais, mas também não questiono tanto isso mais, porque é cansativo”, conclui.

Comando no bar

É com orgulho, pura disposição e um sorriso largo no rosto que Vanessa Bonfim, 42, dita as regras e coloca a mão na massa diariamente no Bar do Nininho e da Vanessa. A história começou dentro do Vitória Futebol Clube, em Bento Ferreira, onde o casal administrava o bar. Diante da oportunidade de explorar um ponto fora do clube, Vanessa não pensou duas vezes e arregaçou as mangas.

“Quando conheci o Nininho, fui ajudar no bar e pensava ‘preciso melhorar o movimento disso, vou colocar meu tempero aqui!’. Assim comecei a preparar galinha caipira, dobradinha, rabada no feijão manteiga... e tudo isso caiu no gosto da clientela”, detalha a mestre-cuca, que organizou uma programação para hoje no bar, com música ao vivo e promoção de drinques, além do peito de boi no feijão branco, especial do dia.

O tal tempero mistura os ingredientes capixabas ao jogo de cintura da baiana criada em Porto Seguro. “Eu aprendi a fazer as coisas muito cedo para ajudar minha mãe. Desde que ela me ensinou, peguei gosto pela cozinha”.

Para Vanessa, que se esforça diariamente no preparo das mais diversas comidas de botequim, a maior lição da cozinha surge dos erros e da humildade em reconhecê-los.

“Vejo meus erros todos os dias. Tem quem se ache perfeito, mas eu penso que continuo aprendendo. Hoje, o reconhecimento do público é muito gratificante, porque vejo que colho frutos do meu trabalho. Aprendi a comandar, a ser forte, a ter mais disposição. Na verdade, eu vejo que em alguns dias a gente não tem muita opção: é ser forte ou ser forte. E assim a gente segue!”, afirma.

Força

O lema “ser forte ou ser forte” também se aplica ao dia a dia de Cleuza Costa, chef e sócia do Della Bistrô, que tem equipe inteira formada por mulheres – das seguranças à barmaid (responsável pelos drinques). Cleuza começou na cozinha há exatos 15 anos, ainda aos 25, quando já tinha dois filhos pequenos para dar conta.

“Meu contexto já me fez ser forte. Quando cheguei na gastronomia, lidei com um mundo novo, mas também dominado por homens, então também tive que aprender a me impor”, conta.

O ambiente de calor, pressão e pedidos a mil por hora nunca assustou a chef, que costuma dizer que em sua cozinha pode tudo, “menos mau humor!”.

Cleuza destaca que até alguns anos atrás, a posição de prestígio na gastronomia era reservada ao homem, que carregava consigo o status de “cozinhar por prazer, por esporte”, enquanto a mulher ainda carregava mais o estereótipo de ser obrigada a saber cozinhar.

“Mas isso nunca me fez querer desistir. Quando entendemos a química da cozinha, vemos o prato chegando à mesa, as coisas funcionando... isso é alucinante! Sem hipocrisia alguma, trabalho até 1h e levanto feliz para ir à feira às 6h”, derrete-se.

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Para a chef, atuar nos “bastidores” de um restaurante ainda antes dos 30 contribuiu – e muito – para seu crescimento e fortalecimento como mulher. “Eu digo que não queremos tomar o lugar do homem, mas sim conquistar o nosso. Conseguimos administrar mil coisas com destreza. Naquele ambiente, deixamos a vaidade de lado e ficamos cada vez mais fortes”, encerra.

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