ES Amador: em busca de profissionalismo, clubes tentam recomeçar


Copa Brasil: Álvares dá o primeiro passo para reerguer o futsal

Na última década, o futsal capixaba entrou em declínio. Nos principais clubes do Espírito Santo a modalidade estagnou. Com 115 anos de história, o Álvares Cabral parou de disputar o campeonato estadual adulto da modalidade em 2009. Também centenário, o Saldanha da Gama abandonou as competições no ano seguinte. Cabralistas e alvirrubros viram novas equipes amadoras surgirem e o caminho da profissionalização do esporte se distanciar. Agora, no entanto, tentam se reerguer e enxergam no surgimento de uma nova competição nacional - a Copa Brasil de Futsal -, a chance de alavancar a modalidade no Estado.

Já classificado para as quarta de final da Copa Brasil, o Álvares Cabral é o único representante capixaba na competição. Em sua primeira edição, o campeonato conta com 24 clubes de 21 estados. Com projeto para restaurar a modalidade no clube e de volta as competições estaduais depois de sete anos, o Álvares foi o único time capixaba que aceitou o convite da federação para disputar a competição.

Time do Álvares Cabral está nas quartas de final da Copa Brasil de futsal
Time do Álvares Cabral está nas quartas de final da Copa Brasil de futsal
Foto: Álvares Cabral/Divulgação

"Oferecemos convites para todas as equipes. O Álvares foi o único que abraçou a ideia. Faltam quatro jogos até a final e o time tem totais condições de sair campeão da competição. É mais uma prova de que material humano não nos falta, o que falta é apoio financeiro", diz Arnold Cordeiro, presidente da Federação Espírito-santense de Futebol de Salão.

Para Erich Bonfim, treinador da equipe, chegar a final da Copa Brasil é um sonho possível, mesmo dentro das limitações do time. "Aqui nenhum jogador vive só de futsal, todos trabalham e treinam a noite. Dentro do contexto amador que a gente vive, estamos dando o nosso melhor e temos pelo menos 50% de chance de estar na final. A competição caiu como uma luva para dar uma alavancada no futsal do Estado. A gente não sabe qual o futuro do Álvares Cabral, mas queremos deixar nosso nome gravado na história do clube".

A boa campanha do time de futsal tem ajudado o clube a conseguir novos patrocinadores. A decisão de voltar a dar atenção as modalidades esportivas também já fez o número de sócios aumentar. Animado, Fernando Bissoli, presidente do Álvares, já projeta o crescimento do clube nos próximos anos.

Técnico Erich Bomfim comanda o Álvares na competição nacional
Técnico Erich Bomfim comanda o Álvares na competição nacional
Foto: Álvares Cabral/Divulgação

"Levando a garotada para treinar, os pais passam a ser sócios do clube. Assim conseguimos ampliar os esportes e ter mais associados. Em menos de dois anos, a gente teve um aumento de 25% de associados. A ideia é profissionalizar o clube. Começamos pela parte jurídica e contábil, o próximo passo são os times. Aproveitamos a chance que nos foi dada com o futsal, juntamos os melhores do Estado, mesclamos veteranos com a garotada, e tem dado certo. No começo da competição nacional a gente pediu patrocínio, mas agora com os resultados vindo já tem empresa procurando o clube", conta.

O projeto de reestruturação das modalidades esportivas no Álvares passa por três pilares: natação - onde os cabralistas têm parceria com o Fluminense -, remo - primeiro esporte a passar por mudanças -, e futsal.

"O remo vinha de noves anos sem vitórias. Trouxemos remadores da Argentina e do Rio Grande no Norte e fomos campeões estaduais ano passado. Mas isso só foi possível com muita força de vontade e patrocínio da praticagem, que apoia o remo com R$ 5 mil por mês. Com o remo fechamos agora um intercâmbio de dois anos com o Flamengo, que começa a valer em julho. Mas o objetivo é manter os atletas aqui. A gente manda muito remador e nadador para fora, isso tem que mudar. Vemos boas possibilidades também com basquete e vôlei, e vamos iniciar o tiro com arco", comenta.

A medida que os patrocínios vão chegando, a gente vai ampliando. O clube sozinho não consegue, mas temos um planejamento profissional para o esporte voltar a crescer nos próximos três anos
Fernando Bissoli, presidente do Álvares Cabral

Até 2011, o time masculino do Álvares disputou a Liga nacional de vôlei. Hoje o clube tem equipe adulta da modalidade, mas a exemplo do basquete, os atletas não são remunerados. Para o futuro, o desejo é mudar essa realidade.

"Alguns remadores e alguns jogadores de futsal tem recebido uma pequena ajuda de custo (de R$ 200 a R$ 500). Não é nada exagerado, mas já serve para gente começar a mostrar seriedade com o trabalho. A situação financeira atual não permite que jogadores de basquete e vôlei recebam, mas a gente tem trabalhado para mudar isso. Esses dias fechei um patrocínio de R$ 20 mil mensais para dividir entre todos os esportes adultos. A medida que os patrocínios vão chegando, a gente vai ampliando. O clube sozinho não consegue, mas temos um planejamento profissional para o esporte voltar a crescer nos próximos três anos. O Estado está bem abaixo nos esportes, mas a gente quer mudar isso", conclui.

ES Amador: em busca de profissionalismo, clubes tentam recomeçar


Primeiro e único título nacional de futsal foi conquistado há 25 anos

Em 1991, Saldanha derrotou os paulistas da General Motors por 5 a 4 e foi campeão brasileiro juvenil da modalidade

Se hoje o Álvares briga pela conquista de um título nacional, no passado o rival Saldanha foi o primeiro - e único -, clube capixaba a erguer a taça de campeão brasileiro de futsal. Em 1991, o time juvenil do alvirrubro derrotava a poderosa equipe da General Motors, de São Paulo, por 5 a 4, e surpreendia o país ao conquistar o título da principal competição nacional de futebol de salão.

A equipe daquele ano era comandada pelo técnico Toninho Marins, e contou com reforços do Álvares Cabral, entre eles o goleiro Pierre. O time titular tinha ainda Marcelo Dedão, Rochinha, Raphael Caliman e Silvinho. Pierre lembra bem daquela partida decisiva em Pelotas (RS), no dia 13 de julho, um sábado, véspera do seu aniversário de 17 anos.

"Faltando dois segundos para o fim do jogo, com o placar em 5 a 4, eles desperdiçaram o empate na cara do gol. O cara chutou e a bola foi para fora, passou um centímetro acima da trave. Lembro que antes do jogo eu cheguei a tirar foto das medalhas de ouro porque queria uma lembrança daquele dia, e não imaginava que a gente seria campeão. O Espírito Santo era tido como o grande azarão do torneio. Era um time completamente amador, que jogou a final sem o seu capitão e principal jogador (Silvinho). O Pandino, substituto dele, mal tinha entrado em outros jogos e fez três gols na final. Lembro dos caras da General Motors putos, porque tinham prometido um chevette para os jogadores mais velhos. Nosso prêmio pelo título foi uma pizza no final do jogo", conta.

Emprestado pelo Álvares, Pierre Almeida foi o goleiro do Saldanha na conquista do título nacional de 1991
Emprestado pelo Álvares, Pierre Almeida foi o goleiro do Saldanha na conquista do título nacional de 1991
Foto: Reprodução/Facebook

O jornal A Gazeta da época, em matéria sobre a conquista, destaca as dificuldades que o clube precisou superar para ser campeão: "Sem patrocinadores e verba em seu departamento de futebol de salão, os dirigentes tiveram que arcar com a maioria dos custos de transporte e alimentação dos atletas, que abriram mão de salários ou ajuda de custo".

A Copa do Brasil é um caminho para gente recomeçar
Pierre Almeida, ex-goleiro de futsal

Para Pierre, como no passado, é possível superar os desafios, voltar a vencer uma competição nacional e reerguer a modalidade no Estado. "A Copa do Brasil é um caminho para gente recomeçar. Ao longo desses anos houve uma defasagem técnica do Espírito Santo com relação aos times do Sul e de São Paulo, e por isso é possível que nas primeiras competições mais fortes a gente saia perdendo, mas isso faz parte do crescimento. É preciso organização dos clubes e pessoas competentes no comando do esporte. É passo a passo, não tem fórmula mágica", opina.

ES Amador: em busca de profissionalismo, clubes tentam recomeçar


Do NBB ao amadorismo: Copa ES tenta manter basquete capixaba vivo

Luiz Felipe, Marcio Azevedo e Luiz Felipe Filho voltaram ao ginásio do Ded, palco do jogo 1 do NBB
Luiz Felipe, Marcio Azevedo e Luiz Felipe Filho voltaram ao ginásio do Ded, palco do jogo 1 do NBB

No próximo dia 24, Álvares Cabral e Saldanha da Gama disputam a final da Copa Espírito Santo de basquete. Os dois clubes mais tradicionais do Estado voltam a decidir uma competição local da modalidade depois de quase 20 anos - a última final entre os times foi na década 1990 -, e vão brigar pelo título no histórico ginásio do Ded, em Vitória. Foi lá, em 28 de janeiro de 2009, que a bola subiu pela primeira vez no Novo Basquete Brasil (NBB).

Embora presente na história da liga nacional de basquete, como palco do primeiro jogo da história do torneio - Cetaf 77 x 56 Araraquara (SP) -, a modalidade viveu anos de abandono e esquecimento no Estado. Com o Estadual parado desde 2012, e fora do NBB desde a temporada 2013/2014, o basquete capixaba regrediu, voltou ao amadorismo e agora busca se reerguer.

Técnico do Cetaf nas duas primeiras temporadas do NBB, Luiz Felipe Azevedo, hoje secretário de Cultura e Esportes de Vila Velha, lembra com saudade dos anos de ouro" do basquete capixaba.

"Por um período nós conseguimos que o sonho se concretizasse. O Estado viveu um período fantástico na época do NBB, os jogos aqui eram sempre lotados, com grande visibilidade. Quando iniciamos o projeto, tínhamos além do basquete, o futsal, o handebol e o vôlei fortes. No transcorrer desse período, infelizmente, nós fomos perdendo toda a ativação nacional. Todas a modalidades ruíram", relembra ele, que é completado por Marcio Azevedo, ex-jogador e ex-técnico do Cetaf.

"Tem várias empresas que atuam aqui, mas investem fora do Estado. Nós temos atletas em todas as principais ligas profissionais do mundo, inclusive a NBA. Mas para que um garoto consiga fazer isso, ele precisa ir embora do Estado. Ele não consegue ter um opção de alto rendimento aqui. E por isso, a gente fica sempre torcendo para times de fora. Não temos uma identidade esportiva de rendimento", diz o ex-ala armador.

Não temos uma identidade esportiva de rendimento
Marcio Azevedo, ex-jogador e técnico do Cetaf

Ainda muito longe de voltar ao patamar das competições nacionais, a Copa ES surge como alternativa para movimentar a cena local. Embora amadora, a competição, criada em 2015, tem deixado os amantes de basquete animados.

"É importante para alavancar o basquete aqui. Ficou muito caro disputar o nacional, e outros estados já tem campeonato amador forte. Nosso esporte só tinha a base, a Copa ES conseguiu dar uma movimentada. É legal uma final com equipes tradicionais, o ginásio fica cheio, o clima do jogo é outro. Seria bacana se outras equipes antigas como Cetaf e Ítalo também voltassem. É tentar patrocinador para voltar com o Estadual e ter mais competições", opina Dagoberto Furtado, técnico do Saldanha.

A Federação capixaba de Basquetebol (Fecaba) diz que o Estadual parou por que as equipes pararam de investir. Mas a promessa do atual presidente, Carlos Carvalho, é de que a competição volte a acontecer em breve. "Ano passado tentei fazer um Estadual aberto com clubes e times universitários e me surpreendi com a falta de interesse, vi que muitos não tinham mais time. Estamos estudando fazer um Estadual em outubro, vamos ver se agora a gente consegue".

Mesmo com o Estadual parado, há quem já vislumbre disputar competições nacionais. É o caso do Álvares Cabral, que nunca participou de uma edição de NBB e disputou a Copa ES pela primeira vez em 2017.

Álvares e Saldanha estão na final da Copa ES de basquete
Álvares e Saldanha estão na final da Copa ES de basquete
Foto: Divulgação/Leo Silveira

"Inicialmente nosso projeto não era o adulto, era o sub-22, para disputar a Liga de Desenvolvimento do NBB. Mas aí resolvemos arriscar a Copa ES, o time foi dando liga e chegamos na final. Para início está bom, resgatou o esporte. Duas pessoas já procuraram o presidente com interesse de patrocinar o clube para que a gente possa entrar na Liga de Desenvolvimento. Vamos tentar dar esse passo mais alto no ano que vem. Mas a estrutura precisa melhorar, a equipe precisa ser profissional, é preciso contratar jogadores, tem que ter comissão técnica, médico, fisioterapeuta. O passo foi dado, mas ir além exige muito dinheiro e apoio da iniciativa privada", afirma Mug, técnico do Álvares.

Para participar do NBB hoje é preciso R$ 2 milhões. As equipes que chegam aos playoffs giram em torno de R$ 3,5 milhões
Luiz Felipe Azevedo, ex-técnico do Cetaf

De fato, ter um time no NBB envolve muito dinheiro. Ex-técnico do Cetef, Luiz Felipe faz as contas e garante: só com apoio de Governo e Prefeitura é impossível.

"Para participar do NBB hoje é preciso R$ 2 milhões. As equipes que chegam aos playoffs giram em torno de R$ 3,5 milhões. As equipes campeãs, como Franca e Flamengo, em torno de R$ 6 milhões. O empresário precisa entender que para fazer esporte de alto rendimento é preciso investimento. Se houver desejo por parte da iniciativa privada, os órgãos públicos vão voltar a ajudar também", justifica ele, que é completado pelo filho, ex-jogador e hoje gestor do Instituto Viva Vida, projeto social do Cetaf.

"Mais do que um Estado que participou da liga, o Espírito Santo é um fundador do NBB. O respeito permanece. O que precisa é gerar condições financeiras e estruturais que tornem viável essa participação de novo. O Estado precisa mudar de patamar", conclui Luiz Felipe Azevedo Filho.

ES Amador: em busca de profissionalismo, clubes tentam recomeçar


Primeiro clube de Anderson Varejão, Saldanha sobrevive com o remo

Anderson Varejão nos tempos de Saldanha
Anderson Varejão nos tempos de Saldanha
Foto: Reprodução/Facebook

Único capixaba na NBA, Anderson Varejão deu os primeiros arremessos no Saldanha. Hoje, no entanto, o clube alvirrubro vive uma crise financeira e luta para manter as contas em dia. Atual campeão da Copa ES de basquete, o time tem de estudantes a vendedores no elenco. A equipe feminina, finalista esse ano, conta as irmãs de Varejão, Sara e Simone. Ninguém, no entanto, recebe qualquer salário ou ajuda de custo.

No vôlei a realidade se repete: o time adulto até existe, mas também de forma amadora. No futsal, que já teve seus anos de glória, a situação é ainda pior: há mais de um ano o alvirrubro não tem time da modalidade. Apenas no remo, onde na última década o clube conquistou nove títulos estaduais, a competitividade permanece.

Como o irmão, Simone e Sara Varejão hoje jogam pelo Saldanha
Como o irmão, Simone e Sara Varejão hoje jogam pelo Saldanha
Foto: Guilherme Ferrari

"O Saldanha é grande campeão de futebol de salão, mas há mais de um ano acabei com a modalidade no clube. O padrão da quadra mudou, hoje é muito maior. Nossa quadra é pequena, não dá mais para jogar lá, e não temos dinheiro para fazer uma quadra nova. Tenho paixão pelo remo, invisto na modalidade de forma pessoal. Não pago salário para remador, mas ajudo com passagem, pago uma faculdade, uma ajuda de custo para o atleta que precisa. O remo do Saldanha é respeitado no Brasil inteiro. Segurando o remo, eu seguro o clube", argumenta o presidente Lauro Sarué.

Quem se destaca vai embora e não se importa com o clube. Por isso, pagar atleta está fora de cogitação
Lauro Sarué, presidente do Saldanha

Pagar atleta está fora dos planos do Saldanha até mesmo para o futuro. Sem esconder o desapontamento, o presidente não enxerga mudanças para os próximos anos e diz que a tendência é tudo se manter como está.

"A prioridade dos últimos anos tem sido sanar as dívidas. Já foram pagos R$ 80 mil a escelsa, R$ 69 mil de indenização a jogador, fora INSS, advogado e contador do clube que estavam em atraso. Hoje o clube não deve nada a ninguém, mas não tem dinheiro para contratar atleta. Se não arranjar patrocínio, a tendencia é manter do jeito que está. Porque se o atleta se destacar, ele dá uma banana para o clube e vai para fora do Estado. Nada disso interessa. Anderson Varejão, Sandro varejão, Luiz Felipe, quem se destaca vai embora e não se importa com o clube. Por isso, pagar atleta está fora de cogitação. É triste demais a situação que nos encontramos hoje, mas não vejo saída", finaliza.