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Xô, preconceito! Time 'Capixabas' disputa a Copa Sudeste de Futebol Gay

Xô, preconceito! Time "Capixabas" disputa a Copa Sudeste de Futebol Gay

Com expectativa de 160 inscritos, a competição inédita no Estado acontece neste sábado, em Vila Velha

Publicado em 28 de setembro de 2018 às 21:00

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especial

Futebol capixaba e agenda LGBT. Dificilmente esses dois assuntos aparecem juntos em uma mesma frase. E, mais do que isso: no Espírito Santo, eles nunca estiveram tão próximos. A combinação – que ainda pode soar inusitada para muita gente – acontece graças à 1ª Copa Sudeste de Futebol LGBTI+, que acontece neste sábado (29), a partir das 10h, em Vila Velha.

A iniciativa, inédita por aqui, foi idealizada por Robert Simoni, que buscou inspiração em outras competições do tipo que já acontecem em vários estados brasileiros. “Eu tive a ideia lá por maio, depois de ter criado o time daqui. Pensei: ‘Agora que tem time em todos os estados, dá pra fazer um campeonato do Sudeste’”, contou um dos fundadores do Capixabas.

No aguardo dos mais de 160 inscritos – entre jogadores, comissões técnicas e acompanhantes –, os donos da casa prometem uma entrada triunfal. “A nossa música ainda está em segredo, mas serão três team leaders coreografados na frente, e nós com a bandeira do time atrás”, revelou Diogo Café, um dos 16 capixabas convocados para a Copa.

O time gay "Capixabas" com os jogadores posados. (Fernando Madeira)

Com duração de apenas um dia, os oito times participantes serão divididos em dois grupos de quatro times. Na fase inicial, todos se enfrentarão, em um total de seis jogos por chave, com duração de 20 minutos cada partida. Os dois melhores de cada grupo se classificam para a disputa das semifinais e final, que terá dez minutos a mais de bola rolando por jogo.

Participando de um torneio pela primeira vez, o Capixabas intensificou a rotina de treinos. “A gente tem um técnico que a cada 15 dias auxilia a gente em tudo. Em geral, temos um treino por semana. Porém, agora, próximo da Copa, a gente intensificou e fizemos dois por semana”, disse Diogo. O último treino, realizado na quinta-feira (27), serviu para definir, principalmente, jogadas e marcações específicas para a busca do troféu, que será entregue ao primeiro colocado.

Os treinos da equipe, uma vez por semana, são pesados. (Fernando Madeira)

A estrutura e a preparação podem dar a impressão de que a seleção para entrar no time é rigorosa, mas os jogadores garantem o contrário. “Só tem que ser gay!”, taxou Diogo entre gargalhadas. No mesmo caminho, Robert afirmou: “Pra gente não importa se é alto, baixo, gordo ou magro. Hábil ou que não sabe jogar. Todos são bem-vindos no time”.

Outro consenso entre eles é a grande expectativa para a competição. “Já tem quase uma semana que não durmo direito (risos). A gente fica até no grupo conversando. A ansiedade tá a mil”, contou Junior, um dos jogadores do Capixabas. Às vésperas da 1ª Copa Sudeste de Futebol LGBTI+, só falta uma coisa, de acordo com Diogo: acontecer.

Eles querem dar 'xô' ao preconceito

Ao lado de Tiago Pinheiro, Robert Simoni criou O Capixabas em março deste ano. A motivação para criar a equipe e um campeonato passa, lógico, pelo desejo de jogar bola. No entanto, essa não foi a principal razão.

A bola vai rolar neste fim de semana para o "Capixabas". (Fernando Madeira)

“A primeira necessidade foi essa: quebra de preconceito. De que o futebol é direcionado apenas para um grupo, especificamente aos homens héteros. Queremos mostrar que quem quiser pode jogar”, contou Robert. “Eu já jogava futebol com os amigos e vi que começaram a ser montados os times de futebol LGBT no país inteiro. Então, eu quis montar um pra mim e o Tiago também estava montando. Aí resolvemos nos juntar. É o único time LGBT do Espírito Santo.”

Segundo ele, o povo LGBT, unido em torno do futebol, levanta a bandeira da inclusão e da aceitação social. A união, aliás, foi essencial para que a ideia saísse do papel: cada integrante do Capixabas ficou responsável por uma parte da organização da Copa Sudeste, que contará com a presença de mais sete times, todos de fora do Espírito Santo.

Os nomes? Unicórns, Futboys e Bulls de São Paulo; Beescats do Rio de Janeiro; e Alcateia, Manotauros e BHarbichas de Minas Gerais. Destoante da maioria deles, o neutro ‘Capixabas’, decidido por enquete, tem um porquê: facilitar, no futuro, a negociação com possíveis patrocinadores e apoiadores. A decisão, no entanto, divide opiniões.

“Lá no começo ia ser ‘Cabixabas’, mas aí a gente optou por não ser. Até por medo de piadas”, admitiu Junior Fraisleben, que está na equipe desde o primeiro treino. “A gente tem sofrido um preconceito de dentro do próprio meio por dizerem que a gente é um time padrão, que não tem travesti. Mas não podemos obrigar ninguém a jogar com a gente”, disse.

Heyd é jogador do Capixabas. (Fernando Madeira)

Se há preconceito entre quem pertence ao movimento LGBT, imagine fora dele. “O meio do futebol é muito preconceituoso. Eu sei disso porque já joguei no meio de héteros e a gente não podia falar pra ninguém que a gente era gay, porque as piadas e as brincadeirinhas de mal gosto sempre surgiam”, contou Junior, que, desde que havia assumido a homossexualidade, tinha parado de jogar. “Eu tinha medo de alguma turma descobrir e eu ser excluído do time. Fiquei uns cinco anos sem jogar. Voltei só agora com o Capixabas”, completou.

A realidade dessas minorias parece ser ainda mais dura para quem vive no Espírito Santo. “Eu posso dizer isso porque morei no Rio durante cinco anos e era outra cabeça. Com certeza, por aqui o pessoal é mais cabeça fechada em relação a isso”, comparou Junior. “Vitória é muito menos desenvolvida economicamente e historicamente do que as outras capitais do Sudeste. Acho que isso também faz com que as pessoas demorem mais a entender as coisas”, concluiu.

 A autora é residente em jornalismo. Texto sob supervisão de Filipe Souza

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