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Ainda cheio de mistérios: conheça o mundo dos empresários de futebol

Ainda cheio de mistérios: conheça o mundo dos empresários de futebol

Longe dos holofotes, eles são figura importante no futebol. A profissão tem várias facetas e costuma ser bastante lucrativa

Publicado em 21 de outubro de 2018 às 21:04

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Um mundo ainda rodeado de mistérios e estereótipos: eles pouco aparecem, mas sempre estão por trás das negociações de jogadores de futebol com os clubes, desde as pequenas até as que têm muitos milhões envolvidos. Mesmo longe dos holofotes, os empresários são protagonistas no vai e vem no mercado da bola. 

O empresário, também conhecido como agente ou intermediário, é o profissional que pode cuidar da carreira do jogador de futebol. Alguns fazem basicamente a negociação do atleta com um clube, enquanto outros, além desse papel, ainda prestam assessoria jurídica, de imprensa, negociam com patrocinadores, ou seja, fazem toda a gestão de carreira profissional.

“A palavra ‘empresário’ é bem ampla, engloba muitas funções. No meu caso, eu negocio, gerencio a carreira do atleta, faço todo esse trabalho. Atualmente eu cuido da carreira de oito jogadores e outros eu só negocio, não fico vinculado. Hoje o mercado está com muitos jogadores, recebo de 40 a 60 currículos por mês” explicou Hamilton Bernard, empresário de jogadores como os atacantes Pedro Rocha, do Spartak Moscou, da Rússia, e Neílton, do Vitória-BA.

O empresário Hamilton Bernard. (Acervo pessoal)

Para se tornar um intermediário credenciado à CBF, o empresário tem que se cadastrar no site da Confederação, apresentar certidões negativas e pagar uma taxa. A lista de todos os intermediários cadastrados está no site oficial da entidade, que também oferece cursos regularmente para os profissionais. O clube ou o jogador que fizer negócio com o empresário não credenciado pode ser punido.

E como funciona a remuneração dos empresários? Varia. Na maioria dos casos eles cobram 10% em cima do valor do contrato de trabalho do jogador. A quantia pode ser recebida anualmente ou mensalmente do atleta ou até mesmo diretamente do clube. Hamilton, que está no ramo do futebol há 23 anos, trabalha de uma forma um pouco diferente. Se o jogador recebe menos de R$ 40 mil, Hamilton não cobra nada pelo serviço.

Aspas de citação

Enquanto eu não conseguir um clube, eu não cobro pelo meu serviço. E se o jogador ganha menos de R$ 40 mil, eu não cobro também, abro mão. Ele está fazendo a vida dele, se ajeitando, então não precisa ter que dar dinheiro para empresário. O Pedro Rocha ficou quatro anos comigo e não me pagava um centavo

Hamilton Bernard - empresário
Aspas de citação

Em muitos casos, os empresários também acabam se aproximando dos clientes e dão início a uma grande amizade. Hamilton, por exemplo, é o padrinho da filha de Pedro Rocha e recentemente foi às compras com a esposa do atacante para fazer o enxoval do bebê, que está prestes a nascer.

O empresário Hamilton Bernard em passeio com o atacante Pedro Rocha. (Acervo pessoal)

“O empresário deveria cuidar só da parte do futebol, mas acaba virando amigo e cuidando dos problemas da família do jogador, então a mãe do atleta pede opinião, você ajuda a comprar casa, carro…”, revelou.

Experiência como ex-jogador faz diferença

Por conhecerem de perto as glórias e decepções de uma vida inteira com a bola nos pés, muitos ex-jogadores decidem seguir a carreira de empresário. É uma forma de manter uma boa condição financeira e, principalmente, de passar o conhecimento do mundo do futebol aos novos talentos que surgem Brasil afora.

O ex-zagueiro Fernando Santos é gestor de carreiras. (Acervo pessoal)

O ex-zagueiro Fernando Santos, que já vestiu a camisa de times como Flamengo e Vasco, atua há dois anos como gestor de carreiras. Entre os seus atletas está o zagueiro Igor Rabello, do Botafogo.

Aspas de citação

Eu vim para suprir algo que eu achava deficitário nos agentes Fifa (termo da época) quando eu era atleta

Fernando Santos - gestor de carreiras
Aspas de citação

Mais do que tocar a carreira junto com o jogador, Fernando quer ajudar, aconselhar. “Mostro o melhor investimento, apresento bons profissionais. Já errei muito e quero ajudar. Fui um profissional de sucesso, então os jogadores me ouvem, me veem como uma referência. Quero ver o jogador feliz, bem dentro de campo, com o dinheiro dele rendendo. Se ele não performar, não tem empresário que faça milagre. Quem se vende bem e se coloca no mercado é o próprio atleta”.

Em um mercado abarrotado de jogadores, Fernando segue alguns critérios para avaliar possíveis atletas a serem agenciados por ele. Um dos principais é o clube onde o jogador fez as categorias de base. “É difícil um jogador evoluir tecnicamente se ele não teve uma base bem feita, em um clube com tradição de formar atleta. O caráter também é muito importante, porque os clubes estão cada vez mais profissionais, além do histórico de clubes e lesões. Tenho que errar o mínimo possível, porque se o atleta não se encaixar e causar problemas, o clube vai pensar duas vezes antes de fechar um negócio com você novamente”.

Já o empresário Hamilton Bernard acrescenta outros pontos muito importantes que chamam a atenção dele em um jogador. "O currículo é o mais importante: clubes que passou, se está em um clube grande, títulos que conquistou. Eu só trabalho com jogadores que atuam do meio para a frente. De 10 clubes que me procuram, oito querem atacantes e dois procuram outras posições".

E esse contato entre intermediário e atleta é uma via de mão dupla. Um empresário pode procurar o jogador ou vice-versa, mas ter bons contatos no meio do futebol também é essencial para negócios de sucesso.

Entenda a profissão

Função

O empresário tem como função principal intermediar negociações entre clubes e jogadores de futebol. Alguns gerenciam a carreira profissional do atleta, com assessoria jurídica, de imprensa, entre outros serviços.

Grana

A remuneração dos empresários, de modo geral, é em torno de 10% do salário do jogador. O valor pode ser recebido do atleta ou direto do clube. Quando não há acordo entre as partes, a CBF sugere que a comissão seja de 3%.

Transferências

Neste caso, o empresário pode receber uma comissão dos clubes envolvidos na negociação. Mas não é regra, e varia conforme cada transação. A CBF registrou que, de abril de 2017 a março de 2018, mais de R$ 35,3 milhões em comissões foram parar com empresários.

Diferencial

Currículo no futebol, clube formador, posição em que joga e caráter são alguns dos pontos que os empresários avaliam nos jogadores.

Relação

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Um empresário pode procurar o jogador ou vice-versa para fechar negócio. Também há muitos casos de indicação.

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