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Glenda Kozlowski: 'Estou muito feliz pelo momento do futebol feminino'

Glenda Kozlowski: "Estou muito feliz pelo momento do futebol feminino"

Em passagem pelo Espírito Santo, apresentadora ainda conta como teve de lidar com o preconceito como atleta e como jornalista de esportes

Publicado em 14 de junho de 2019 às 20:03

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A jornalista Glenda Kozlowski. (Danilo Schellmann/Divulgação)

Ser mulher em um ambiente considerado masculino é um ato de heroísmo, resistência. Seja no futebol ou no jornalismo esportivo. Se as jogadoras precisam provar que podem, sim, jogar de igual para igual com os homens, as jornalistas também cortam um dobrado. Afinal, uma mulher falar sobre futebol ainda gera desconforto, desconfiança e, principalmente, críticas.

Glenda Kozlowski que o diga. Teve de lidar com o preconceito quando era uma atleta de bodyboard, considerado “esporte de vagabundo” há alguns anos, e ainda lutou contra o machismo enquanto jornalista esportivo.

Em entrevista ao jornal A Gazeta durante passagem no Espírito Santo para uma palestra em um evento de Recursos Humanos, a apresentadora celebra a visibilidade desta Copa do Mundo de Futebol Feminino e ainda revela como o fato de ser mulher influencia na vida profissional.

Copa do Mundo como um divisor de águas

Pode vir a ser. Inclusive conversei com a Cris e a gente está vendo a oportunidade que elas estão tendo de divulgação da vida delas, delas conseguirem apoio. A gente nunca viu uma jogadora de futebol na publicidade. Isso é superimportante para que a gente olhe para o futebol feminino de uma outra forma. Mas a gente não pode deixar isso morrer quando a Copa do Mundo terminar. Independentemente do resultado do Brasil: se vai para a final, se não vai, se vai parar nas oitavas…

Aspas de citação

A gente não pode deixar essa comoção, o interesse pelo futebol feminino morrer. A gente fica muito empolgado, entusiasmado com a novidade. Porque todo mundo sabia que existia, mas existia ali no fundo, no canto da sala. A gente olhava, passava por ele e seguia

Glenda Kozlowski - jornalista
Aspas de citação

Agora depende de um trabalho da imprensa, da CBF, de quem organiza o futebol feminino e dos próprios patrocinadores de continuarem esse investimento e interesse pelo futebol feminino. Eu estou muito feliz com o que está acontecendo, acompanho o futebol feminino há muito tempo, já cobri vários eventos, mas espero que não seja como no Pan do Rio, quando foram campeãs, quando foram prata em Pequim, e depois não se falou mais. Agora espero que outras vitórias venham pela frente.

Transmissões na Globo

Eu fiquei muito feliz por trabalhar em um lugar que abriu mão da sua programação, que é tão tradicional, para colocar o futebol feminino. A Globo sempre foi muito preocupada com isso tudo. Por exemplo: eu vim de um esporte radical. Há 25 anos era “esporte de vagabundo”. A primeira emissora de TV aberta que abriu as portas foi a TV Globo, que em 1999 lançou um programa dentro do Esporte Espetacular que juntou skate, bike e patins. E ninguém falava disso. A Globo foi a primeira emissora a transmitir uma final de surfe, skate ao vivo. Ela sempre está aberta às novidades. Ela ter colocado o futebol feminino é o que me dá esperança que o futebol feminino não vai morrer.

A Globo é um grande canhão, tem um grande poder de comunicação. Me dá um orgulho danado de trabalhar nesse lugar, ligar a TV e ver amigas minhas comentando, sabendo a batalha delas para poder falar de futebol. A Ana Thais Matos, uma comentarista mulher, falando com tanta propriedade de futebol. Eu nem me atrevo a falar de futebol com ela (risos). Acho o máximo!

Atleta-jornalista

Como fui atleta, eu sei algumas dores, alguns sentimentos que ele está sentindo. Talvez eu me emocione mais em um grande evento porque sei o prazer da conquista, conheço o sentimento da frustração quando perde. Eu me comunico de uma forma diferente com o atleta porque a gente fala a mesma língua, eu trago isso comigo até hoje. O único atleta que eu ainda não entrevistei foi o Pelé, estive perto, mas ele adoeceu. Mas ainda vou pegar o Pelé (risos), é minha próxima meta.

A jornalista Glenda Kozlowski durante uma palestra no Espírito Santo. (Danilo Schellmann/Divulgação)

Relação com mães da Seleção

Criei mesmo, a gente tem um chat que a gente morre de rir, a relação está até hoje mesmo. A Ane, mãe do Fernandinho eu falo quase todos os dias, é como uma mãe. O “ser mulher” em qualquer profissão é diferente, não tem jeito. A gente pare, é mãe, menstrua. O ciclo hormonal mexe muito com nosso comportamento e na forma de olhar o outro. A mulher tem uma sensibilidade para ler pessoas e lugares, sentir coisas. Isso é um ponto que pode ajudar em qualquer carreira. Você não pode perder isso. Eu me sinto feminista, mas não quero perder esse lado que sou mulher. Eu jamais vou querer ser igual ao homem. Não quero ter que “botar o pau na mesa”, porque aí vou perder um monte de coisa que vai me dar pontos lá na frente.

Recado para as jornalistas

Desde sempre eu falo: “Vai, não desiste”. O preconceito depende da forma como você olha para ele. Eu já passei por situações que sei que foi assédio, mas nunca olhei para aquilo com o olhar de assédio. Eu pensava: “Isso é mais uma onda que vou ter que dropar, vou encarar essa onda gigante”. Não vou encarar com raiva e nem ódio, porque essa não é minha natureza. Minha natureza é olhar e falar: “Tudo bem, você não vai deixar, mas vou fazer de outra forma, porque quero fazer”. Quando você acredita em alguma coisa, você não tem que deixar de fazer por causa dos outros.

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