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Observador de VAR da CBF, capixaba Marcos André Gomes exalta o recurso

Observador de VAR da CBF, capixaba Marcos André Gomes exalta o recurso

Ex-árbitro capixaba avalia como positivo a introdução da ferramenta e importante no trabalho de auxiliar o árbitro de campo nas deciões

Publicado em 30 de agosto de 2019 às 20:49

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Em outubro de 2017, o então árbitro de futebol Marcos André Gomes da Penha pendurou o apito após vinte anos de dedicação à arbitragem de campo, mas a ligação dele com o futebol não parou ali. Na verdade ela se modernizou e caminhou paralela à introdução do árbitro de vídeo, o polêmico VAR, que está na boca do povo e vem gerando acaloradas discussões com as interpretações das jogadas.

Marcos André Gomes agora atua como observador de VAR nos jogos do Brasileirão. (Arquivo pessoal)

Vinculado à Federação de Futebol do Estado do Espírito Santo, a FES, Marcos André recebeu da CBF o convite para ser observador de VAR e atualmente atua nos jogos do Campeonato Brasileiro. Sem titubear, o também policial federal e professor universitário não fugiu da raia ao avaliar a utilização desse ferramenta que vem revolucionando a forma como se conduz os jogos.   

O primeiro turno do Brasileiro está acabando e pela primeira vez temos o VAR na competição. Qual o balanço até aqui sobre a utilização do mecanismo no torneio?

Considero extremamente favorável. Segundo dados consolidados pela CBF, até a 14ª rodada, houve 98% de acerto dos lances nas decisões capitais (gols, expulsões, erros de identificação e pênaltis) com a ajuda do novo sistema. Sem o VAR, esse índice oscilava próximo à 77,4 % dos lances capitais. Sob análise especializada, até a rodada 14, foram considerados apenas em 10 erros capitais no presente Campeonato Brasileiro da Série A, com a ajuda do vídeo, sendo que, sem o VAR, no mesmo período, esse índice salta para 88, como aconteceu em 2018. Isso representa uma melhora de 90%. Fica claro e óbvio que o auxílio do VAR é indispensável.

A maior reclamação em relação ao VAR está no tempo prolongado nas tomadas de decisões, chegando a até cinco minutos. Por que demora-se tanto, assim parando o jogo, e como a comissão de arbitragem trabalha para diminuir esse tempo?

Há consciência e trabalha-se arduamente para melhorar o tempo de tomada de decisão. Atualmente, no Campeonato Brasileiro da Série A, a média de tempo de uma revisão com uso do VAR é de 1 minuto e 54 segundos. Porém, nunca se pode esquecer que antes da rapidez deve vir a decisão correta. O próximo passo é buscar o equilíbrio entre a precisão e a fluência do jogo, de forma que haja maior agilidade nas partidas, porém com decisões acertadas. Nosso presidente da Comissão de Arbitragem, Leonardo Gaciba, estipulou um objetivo pessoal: chegar a uma média de 1 minuto e 20 segundos por revisão e estamos trabalhando para atingirmos essa meta e futuramente melhorar mais ainda esse índice.

Todos os jogos do Campeonato Brasileiro contam com uma sala de VAR. (Arquivo pessoal)

Observa alguma diferença na utilização do VAR quando comparado o Brasileiro e a Libertadores da América, por exemplo?

Todo processo que está no início é assim mesmo. Basta cada um de nós recordarmos quando, por exemplo, iniciamos a dirigir, ou quando realizamos um salto de paraquedas, ou simplesmente quando aprendemos a nadar. No início há um certo receio, justamente para evitarmos acidentes e erros que podem comprometer a segurança. Com o tempo, tornam-se movimentos automáticos, fluindo naturalmente.

Cada campeonato é diferente. Não dá para compararmos friamente o Campeonato Brasileiro com a Libertadores da América. Cada lance tem a sua peculiaridade. Tivemos lances com quase 5 (cinco) minutos de análise para definição na Libertadores e no Brasileiro. Depende da dificuldade do lance. Devemos aprender com as boas práticas vividas em cada campeonato pelo mundo e melhorar cada vez mais a utilização da tecnologia, conciliando rapidez e decisão correta.

Na Inglaterra, o mecanismo apenas estreou esse ano e já com diferenças notáveis, que fazem com que a decisão seja mais rápida e ainda externada ao público no estádio. Isso pode vir a ser um caminho a ser seguido?

Não se pode esquecer que o foco da atuação do VAR é sempre a mínima interferência, com máximo benefício. Atualmente, as checagens no campeonato brasileiro estão levando cerca de 1 minuto e 54 segundos, tendo como índice de acerto nas decisões dos árbitros mais de 90%. A ideia da Comissão de Arbitragem da CBF é seguir buscando um aperfeiçoamento da ferramenta, pautada em treinamento continuado e muito trabalho, diminuindo cada vez mais esse tempo e aumentando o índice de acertos.

Os clubes, a imprensa e o torcedor precisam entender que, em alguns lances há certas particularidades do VAR, haja vista a necessidade de se buscar precisão nas tomadas de decisão. Um claro exemplo disso são lances de impedimento que necessitamos utilizar a tecnologia lançando linhas verticais e horizontais. É preciso conciliar o momento do toque na bola do companheiro de equipe que efetuou o passe com o penúltimo defensor da equipe de defesa, bem como o com o jogador da equipe atacante que recebeu o passe, sendo que nem sempre é fácil, pois todos estão em movimento e os jogadores podem se sobrepor.

O importante é que as orientações são voltadas para buscarmos por um futebol melhor e justo, minimizando a possibilidade de erros. A Comissão de Arbitragem da CBF atingiu um nível de excelência reconhecida mundialmente, pautado pelo trabalho transparente, ilibado, técnico e pela qualidade de seus árbitros e instrutores.

Marcos André Gomes, à direita, durante a capacitação para trabalhar como observador de VAR. (Arquivo pessoal)

Como está sendo a receptividade dos jogadores nos relatos dos árbitros?

Nunca ouvi falar de quaisquer jogadores reclamando do uso da tecnologia, até porque todos entendem que o VAR está presente para trazer a justiça nas decisões de jogadas em que haja alguma falha humana (nunca devemos esquecer que o árbitro é um ser humano, e como tal merece todo respeito). Pelo contrário, todos elogiam muito, pois sabem que as chances de erro ficam minimizadas. Para se ter uma ideia, a reclamação de clubes diminuiu drasticamente, tendo em vista que os erros foram reduzidos consideravelmente.

Quantas pessoas ficam na sala do VAR nos jogos do Brasileiro e quem são?

Atualmente permanecem na sala do VAR um total de 6 pessoas, sendo: um árbitro - VAR - Tem como função principal "checar" o jogo durante toda a partida e informar ao árbitro quando ocorrer um possível incidente revisável, trabalhando soba direção do árbitro para garantir que um erro claro em um decisão que mudaria o jogo seja corrigida ou que um incidente grave não visto seja solucionado; AVAR 1 - tem como função principal auxiliar o VAR, observando o jogo "ao vivo", especialmente quando a o VAR faz uma checagem ou revisão utilizando o equipamento.; AVAR 2 - tem como função principal auxiliar o VAR, especialmente quando a o VAR faz uma checagem ou revisão em lances cujas as atribuições estão mais voltadas para os assistentes; um operador de replay; um operador de revisão; um observador do VAR - tem como função a fiscalização do fiel cumprimento ao protocolo VAR, bem como avaliar o trabalho do VAR e dos AVAR (assistentes). Não pode tomar qualquer decisão, com a exceção de impedir uma infração ao protocolo.

Em algumas decisões, tem-se a impressão de que há um conflito entre o árbitro de campo com o do VAR. A decisão final, de fato, é de quem está apitando?

A decisão final sempre será do árbitro. A tarefa do VAR não é informar ao juiz qual decisão ele deve tomar, mas apenas fornecer informações claras e objetivas ao árbitro, para auxiliá-lo na decisão sobre um incidente que deve ou não ser revisado e, possivelmente, mudado. É importante esclarecer que o VAR não influencia (deliberada ou involuntariamente) o árbitro, lhe informando sobre qual decisão o árbitro deverá tomar. Entretanto, caso seja solicitado pelo árbitro, o VAR pode emitir sua opinião, contudo a decisão final sempre será do árbitro.

Existe alguma possibilidade de divulgação dos diálogos entre os árbitros até para esclarecer as dúvidas que transparecem no estádio e para quem também assiste pela TV?

Devemos compreender que o VAR é um projeto novo, e a Comissão de Arbitragem da CBF sempre esteve aberta para dialogar com críticas construtivas. Provavelmente, a partir da primeira partida do segundo turno, o telespectador terá acesso às imagens e informação sobre o que está sendo revisado pelo árbitro. Isso já é um enorme avanço. Outros poderão vir, mas cada coisa tem seu tempo.

A atuação dos assistentes também foi diretamente impactada com o VAR e agora em lances mais difíceis, a recomendação é que deixem a jogada prosseguir. De certa forma não há uma inibição no trabalho deles?

Assim como os árbitros centrais, os assistentes também precisaram se adaptar às nuances ocorridas com a entrada da tecnologia VAR no futebol. A orientação para deixar as jogadas prosseguirem são para lances ajustados em que o olho humano acaba sendo traído pela velocidade do jogo. Lances claros de impedimento continuam sendo assinalados, bem como todas as outras atribuições inerentes ao árbitro assistente. O VAR não existe para substituir ninguém, mas apenas para corrigir erros claros e óbvios, não vistos pelo árbitro, em decisões pré-definidas de mudança de rumo do jogo: gol, pênalti/sem pênalti, cartão vermelho direto e identidade errada de um jogador (árbitro expulsa ou adverte jogador errado).

O VAR ainda é muito recente não só no Brasil, como nas principais ligas do planeta. Mas como você encara a importância desse mecanismo para a melhora do futebol e consequentemente no nível da arbitragem?

Além do aspecto do jogo em si, há o aspecto didático, onde os árbitros conseguem identificar melhor cada caso prático, observando o que poderia ser feito para melhorar a decisão ou mesmo ratificar que tudo o que era possível naquela jogada foi realizado. Todos os árbitros recebem o feedback da Comissão de Arbitragem da CBF em todas as partidas que participam, onde são apontados aspectos positivos e aspectos a melhorar. A Comissão de Arbitragem CBF tem a preocupação em capacitar cada vez mais o quadro de arbitragem, realizando cursos durante vários períodos do ano, antes, durante e depois dos campeonatos, num ciclo continuo de busca pela excelência.

Atualmente você tem atuado como observador de VAR da CBF. Como foi sua transição para essa função e como é sua rotina nas partidas?

Tenho muito orgulho de representar o meu Estado nessa nova função. Me dedico diariamente com estudos (teóricos e análises de jogos) de forma a me manter em alto nível e poder desempenhar a função como observador de VAR. Após mais de 20 anos atuando nos campos de futebol e com mais de uma centena de jogos pelo Campeonato Brasileiro (englobando as séries A, B, C e D) não tem como não se apaixonar pelo que faço. Sou extremamente grato à Federação de Futebol do Espírito Santo, local onde tudo começou, e à Confederação Brasileira de Futebol, que até hoje me dá a oportunidade de trabalhar em prol do futebol.

Nas partidas como observador de VAR há algumas rotinas que são obedecidas, como reuniões técnicas com a equipe de árbitros que atuará na partida, de forma a realizar um alinhamento do trabalho para que tudo corra conforme determina o protocolo VAR. Após, temos relatórios a serem elaborados e entregues em pouco espaço de tempo, para os dados serem consolidados junto à Comissão de Arbitragem da CBF, que tem um apanhado geral rodada a rodada. É uma estrutura fantástica, que funciona porque há um grupo bem coeso, compromissado e extremamente profissional.

Recentemente você esteve aqui no Estado para uma conversa com os árbitros capixabas. Qual o saldo desse encontro e o que foi apresentado a eles?

A arbitragem capixaba está em alto nível de excelência, posso garantir isso. A Federação de Futebol do Espírito Santo tem investido muito na formação continuada do seu quadro de árbitros e na Escola de Árbitros (o curso de árbitros para 2019 está com inscrições abertas). 'Se queremos ser um leão, devemos treinar com os leões'. Os árbitros capixabas são avaliados mensalmente, com provas teóricas nos mesmos moldes aplicadas aos árbitros do quadro da CBF, sendo que, se algum árbitro não atingir a média 7,0 (sete) fica fora das escalas de todas as competições profissionais. Além disso, há estudos e análises de vídeos, com lances dos campeonatos locais e nacionais, bem como treinamentos práticos no campo de jogo, fazendo com que o árbitro mantenha o foco nos estudos e aprimoramento técnico constante. Sabe o que é legal na arbitragem? O limite dos sonhos de cada um, ao traçar seus objetivos, quem estabelece é o próprio árbitro. Basta fazer a sua parte, com retidão, dedicação, comprometimento, foco e disciplina.

Desde que o árbitro foi introduzido no futebol, esse virou alvo de torcidas, dirigentes e afins. Neste mês, a CBF lançou a campanha "Respeito: Essa é a Regra do Jogo" para fomentar a boa relação com essa figura tão importante para o esporte, que é o juiz. Qual a importância desse tipo de campanha?

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A campanha não é apenas pelo respeito à arbitragem, mas, sobretudo, pelo respeito às regras e ao futebol. Tem como objetivo atingir desde os torcedores, em casa ou no estádio, os dirigentes e até mesmo os jogadores, que lidam diretamente com os árbitros durante as partidas, de forma que todos entendam que o produto futebol, paixão nacional, merece um melhor espetáculo, com menos cartões por reclamação, menos paralisações e mais justiça. Todos que trabalham diariamente pelo futebol merecem respeito. A equipe de arbitragem está inserida nesse contexto. Somos seres humanos, ninguém pode esquecer disso.

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