É nele que a bola rola e o espetáculo acontece. Mas se ele está ruim, a coisa desanda e o jogo pode ser de arder os olhos. Verdinho ou queimado, um tapete ou cheio de buracos, alto ou baixo, o gramado pode ser o vilão ou o mocinho em uma partida de futebol.
Os estádios Kleber Andrade e Engenheiro Araripe foram utilizados como centros de treinamentos durante a Copa do Mundo de 2014 para as seleções de Camarões e Austrália, respectivamente. As estruturas estavam impecáveis, incluindo o gramado. Mas e agora, quase cinco anos depois, como está a situação?
O Kleber Andrade manteve o mesmo tipo de grama da Copa, Bermuda Celebration, indicado para regiões de clima tropical, como é o caso do Espírito Santo.
O gramado do Klebão não está um tapete, mas é, de longe, o melhor gramado desta edição do Campeonato Capixaba. E para manter a qualidade, o governo do Estado desembolsa cerca de R$ 35 mil por mês. A manutenção é diária e inclui cinco irrigações por dia, realizadas por meio de sistema automático e computadorizado, além de corte, adubação e formigação, quando necessário. Ainda assim, é nítido que não está 100%.
Toda a água usada na irrigação é reutilizada. Essa água fica armazenada em cisternas, que captam água da chuva e do próprio sistema de irrigação. A irrigação diária e constante evita que o gramado se desgaste por conta do sol e do forte calor.
O estádio estadual não pertence a um clube específico, por isso, é utilizado apenas para partidas (além de shows musicais). Treinos são permitidos apenas em casos excepcionais, por isso o gramado acaba sendo mais preservado.
Neste ano, por exemplo, o Kleber Andrade foi palco de apenas 6 jogos neste Capixabão, além do jogo entre Serra e Vasco, pela Copa do Brasil.
Com todos esses cuidados, nós conseguimos não só manter, mas melhorar o nível do gramado com relação ao período em que ele foi entregue ao Governo do Estado, explicou o secretário Estadual de Esportes e Lazer, Júnior Abreu.
QUALIDADE x FALTA DE RECURSOS
Um dos estádios mais tradicionais do Espírito Santo, o Engenheiro Araripe, em Cariacica, causou preocupação para a torcida e para os clubes neste ano pela situação crítica do gramado. A Desportiva Ferroviária admite que passa por dificuldades financeiras, acumuladas de gestões passadas, e que isso reflete diretamente no campo.
O problema na irrigação é antigo no clube de Jardim América. Em 2017, por exemplo, a Tiva também estava sem recursos financeiros para manter os cuidados básicos.
Nos primeiros meses deste ano, a Desportiva sequer cuidava do gramado, que estava em péssimo estado. O clube, que estava sem recursos iniciais, buscava apoios e patrocínios para essa manutenção.
Confira três fases do gramado do Araripe:
A situação começou a melhorar neste ano quando a Desportiva fechou uma parceria com uma empresa portuguesa que assumiu a gestão do futebol grená e também passou a cuidar da drenagem. Atualmente a empresa desembolsa exatos R$ 17.600 para fazer a manutenção do gramado, que inclui o serviço de água, adubo e drenagem. Se acrescentar os custos operacionais de gasolina e folha de pagamento dos funcionários envolvidos, o valor passa para R$ 20 mil.
A grama utilizada no Engenheiro Araripe à época da Copa do Mundo era Esmeralda, uma das mais populares do Brasil. Agora passou para a popular Bermuda Tifway419, que tem alta resistência ao piso e rápida recuperação.
A grama que hoje está no Araripe é a Bermuda Tifway 419, também tida como padrão de qualidade para campos de futebol profissional, explicou o diretor João Carlos Rocha.
Além dos jogos da Desportiva, o Engenheiro Araripe também recebe as partidas do Tupy neste Capixabão, sem contar os treinos diários dos times profissional e sub-20. Dessa forma, não há grama de qualidade que resista a tanto desgaste.
No entanto, o clube afirma que manter os treinos em casa ainda é a melhor opção. Em caso de aluguel de outro espaço, custos de logística de deslocamento e alimentação, os gastos seriam ainda maiores, o que é inviável na atual situação financeira grená.
GRAMADO RUIM ATRAPALHA O BOM FUTEBOL
Há três anos, o volante Rodrigo Cesar entrava em campo pelo Espírito Santo para enfrentar a Desportiva, na grande final do Capixabão 2016. O palco da decisão era o estádio Engenheiro Araripe, em Cariacica, que estava um tapete.
Agora pelo Capixabão 2019, mais especificamente na segunda rodada, o camisa oito esteve novamente no Araripe, mas desta vez defendendo o Vitória. Ele admite que ficou surpreso com o estado que viu o gramado.
No ano passado, Rodrigo Cesar operou e ficou cerca de seis meses parado por conta de uma grave lesão no tendão, que tem total relação com a péssima qualidade dos gramados no Estado.
Influencia bastante. A gente torce para que os campos melhorem até para que o jogo fique melhor, tenha mais movimentação, mais opções de jogo. O Cláudio Roberto (ex-treinador do Vitória) queria posse de bola no campo defensivo, estilo o técnico Fernando Diniz, do Fluminense, mas aqui a gente estava tendo dificuldade por conta do campo ruim. Fica difícil colocar a bola no chão. Com o campo ruim não dá para jogar bonito, então às vezes tem que dar chutão. A gente é cobrado pelo resultado, finalizou o capitão alvianil.
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