O momento do Espírito Santo no boxe mundial não poderia ser mais brilhante. Os irmãos Esquiva e Yamaguchi seguem escrevendo o nome da família Falcão na história: invictos, estão a mil na luta pelo cinturão. Nas academias, o boxe virou febre, seja para diminuir o estresse do dia a dia ou fazer as pazes com a balança. Longe do glamour das lutas profissionais, que geralmente acontecem nos Estados Unidos, os atletas amadores no Espírito Santo ralam e não é pouco. Falta tudo: academias de qualidade, patrocínios e até campeonatos. As condições são precárias.
Aos 15 anos, Ronald Ribeiro é um dos poucos nomes do esporte que ainda permanece no Estado. Mas não por muito tempo. O garoto, que recentemente foi bronze no Campeonato Brasileiro, em Cuiabá, vai se mudar para São Paulo.
Não luto pela Federação desde 2013, não temos campeonatos. No treino falta sparring, um cara para trocar porrada. Vou para São Paulo em janeiro, disse Ronald, que é tricampeão estadual e brasileiro, bicampeão mundial e campeão sul-americano pela Confederação Brasileira de Esportes de Contato (Confbec).
O garoto tem o pai, Ronaldo Ribeiro, como treinador. Os treinos acontecem na academia que serve de projeto social em Riviera da Barra, Vila Velha, para 35 alunos. Sem patrocínio, o boxeador conta com ajuda de amigos para se manter como atleta. Pedreiro e locutor de eventos, Ronaldo se vira como pode para manter vivo o sonho do filho.
Conseguimos uma academia com um amigo. Para o Brasileiro, comprei a passagem na última semana porque consegui um bico para fazer e um amigo comprou no cartão dele. O consumo é de um par de luvas a cada dois meses. Uma luva boa custa R$ 200. A gente consegue tudo com muita dificuldade, disse Ronaldo.
O pai lamenta a falta de calendário no Estado e não esconde a emoção ao pensar que vai ficar longe do filho.
Geraldo Ferraz, presidente da Federação Capixaba de Boxe, admite que a situação está ruim, principalmente sem apoio do governo. Nos últimos quatro anos, parou de realizar campeonatos estaduais e a entidade está quebrada.
Esquiva e Yamaguchi só despontaram ao deixar o Espírito Santo
Ainda bastante jovem, com apenas 14 anos, Esquiva tomou uma decisão que lá na frente mudaria toda a sua história no boxe. Filho de Touro Moreno, ele abriu mão dos treinos em casa com o pai e os irmãos para viver em São Paulo. O mesmo caminho seguiram os irmãos Yamaguchi, Estivan, Luciano, além do sobrinho Yuri.
No Espirito Santo eu não tinha estrutura nenhuma, não tinha apoio e nem academia. Treinava no quintal de casa, mas sempre fui muito dedicado. Nunca disputei um Brasileiro pelo Espírito Santo. Isso é muito triste. Os atletas têm que sair do Estado para conseguir uma vida melhor. Foi o que fiz. Fui para São Paulo, Rio, até Mato Grosso do Sul. Só assim fui para a seleção e consegui uma medalha olímpica.
Esquiva ainda fez um apelo para os políticos e foi além: revelou que tem o sonho de abrir uma academia de boxe no Espírito Santo. Peço que olhem para o esporte. Temos medalhistas olímpicos e grandes atletas de vários esportes, mas precisamos de apoio e um lugar para treinar. Vim para os Estados Unidos e fico longe da família porque no Estado não tem estrutura. Muitos fãs me perguntam se tenho uma academia no Espírito Santo. Não tenho ainda, mas é um grande sonho.
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