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'Sempre foi um sonho', diz Maya Gabeira sobre livro dos recordes

"Sempre foi um sonho', diz Maya Gabeira sobre livro dos recordes

Big rider conversou com o jornal A Gazeta sobre sua carreira e façanhas nas ondas gigantes pelo mundo afora

Publicado em 11 de outubro de 2018 às 15:17

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O Guinness Book, o livro dos recordes, ganhou um novo nome. E na dimensão das ondas gigantes que surfa, Maya Gabeira ainda foi capaz de uma outra façanha tão grande quanto: a brasileira inaugurou a categoria de maior onda surfada por uma mulher.

Mas as conquistas chegam repletas de desafios e eternizar o nome na história do esporte não foi fácil. Aos 31 anos, a carioca que trocou as sapatilhas de balé pela prancha já viu a morte de perto e contou com uma ajudinha extra para entrar para o livro dos recordes.

A surfista de ondas gigantes Maya Gabeira. (Hugo Silva/Red Bull)

Qual a importância não só de entrar para o livro dos recordes, mas também de inaugurar uma categoria (categoria feminina de maior onda surfada)?

Entrar para o Guinness é um sonho, e poder dizer que eu surfei a maior onda já surfada por uma mulher, além de ser a atleta que inaugura essa categoria, é uma honra, uma sensação muito boa. Eu me sinto extremamente orgulhosa.

Você também considera o feito uma vitória para todas mulheres que estão no surfe? É mais um reconhecimento para as atletas?

Com certeza! Fico feliz de fazer essa plataforma ter a divisão feminina, algo que achava muito importante. Cada vez mais, provamos que nós temos, sim, o nosso espaço nesse esporte que ainda é um pouco mais masculino. Espero que isso sirva de motivação mesmo, que as próximas atletas tenham vontade e realmente superem essa marca, para o esporte seguir em frente e continuar crescendo.

Tente explicar a sensação de surfar uma onda de 20.7m. Foi um momento único na sua carreira de big rider?

Aquele era um dia especial, pois foi uma manhã em que as ondas estavam gigantes, acho que foi o maior dia dos últimos anos. O objetivo ali era mesmo pegar a maior onda da minha vida. Estava muito frio e eu fiquei horas na água esperando pegar aquela onda específica.

Quando ela surgiu, já estávamos na água há umas três horas e meia, e eu sabia que ia ser uma onda enorme quando a vi entrando. O foco principal era não cair, já que meu objetivo era completá-la. Então, foi um momento de concentração total, surfando ladeira abaixo segurando a velocidade, e preocupada sempre em fazer a linha correta na onda, para não ser engolida por ela.

Como é ser movida por essa adrenalina, esse desafio?

O desafio me mantém focada, e eu amo acordar com missões para cumprir. Acho que isso me faz aproveitar a vida com mais intensidade.

O feito ocorreu na mesma praia em que você quase morreu há 5 anos. Tem um significado ainda mais especial para você?

Eu sonhei com esse recorde por muitos anos, mas era difícil para mim entender onde ele poderia ser quebrado. Quando Nazaré entrou no esporte, no radar, ficou claro para mim que aquele era o lugar. Eu vivi uma experiência muito forte aqui em 2013, e tive que superar muitas coisas – traumas, lesões, e isso fez com que eu mudasse como pessoa. O que vivi nesses anos foi uma experiência única, aprendi e mudei bastante. Então, tem um significado de mudança, crescimento, e de muito aprendizado.

Como é nascer de novo? Você enxergou a vida e, inclusive, o esporte de uma outra forma depois do ocorrido?

Fiquei bem mais medrosa (risos)! Comecei a dar mais valor à vida e a gerenciar os riscos com muito mais cautela.

O Guinness sempre foi um sonho, um objetivo? Ou você acreditava que seria apenas uma consequência do seu trabalho a longo prazo?

Sempre foi um sonho, mas muito distante. Quando Nazaré entrou no mapa, tive certeza de que era possível realizar isso ali. Em 2013, isso virou de fato um objetivo para mim.

A surfista de ondas gigantes Maya Gabeira. (WSL/Divulgação)

Você teve que fazer uma espécie de campanha na internet para que a WSL reconhecesse o seu recorde. De onde surgiu a ideia? E teve uma grande aceitação e repercussão pelo jeito, né?

As conversas com a WSL já estavam acontecendo, mas eu queria acelerar isso. O recorde tinha acontecido em janeiro e eu não queria que isso se prolongasse muito para não coincidir com o início da próxima temporada. Eu gostaria que esse reconhecimento acontecesse antes, por isso surgiu a ideia do abaixo-assinado.

O abaixo-assinado teve uma repercussão bacana, sim, foram mais de 18 mil assinaturas, o que me ajudou a realmente fazer com que eles entendessem a urgência, devido à necessidade e o apoio que eu tinha. Depois disso, as coisas fluíram bem mais rápido, de fato.

Quando você se mudou para Portugal? Foi pensando no recorde?

Me mudei em 2015, pensando sim no esporte, em evoluir e, quem sabe, alcançar o recorde.

A surfista de ondas gigantes Maya Gabeira vive em Portugal. (Vitor Estrelinha/Divulgação)

Você iniciou no surfe “comum”, mas em que ponto decidiu mudar o caminho e ser uma big rider?

Fui para o Havaí aos 17 anos e logo me apaixonei pelas ondas grandes, foi então que meu foco virou isso. Mas só alguns anos depois que comecei a enxergar isso como possibilidade profissional.

Você já fez balé, mas posteriormente optou pelo surfe. Qual foi a reação da sua família na época?

Foi meu pai quem comprou minha primeira prancha, já minha mãe resistiu um pouco mais à ideia. Depois, os dois me apoiaram, pois viam que era uma vida saudável. Foi quando eu comecei a priorizar o surfe que a escola que virou um problema.

Como foi surfar no Alasca e ser a primeira mulher a surfar ondas gigantes por lá?

Senti muito frio, mas foi uma experiência inesquecível. Lá é um lugar extremamente selvagem.

Como funciona a preparação de uma atleta de ondas gigantes? Academia, apneia, trabalho de concentração, etc? Há toda uma equipe por trás?

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Academia, piscina, apneia e muito surfe. No fim, o preparo é essencial, mas o surfe diário também!

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