Assim que recebeu a bandeirada final no Grande Prêmio dos Estados Unidos, há duas semanas, o inglês Lewis Hamilton sagrou-se pentacampeão de Fórmula 1 e colocou-se ao lado de outro gigante da categoria, o argentino Juan Manoel Fangio, também detentor de cinco títulos. Fuzilador de recordes, o piloto da Mercedes está atrás somente dos sete mundiais do alemão Michael Schumacher - fato que para um piloto de 33 anos e com muito chão a ser percorrido não chega a ser inalcançável.
Mas todas essas conquistas não vislumbram o campeão de 2018, pelo contrário. O inglês não se vê sentado na mesma mesa dos nomes já citados, além do grande ídolo, Ayrton Senna. Por ora, como disse em entrevista coletiva na tarde desta quarta-feira (07), Hamilton ainda tenta assimilar a quinta conquista e foca em uma grande exibição no GP do Brasil, em Interlagos, no próximo domingo, e assim buscar também o mundial de construtores para a equipe alemã.
Quem são os heróis escondidos e que merecem ser mencionados?
Muitos, temos uma equipe enorme. Sou apenas uma pequena parte da cadeia e que contribuiu para sermos bem sucedidos. Acabei de ganhar meu quinto campeonato, são muitos parceiros que ajudam. Confiabilidade é tudo na categoria, só temos três motores no ano para competir com Ferrari e os outros times.
Você é o primeiro campeão negro da F1. Quais políticas deveriam ser adotadas pela categoria e dirigentes da FIA para evitar tamanha disparidade?
"Este ano e nos últimos, a F1 encareceu muito. O que me preocupa é que o custo é cada vez mais alto e isso inviabiliza o acesso. A F1 e a direção devem trabalhar com as escolas e na formação dos pilotos. Temos de encorajar jovens a terem sonhos grandes. Temos de tornar esse esporte mais acessível e eficaz. Não tenho a resposta exata, mas me empenho para mudar isso".
Você é uma inspiração para muitos. Esse quinto título lhe traz mais responsabilidade; se inspira em ídolos de outros esportes?
"Essas duas últimas semana foram estranhas. Não absorvi ter ganho o quinto título, ainda temos o mundial de construtores. Isso me mantém acordado à noite. Imagino que ao ficar mais velho, entendemos mais os valores e as responsabilidades. Não sei, sinceramente, se mais títulos trazem mais responsabilidade. Reconheço que tenho um alcance vasto, mas não posso fazer tudo. Gosto sim de outros atletas e sempre encorajamos uns aos outros."
Você pretende ir até o oitavo título?
"Muitos perguntam isso. Honestamente sou feliz com o que tenho. Nada é garantido ou prometido. Sou feliz por ter mais anos para correr, mas ter ganho esse quinto já é um sonho. É um passo de cada vez. Não penso muito à frente. Quero seguir construindo com a equipe e parceiros. A pressão que recai sobre nós é muito grande... isso pode ser a diferença entre ganhar ou perder. Acredito nesse time, no relacionamento e podemos continuar crescendo e derrubar barreiras.
Você já foi pole quatro vezes em Interlagos, mas venceu apenas uma. O que planeja para domingo e quais as maiores dificuldades?
"Interlagos é um dos circuitos mais difíceis por ser contra o relógio (sentido anti-horário). A temperatura ambiente é forte, a degradação é alta, a volta é intensa e temos a altitude da cidade. Tudo isso é um desafio para o motor, sem contar o lado físico para o piloto. Mas aqui eu sinto a presença do Ayrton, é especial para mim. Acho que a torcida brasileira me aprecia e adoro o Brasil. Quando jogava Fifa, sempre escolhi o Brasil."
O Brasil é um país historicamente representado, acha que existe alguém da nova geração possa aparecer em um futuro próximo?
"Não tenho certeza, como estamos correndo tanto, não estou tão envolvido com o externo. Mas com certeza há abundância de talento no Brasil, porém não sei o quanto o país se esforça para fazer um novo campeão mundial como faz o México, por exemplo. Muitos países estão empenhados nisso, mas não posso falar a respeito do (Sergio) Sette Câmara. Mas há espaço para pilotos brasileiros, com certeza.
Você, Chales Leclerc, Pierre Gasly, e Verstappen prometem uma boa briga. Considerando essa molecada, qual a sua expectativa de enfrentá-los em 2019?
"Já mostraram potencial. O Max venceu o último GP, tem talento, estão com fome e são gente fina. Essa competição é bem-vinda. Vejo um pouco de mim neles, é meio que olho de tigre, sabe? Mas agora sou um dos mais velhos e percebo isso. Preciso trabalhar duro, físico e mental. Mas trago coisas que podem me ajudar.
No ano que vem são 25 anos da morte do Senna e hoje não temos brasileiros no grid. O que imagina se Senna não tivesse a fatalidade em Imola?
"Uma vez vi uma pintura dele saindo andando do carro batido, aquilo me emocionou. Se tivéssemos a segurança atual naquela época, ele sairia vivo. Mas hoje é tão físico e mental que não sei onde estaria, mas ele era muito dedicado e com potencial de sobra. O vi correndo com o Michel ainda novato. Acho que ele teria bons anos na Fórmula 1 e ter sete campeonatos talvez. Sobre mim, tento um passo por vez e sou grato por ter essa oportunidade. Eu preciso abordar isso da mesma maneira que tinha 18 anos. Tenho a mesma vontade de quando jovem. Faço de tudo para ir além e me manter bem fisicamente. Essa é minha meta."
Se você encontrasse com o Senna, o que diria a ele?
"Eu pensei muito sobre isso, mas acho que me faltariam palavras. Como menino, era só ele que eu adorava, seguia, via, era paixão. Para a F1, ver um piloto que aos meus olhos inspirava uma nação, era uma coisa incrível. A maneira como pilotava, guiava, se comunicava com as pessoas. Teria muito a conversar, tenho muito em comum como Senna. Sei que ele gostava de esporte, tinha muita espiritualidade. Tendo conhecido a família dele, tenho certeza que seria quase tão bom como vê-lo. Não tem outro piloto ou atleta no mundo capaz de uma a conexão a dele com o Brasil. Naturalmente tenho a aspiração de ser tão grande como ele."
Massa disse que você está no mesmo nível de Schumacher, Senna e Fangio. Concorda?
Honestamente, é difícil. Não me comparo a eles. Sempre digo que eu sou eu. Individualmente são diferentes, outras jornadas, épocas e dificuldades. Tenho um enorme apreço por eles. Até hoje vou para um GP e sempre me recordo das lembranças do meu início no kart saindo da escola, com o sonho de um dia ser piloto. Ainda é muito surreal para mim. Acho que não compreendi esse quinto título. Só posso projetar o melhor eu que posso ser. Adoro estar dentro do carro. É algo muito único me ver nesse seleto grupo. Mas não deixa de ser uma honra ser mencionado nele".
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