A ambição de três escaladores capixabas é do tamanho do desafio que eles terão pela frente a partir do próximo dia 28, quando embarcarão de Vitória com destino ao Nepal.
Juarez Gustavo Soares, Giuliano Martins Santos e Cesar Saade formam a primeira expedição genuinamente capixaba rumo ao Everest, montanha mais alta do planeta, com o cume a 8.848m de altitude, e situada na Codilheira dos Himalaias, na divisa entre o Tibete (China) e o Nepal.
Praticante de escaladas há muitos anos, partiu de Juarez a ideia de alcançar o ponto mais alto da Terra.
Tenho uma paixão de anos por montanhas e já subi em vários lugares do mundo. Desenvolvo um projeto de montanha clássico que se chama Seven Summit, que consiste em escalar as sete montanhas mais altas de cada continente, sendo que já escalei seis. Então o Everest é quase que um destino natural, detalhou o empresário de 48 anos.
Para um desafio desse porte, ele convidou outros dois amigos para a aventura na Ásia. Também adepto do montanhismo, Giuliano prontamente aceitou o convite, que por sinal surgiu de maneira inusitada.
Dizem que doido encontra o outro facilmente. O Juarez foi com um amigo visitar um projeto de um escritório nosso e viu lá um elemento de trekking (provas de enduro). Na hora já viu que por lá também "tinha um doido". Aí começamos a falar de montanhas, vivo correndo, faço ultramaratonas há 15 anos e a cada dia fica mais difícil encontrar os caras que topam esses desafios. Aí veio o Juarez, começamos a treinar juntos, competimos algumas provas pelo país e decidimos alinhar esse projeto, disse o empresário de 44 anos, o mais novo da trinca.
DO MAR À MONTANHA
As dificuldades serão enormes para os três, mas em especial para o nadador de maratonas aquáticas Cesar Saade. Acostumado as longas distâncias em mar aberto, ele se viu em uma situação inusitada ao ser forçado a abortar um projeto pessoal de travessia do Canal da Mancha, no meio do ano. Com a janela na agenda, surgiu a oportunidade de sair da zona de conforto e encarar o maior desafio da vida.
Eu e o Juarez somos amigos de longa data. Ele tinha um projeto pessoal de realizar uma prova de dez quilômetros, tentou uma vez, porém não conseguiu. Ele então me pediu para condicioná-lo para uma prova desse nível em troca de me preparar para subir uma montanha. Só que ele não me disse qual montanha era (risos). Em um outro momento, ele me explicou da vontade dele de completar o Seven Summit e me fez o convite. Pensei uns 'dois segundos' e topei, contou o empresário de 53 anos.
APOIO DOS DONOS DA MONTANHA
Para se chegar ao acampamento base do Everest, que fica a mais de 5 mil metros de altura, é preciso estar preparado em tudo. Inicialmente, a escolha da empresa que auxilia na logística é determinante, mas fundamental mesmo é ter o apoio dos xerpas, nativos da região do Himalaia e que conhecem a montanha com a palma das mãos.
Eles são os donos das montanha, indicam os caminhos e ajudam a levar os materiais até certo ponto, contou Giuliano. A expedição rumo ao Everest será feita pelo trio, mas apenas Juarez tentará chegar ao topo. Juntamente com o idealizador da expedição, Giuliano e Cesar farão a subida de Lukla (2.804m) até o Lobuche (6.119m) e depois retornarão ao acampamento base. Os passos seguintes serão feitos apenas por Juarez.
Não temos a experiência necessária para ir ao ponto mais alto, por isso nós dois faremos até esse ponto. Depois disso o Juarez tentará o cume do Everest quando houver uma janela de tempo, explicou Cesar Saad.
FAMÍLIA E FORÇA MENTAL
Encarar uma subida na maior elevação do planeta vai além do condicionamento físico. Isso tanto Juarez como Cesar e Giuliano tem de sobra. Mas é no apoio das respectivas família que os três buscam a motivação extra.
Se for apenas um projeto pessoal não dará certo, terá um preço a se pagar. Minha esposa e meus filhos estão envolvidos, assim como os familiares do Giuliano e do Cesinha. Estamos todos interagidos e integrados, disse Juarez. Não dá para encarar um desafio desse porte sem ter o apoio integral da família, complementa Cesar.
Controlar a ansiedade até iniciar o projeto é uma tarefa árdua. Nesse sentido, ter equilíbrio emocional é determinante. A questão psicológica envolve muita leitura sobre o tema, outras expedições, histórias do Everest, além de nos submetermos a determinadas situações de limite físico para conhecer as reações do organismo. No caso do Everest, mais especificamente da tentativa de cume, envolve uma experiência prévia com altitude e determinados equipamentos no gelo. É preciso conhecer, pois ganha-se segundos preciosos. Porém o que vale é saber como o corpo reagirá nessa altitude, saliente Juarez Soares.
Vou lendo as histórias da montanha, clássicos do Everest. De 1996 pra cá, quando houve um grande desastre no local, passou-se a se respeitar mais o Everest, mas lendo sobre tudo isso a mente vai se preparando na mesma proporção que a ansiedade cresce. A vontade é colocar a mochila nas costas e partir logo, mas tudo é muito planejado. Vamos em busca de algumas respostas internas também para nossos desafios, diz Giuliano.
Os três capixabas chegam em Catmandu, capital do Nepal, no dia 30 de março, e nos dois dias seguintes ajustarão os últimos detalhes da expedição. No dia primeiro de abril, já em Lukla, os três iniciam a caminhada com destino ao acampamento base.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta