É tirar os pés do chão e ver as maravilhas do Espírito Santo de um outro ângulo. É ter a sensação de liberdade, paz e, ao mesmo tempo, responsabilidade. É saber que cada voo vai proporcionar emoções e pontuações diferentes também. Afinal, voar é passatempo para alguns e profissão para outros. Baixo Guandu é considerada a capital capixaba de voo livre e sediou nas últimas semanas a maior competição de parapente do mundo: a Superfinal do Mundial, que recebeu cerca de 140 pilotos de 30 países.
E o palco que reuniu os pilotos mais experientes do mundo é a rampa do Monjolo, considerada uma das melhores do Brasil e do planeta. Neste sábado (30) é o último dia de evento, que promete atrair milhares de pessoas para assistir a um verdadeiro show de cores no céu.
Frank Brown, 11 vezes campeão brasileiro, além de ser o único capixaba na disputa entre os gigantes, também esteve na organização da etapa. Na prova que fiquei em terceiro lugar passamos por cima de Pancas e foi espetacular. A luminosidade, as pedras dos pontões capixabas Sem dúvida foi uma das provas mais bonitas do mundo. É uma grande conquista ver um campeonato desse porte no nosso Estado.
Piloto mineiro, Samuel Nascimento está pela quarta vez no Espírito Santo e a cada visita se surpreende mais com o que vê no Monjolo. O relevo da região é muito propício, não tem muito vento, além de te dar muitas opções de trajeto. As condições nos primeiros dias de competição estavam fracas, e os brasileiros estão acostumados com condições mais fortes. Isso vira uma certa loteria. Mas para ser competidor de parapente você tem que se conformar que é 90% de frustração e 10% de êxito, disse ele, que é recordista mundial após voar 564km no sertão, saindo às 6h03 da Paraíba e chegando às 17h48 no Ceará.
O parapente ainda é um esporte pouco conhecido e a competição tem algumas peculiaridades. Nos dias pares, os pilotos giram para a direita e nos dias ímpares para a esquerda. A cada dia a organização define um trajeto diferente e quem fizer o percurso em menos tempo vence a prova.
Existem as penalidades. Se entrar dentro de uma térmica e girar para o lado oposto, os pilotos podem anotar o número da sua vela e depois protestar na apuração. O que também dá muita penalidade é entrar em uma nuvem, porque lá dentro você perde visibilidade e ainda pode obter uma vantagem porque vai sair mais alto, explica Raney Modeneze, que é presidente da Associação de Voo Livre de Baixo Guandu e vice-presidente da Federação Capixaba de Voo Livre.
Por não ser um esporte tão disseminado no Brasil, o parapente não forma atletas com tanta facilidade quanto futebol ou vôlei. Por isso, os pilotos de hoje são os curiosos de ontem. As pessoas vêm assistir, fazem o voo por hobby, aí gostam, fazem o curso e depois querem competir. A gente ensina como avaliar as condições meteorológicas, a parte prática..., completou.
Conheça mais sobre o esporte
O PARAPENTE
Além da vela e as linhas, o parapente basicamente consiste em um selete (a cadeira, uma espécie de casulo) e os batoques, que servem para controlar o giro e frear. Os atletas também usam GPS, que mantém o piloto informado sobre altura e velocidade, além dos pontos por onde passa, rastreadores, que enviam em tempo real a posição do piloto para o servidor, e um variômetro, aparelho que detecta térmicas (apita quando o parapente está subindo ou descendo).
EQUIPAMENTOS
Os pilotos usam capacete, óculos de sol, sapato fechado e roupa térmica. Isso porque a cada 100 metros que sobe, a temperatura resfria 0.65 graus. Ou seja, se o dia está fazendo 25 graus e o piloto sobe 2 mil metros, no céu vai fazer entre 12 e 13 graus.
TRAJETO
Cada dia a organização define um trajeto diferente. No 5º dia de competição, por exemplo, foram 85km. O trajeto passou por Itaimbé, Itapina, Ifes, Pancas e pousando em Nicolândia. Cerca de 3 horas de prova.
PONTUAÇÃO
Quem faz o trajeto em menos tempo ganha uma pontuação maior. Se entrar em uma térmica e girar para o lado oposto, o piloto pode ser penalizado, assim como se entrar em uma nuvem. Isso porque ele pode sair mais alto do que quem não entrou, então o atleta estaria obtendo uma certa vantagem.
SOBE E DESCE
O parapente sobe com correntes de ar quente (térmicas). É possível detectar as térmicas pelo relevo, formação de nuvens e por observar os pássaros. Os urubus são ótimos companheiros de voos. Se não tiver corrente o parapente desce.
Veja galeria de fotos:
SEGURANÇA
A Superfinal contou com UTIs móveis, ambulância e carro do Corpo de Bombeiros, além de vans e ônibus com kits de primeiros socorros espalhados pelo trajeto. Um helicóptero também fica à disposição.
BANHEIRO?
Não tem problema se bater a vontade de urinar no ar. As mulheres costumam usar uma fralda, enquanto os homens usam um aparelho, que é uma espécie de mangueira improvisada.
Comerciante aproveita para faturar uma graninha
Marcos Pinetti é agricultor em Baixo Guandu, mas é em sua lanchonete na rampa do Monjolo que ele consegue ter contato com pessoas de todo o planeta e, de quebra, ainda aprende uma palavra ou outra em inglês.
No domingo (24), dia que a Superfinal do Campeonato Mundial teve recorde de público, o estabelecimento chegou a contar com oito pessoas trabalhando. Em dias comuns, apenas Marcos e a esposa já dão conta do recado. Ele fica no atendimento, enquanto ela comanda a cozinha. E tem de tudo para vender: salgado, suco natural, almoço, porções, tudo feito na hora, além de bebidas em geral.
Trabalho na cidade como agricultor e aqui (na lanchonete) também. Além das competições de parapente, também temos uma comunidade aqui em cima, igreja, e vem algumas pessoas de bike. Então nosso público é bom. Os gringos são viajados, muitos falam espanhol, então não temos tanta dificuldade na comunicação durante a competição. Já aprendi a falar água de côco, água .
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