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Time amador de Cariacica se inspira na expedição que levou o homem à Lua

Time amador de Cariacica se inspira na expedição que levou o homem à Lua

O Apollo XI Futebol Clube foi criado pouco depois da primeira vez do homem no satélite da Terra, em 1969

Publicado em 20 de julho de 2019 às 18:23

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(Divulgação)

Alguns meses depois da expedição Apollo XI, que deixava a Terra para levar o homem à Lua pela primeira vez em 1969, nascia em terras capixabas o Apollo XI Futebol Clube. A equipe carrega o nome em homenagem ao desafio de romper barreiras, assim como o feito da NASA. Pode até ter sido um pequeno passo para o homem, mas inspirou um grande salto para os moradores do bairro de Flexal II, em Cariacica, que encontraram no futebol uma maneira de mudar a realidade de gerações, indo além da paixão em comum pelo esporte.

Diretores da gestão atual contam que foi através da rádio, veículo de comunicação mais popular da época, que os moradores do bairro acompanhavam as notícias da expedição de julho daquele ano.

Mural inspirado na expedição que levou o homem à Lua é um dos atrativos do campo do Apollo XI, em Cariacica. (Divulgação/Mucaf)

O cartão de visitas do bairro confirma a paixão dos moradores pelo tema. Um grande grafite localizado bem em frente ao campo do Apollo, que é motivo de orgulho para os diretores e torcedores do time. As gravuras na parede eternizam as memórias da equipe e de personagens ilustres do bairro Flexal II. O produtor cultural e autor da obra, Miquéias Gonçalves, explica a arte: "O primeiro painel conta como o bairro começou, faz alusão ao Apollo XI retratando o fato de o time ter sido fundado no mesmo ano da expedição".

O mural integra um projeto chamado Museu de Casas do Flexal (MUCAF), um circuito com 10 fachadas que contam a história do bairro desde sua origem, passando por temas importantes como a chegada da urbanização, o primeiro meio de transporte público do bairro, lideranças comunitárias e, claro, o Apollo XI Futebol Clube.

É no surrado campo do Apollo XI Futebol Clube que os jogos de várias gerações são disputados. (João Henrique Castro)

Judismar Moraes, 43, conhecido como Mazinho, completa: "O mural possui ilustrações de vários personagens que não necessariamente eram do plantel do time, mas que têm suas histórias entrelaçadas à do Apollo XI. As gravuras são lembranças do que acontecia aqui. Os dois senhores sempre ficavam sentados ao lado do campo, brincávamos de dominó com eles até a bola chegar”, afirma Mazinho, mencionando a senhora da gravura, Dona Júlia, que era mãe de dois jogadores nos anos 1980. Segundo ele, ela estava presente em todos os jogos e ficava atrás do gol torcendo para os seus filhos.

Lindomar Garcia, 48, chegou no bairro em 1979, com nove anos. Cresceu admirando os jogos em que o tio, Edimar Garcia, foi jogador e depois técnico. Atualmente, Lindomar é presidente do time e conta que o campo é a área de lazer mais movimentada do bairro desde sua inauguração em 1969 e os primeiro jogos e treinos eram realizados diante de uma plateia entusiasmada: “Era nosso Maracanã e os jogadores, a nossa seleção”, afirmou.

De fato, há uma história diferente, um curioso modo de viver o futebol no bairro Flexal II. Atualmente, o time desenvolve um trabalho social na comunidade com os jovens e crianças, o que o torna ainda mais representativo e contribui para preservar a história que os membros da direção lembram com tanto orgulho.

Mazinho conta que o futebol é um legado de família. Ele relembra que teve a honra de jogar no campo do Apollo com o pai, Maurino Moraes, que também foi presidente e treinador, e o irmão Jodson Moraes, que atuou como goleiro do time. Atualmente, Mazinho é técnico da escolinha de futebol do bairro. No mesmo campinho de grama rala e sem cobertura onde jogou por tantas vezes, hoje ensina crianças e jovens dando a oportunidade de trocar as ruas pelo futebol. Mesmo sem apoio dos órgãos governamentais, o trabalho já trouxe mudanças comportamentais que vêm sendo notadas pelos pais das crianças participantes do projeto e pelos moradores.

Lindomar lembra a popularidade do nome, sobretudo entre as crianças que têm curiosidade de entender o que significa. "Nós dizemos que é por causa do acontecimento, que a nave levava esse nome e os mais velhos resolveram homenageá-la. Éramos pessoas simples e humildes, sem grau de conhecimento e com muita dificuldade. Explicamos a nossa origem, pessoal da agricultura, uns vieram da Bahia, outros de interiores nordestinos. Eles chegaram aqui e tiveram essa luz, somos praticamente os únicos com esse nome, é bacana isso", completa.

DE GERAÇÃO EM GERAÇÃO

Camisa do Apollo XI Futebol clube, de Flexal II, em Cariacica. (João Henrique Castro)

Ainda sobre a trajetória do clube, Lindomar relembra a formação que considera a melhor desses quase 50 anos de Apollo XI. “Foi na década de 80. Jogavam o pai do Mazinho, meu tio, Peruano, Zé Dentinho, Peixinho, Ziquinha e Luiz Macarrão que foi o melhor camisa 10, indiscutível”. Ele explica os apelidos: "Macarrão porque ele é alto e magro e Ziquinha porque era bom de bola, tão bom quanto o Zico, mas pequeno", diverte-se.

O elenco citado por ele ganhou visibilidade muito pelo fato de que poucas pessoas tinham televisão em casa na época e o bairro era bastante precário, sem energia elétrica na maior parte. Assim, os anos 80 no Flexal II ficaram marcados pelas atuações do Apollo no campinho, que era o principal atrativo do bairro e costumava provocar olhares empolgados de uma massa de moradores da época.

"O homem ter ido à Lua foi um momento marcante e nós ligamos o surgimento do time a este fato. Vamos passando para nossas gerações da mesma forma que os mais antigos passaram para a gente", finaliza Mazinho.

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