Os brasileiros que perderam a cidadania italiana após a comuna de Ospedaletto Lodigiano anular todos os registros provenientes do Brasil se dizem surpresos com a decisão do município italiano. A pequena cidade, que tem 1.574 moradores, tinha 1.118 brasileiros inscritos como residentes.
O GLOBO procurou alguns deles. Enquanto alguns se negaram a falar sobre o assunto, outro grupo se defende e diz que seguiu os procedimentos corretos e mesmo assim teve a cidadania anulada. Parte deles já tenta reverter a decisão.
Uma empresa contratada por brasileiros pagava propina a funcionários públicos da cidade para que o processo fosse agilizado e a residência falsificada no país. Para a obtenção de cidadania, é obrigatória comprovação da residência ao menos temporária na cidade.
O GLOBO teve acesso à sentença de 8 de fevereiro que condenou dois brasileiros pelo crime: Wellinton Girotto e Mariane Baroni. Segundo a decisão, o casal pagava cerca de 1.250 euros a funcionários públicos italianos em troca de vista grossa dos fiscais em relação a pelo menos 500 pedidos de cidadania.
Wellinton Girotto foi condenado a três anos e seis meses de prisão e Mariane Baroni, a dois anos e seis meses. De acordo com a sentença, ambos confessaram os crimes e colaboraram com as investigações. No dia seguinte, a comuna anulou os registros. "Estou perplexa", diz Vera Donnangelo, uma das pessoas que constam na lista divulgada pela comuna.
Ela afirma ter seguido os procedimentos normais e nega qualquer tipo de ilegalidade. Todos ouvidos pelo GLOBO negaram ter feito qualquer tipo de pagamento de propina e dizem ter residido pelo menos 45 dias na Itália.
Segundo Vera, filha de italianos, seu pedido foi feito por um escritório de advocacia em Brasília em que trabalham mãe e filha, uma no Brasil, e a outra na Itália. Ela diz que esteve na Itália e reafirmou a legalidade de sua inscrição.
"Nem tentei fazer pelo consulado porque são de 10 a 12 anos (para obter a cidadania). Teve essa opção da gente fazer lá, que é o que a maioria das pessoas está fazendo. Foi dito para nós que iam 40 pessoas por mês (para a Itália)", diz.
Um grupo de quase 200 pessoas se uniu para tentar reverter a decisão. Segundo eles, já é a segunda vez que a inscrição de todos os brasileiros que estavam inscritos em Ospedaletto Lodigiano é anulada. Os brasileiros enxergam a proximidade com a eleição como o motivo para a decisão.
"A comuna poderia ser responsabilizada por irregularidades nas eleições", diz o representante de 200 brasileiros que tiveram a cidadania anulada. O representante, que não quis se identificar, tem familiares na lista divulgada pela comuna.
Logo após a decisão de setembro, a comuna voltou atrás. Os brasileiros, então, passaram a receber formulários para provar que cumpriram os requisitos necessário para a cidadania. Segundo eles, o prazo para responder o documento ainda não expirou.
"Entretanto, como há novamente eleições em 4 de março, a comuna novamente cancelou todos no dia 9 de fevereiro, apesar de ainda estarmos com prazo para responder aos formulários", diz.
O formulário enviado para os brasileiros pedia uma cópia do passaporte com carimbo de entrada na Itália ou outro país da União Europeia entre agosto de 2015 e agosto de 2017, além de todos os documentos úteis que provem residência ou moradia no município de Ospedaletto Lodigiano. Quem não responder em 20 dias após o recebimento, terá a cidadania italiana anulada.
O GLOBO não conseguiu localizar Wellinton Girotto e Mariane Baroni ou seus advogados.
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