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Coronel Lima já atuou até como conciliador conjugal de Temer

Coronel Lima já atuou até como conciliador conjugal de Temer

Ex-oficial da PM conheceu presidente nos anos 1980

Publicado em 29 de março de 2018 às 20:19

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João Baptista Lima Filho, conhecido como coronel Lima . (Reprodução)

A passagem do presidente Michel Temer pelo governo Franco Montoro, em São Paulo, lhe rendeu a amizade com o coronel João Baptista Lima Filho, da Polícia Militar, preso na manhã desta quinta-feira pela Polícia Federal. Temer foi procurador-Geral de Montoro, em 1982, e secretário de Segurança Pública, em 1984. Lima era seu assessor na pasta da segurança, no cargo de assistente policial-militar. Como parte de suas funções, andava para cima e para baixo com o secretário. “Coronel Lima” ou “doutor Lima”, como é conhecido, por muitos anos ajudou Temer em campanhas, como coordenador dos comitês eleitorais.

Acabaram tão próximos que Lima virou uma espécie de conciliador de seus problemas com a família. A relação se solidificou no primeiro divórcio de Temer, oficializado em 1987. Na época, Temer era casado com Maria Célia de Toledo, a primeira de suas quatro mulheres, e mãe de suas três filhas: Maristela, Luciana e Clarissa. Era Lima quem ajudava a conter os acessos de ciúmes de Maria Célia. “Ela chegava a ligar na casa dos conhecidos para investigar onde ele estava, se estava com alguém”, diz um interlocutor de Temer na época. “Nesse momento, Lima ajudou muito. Ia lá falar com ela: ‘fulana, você não pode fazer isso’. Lima acabou virando amigo para qualquer enrosco”.

O coronel aposentado entrou para o radar da operação Lava-Jato com a proposta de delação premiada de José Antunes Sobrinho, sócio da empreiteira Engevix. Em 2016, Sobrinho disse à força-tarefa que pagou pelo menos R$ 1 milhão de propina a Lima. Segundo Antunes, Lima afirmou que o dinheiro iria para campanhas de Temer, que sempre negou. Antunes disse que Lima, um pequeno empresário, exercia grande influência no comando da Eletronuclear. Segundo Antunes, tal influência se daria por causa de Temer. Ao associar-se a Lima, a Engevix obteve um contrato de R$ 164 milhões na estatal.

A delação da cúpula da J&F também atingiu Lima. Ricardo Saud, ex-diretor da J&F, apontou Lima como intermediário de propina para o presidente Temer. Contou aos procuradores que mandou entregar R$ 1 milhão em espécie na sede de uma das empresas de Lima na reta final da campanha presidencial de 2014. O dinheiro, disse o delator, era parte de parte de um acerto de R$ 15 milhões, “conforme indicação direta e específica de Temer”, nas palavras de Saud.

Mais tarde, os investigadores encontraram no escritório de Lima pacotes de documentos que sugeriam que, além da acusação de receber propina, ele seria responsável por resolver pendengas financeiras de Temer. Entre os papeis, havia recibos de despesas de familiares e também de Temer – um deles comprovava o pagamento de serviços executados durante a reforma da casa da psicóloga Maristela de Toledo Temer Lulia, uma das três filhas do presidente. Em depoimento à Polícia Federal em fevereiro, Saud afirmou ainda que Temer tem uma fazenda em Duartina, no interior de São Paulo, em nome do coronel Lima e de uma das empresas dele, a Argeplan.

Lima é apontado pela Procuradoria Geral da República (PGR) como um dos intermediários da propina que seria paga para a aprovação do decreto dos portos. Assinado por Temer em maio do ano passado, o decreto aumentou o prazo dos contratos de concessão de 25 anos para 35 anos, podendo ser prorrogado até 70 anos. Isso beneficiou as atuais concessionárias – uma delas, a empresa Rodrimar. Uma escuta telefônica divulgada pelo Supremo Tribunal Federal mostra o ex-deputado Rodrigo Rocha Loures insistindo com Gustavo Rocha, chefe para assuntos jurídicos da Casa Civil, em uma alteração no documento para beneficiar também as empresas concessionárias que atuavam antes de 1993, caso da Rodrimar. O presidente da Rodrimar, Antônio Celso Grecco, foi preso nesta quinta-feira.

No inquérito da PF que apura as supostas irregularidades no decreto do setor portuário, Lima conseguiu adiar, por pelo menos oito meses, seu depoimento. Sua defesa alega que o coronel não tem condições de saúde para participar do interrogatório. Aos 74 anos, Lima apresentou pelo menos três atestados médicos para justificar a recusa. Entre outras questões, a PF quer esclarecer uma troca de mensagens de celular de 30 de abril passado. No recado enviado por Lima a alguém de nome Maria Helena, ele pergunta: “Amiga, nessas condições, ainda tenho esperança de receber as ‘gorjetas’ que você não me deu. Bom domingo! Bom feriado!”. A PF não identificou quem seria Maria Helena, nem do que se trata a tal gorjeta. A PF também encontrou 12 ligações “aparentemente” para o presidente Temer em um mês, entre abril e maio de 2017.

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Em seu processo de colaboração, o doleiro Lúcio Funaro apontou Lima como um dos quatro operadores de Temer. Funaro afirmou que o presidente Temer sempre soube dos pagamentos de propina e se beneficiou do esquema de corrupção em Angra 3. No acordo, homologado pelo ministro Edson Fachin, Funaro também nomeou como operador José Yunes, seu ex-assessor especial e amigo há 40 anos; Wagner Rossi, ex-ministro da Agricultura e ex-presidente da Companhia Docas de São Paulo (Codesp), administradora do Porto de Santos; e Marcelo Azeredo, que também presidiu a Codesp. Yunes e Rossi também foram presos nesta quinta.

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