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Libra pode ter cancelada negociação de dívida com União

Libra pode ter cancelada negociação de dívida com União

Acionistas da Codesp pedem invalidação de arbitragem com base em relatório do TCU

Publicado em 20 de abril de 2018 às 13:09

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Principal porto do país, o Porto de Santos é o centro de denúncias contra o presidente Michel Temer. (Reprodução/Wikipedia)

Investigada na operação Skala, que levou para a prisão amigos do presidente Michel Temer no início do mês, o grupo Libra pode enfrentar novos problemas com a Justiça. A associação dos acionistas minoritários da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp), que administra o Porto de Santos, entrou com um pedido de cancelamento da arbitragem da dívida da empresa. Por meio da arbitragem, a Libra negocia extrajudicialmente uma dívida bilionária com a União.

O grupo Libra é, segundo a Polícia Federal (PF), uma das empresas beneficiadas pela medida provisória dos Portos. Segundo a investigação, o grupo do presidente Temer teria recebido propina para fazer alterações na lei que permitissem, de forma até então irregular, a renovação de contrato de algumas empresas que atuam no Porto de Santos. No caso da Libra, ela pode renovar o contrato mesmo com uma dívida superior a R$ 1 bilhão porque aderiu à arbitragem.

O pedido de cancelamento da negociação foi protocolado na Procuradoria Geral da República (PGR). No pedido, a associação dos acionistas minoritários cita informações de documentos do Tribunal de Contas da União (TCU), cujos técnicos apontam risco de dano ao erário e pedem a rescisão do aditivo que permitiu à empresa adensar áreas e renovar contratos de operação até 2035.

Em relatório de auditoria, técnicos do TCU consideraram irregular a prorrogação do contrato. Eles entenderam que a Libra acumulava dívida superior a R$ 1 bilhão com a Codesp — em valores atualizados chegaria a R$ 2,3 bilhões, dos quais apenas R$ 103,1 milhões teriam sido pagos pela empresa. Pela lei, empresas inadimplentes não poderiam prorrogar contratos.

Em um parecer encaminhado ao TCU, o procurador do Ministério Público de Contas Júlio Marcelo afirmou que o governo federal “se despiu de todas as suas prerrogativas e responsabilidades para atender de modo servil” aos interesses do Grupo Libra.

— Entramos com pedido de apuração de responsabilidades dos envolvidos e da nulidade da arbitragem. Os técnicos do TCU falam em graves prejuízos. Mas ninguém se manifestou ainda sobre a arbitragem, que caminha a passo de lebre. Parece que procuram moldar isso ao calendário eleitoral deste ano — afirma o advogado José Francisco Paccilo, que preside a associação.

No mês passado, amigos do presidente e sócios de Libra chegaram a ser presos na Operação Skala da PF. Investigadores suspeitam que o ex-deputado Eduardo Cunha manobrou para incluir uma emenda na "MP dos Portos", aprovada em 2013 pelo Congresso Nacional e sancionada pela então presidente Dilma Rousseff. A medida permitiu a Libra a renovação de sua sua concessão no porto de Santos (SP) mesmo com a dívida milionária com a União.

A renovação só aconteceu após uma mudança na MP dos Portos, já que o texto inicial proibia empresas devedoras de celebrar ou renovar contratos de concessão.O texto final aprovado permitiu a renovação dos contratos a partir da chamada arbitragem da dívida.

A Libra foi citada na delação do doleiro Lúcio Funaro, apontado como operador de propinas do PMDB. Ele afirmou que arbitragem foi uma mudança feita com participação do ex-presidente da Câmara, o deputado cassado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e a pedido do presidente Michel Temer, à época vice-presidente da República. Temer e Cunha sempre negaram as acusações.

Funaro afirmou que os pagamentos de propina da Libra foram feitos diretamente pelo dono da empresa, Gonçalo Torrealba, que chegou a ter sua prisão pedida na Operação Skala. A empresa doou R$ 1 milhão à conta do então vice-presidente Michel Temer nas eleições de 2014.

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Desde que foi deflagrada a Operação Skala, a Libra informou que tem prestado todos os esclarecimentos à Justiça e negado que esteja devendo R$ 2 bilhões à Codesp ou que tenha atuado ilegalmente por uma mudança da legislação que a beneficiasse.

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