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Comissão de Mortos e Desaparecidos retoma exumações de corpos pelo país

Comissão de Mortos e Desaparecidos retoma exumações de corpos pelo país

Na semana que vem, o grupo fará expedição por Foz do Iguaçu e prepara ações sobre casos do Rio e Araguaia

Publicado em 16 de maio de 2018 às 12:16

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Brasil, BrasÌlia, DF. 15/03/1979. O General de ExÈrcito Joo Batista Figueiredo (com a faixa presidencial) È visto ao tomar posse como Presidente da Repblica, apÛs receber a faixa presidencial do militar e ex-presidente da Repblica, Ernesto Geisel (ao lado de Figueiredo), em BrasÌlia, Distrito Federal. (Arquivo | Agência Estado)

Dias depois da divulgação do memorando da CIA que informou sobre as ordens do presidente Ernesto Geisel para a execução de presos políticos, a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos Políticos (Cemdp) anuncia a retomada das buscas no Parque Nacional, em Foz do Iguaçu, no Paraná, para tentar localizar os restos mortais de seis opositores políticos executados por militares em 1974. A expedição começa na próxima próxima segunda-feira, 20, e é uma das três metas que a comissão possui para 2018. Além do trabalho no Paraná, a presidente da Cemdp, Eugênia Gonzaga, diz que retomou os trabalhos de exumação para ossadas de vítimas no Rio e no Araguaia.

- A comissão está tentando abrir todas as frentes. Tudo é prioritário, mas queremos esse ano fazer pelo menos esses três pontos: Foz do Iguaçu, Rio e Araguaia - contou Eugênia Gonzaga.

Ocorrida na região da fronteira entre Brasil, Argentina e Paraguai, em 1974, a Chacina no Parque, como ficou conhecida, foi uma emboscada, organizada pelo Centro de Informações do Exército, no interior do Parque Nacional. Seis militantes da Vanguarda Popular Revolucionária (VPR), Onofre Pinto, os irmãos Daniel e Joel de Carvalho, José Lavecchia e Victor Ramos e o argentino Enrique Ruggia foram atraídos por uma equipe do tenente-coronel Paulo Malhães - e executados. Até hoje não foram encontrados seus restos mortais.Em suas entrevistas antes de morrer em 2014, Malhães disse que Onofre Pinto não morreu logo no momento em que os presos foram rendidos, mas que ele recebeu ordens para matar o preso.

Segundo a presidente da Cemdp, a equipe que irá ao Paraná possui 11 pessoas e, pela primeira vez, será possível fazer o uso de um detector de metais nos locais apontados que foram apontados por militares que participaram do crime, à época.

- Vamos na mesma coordenada geográfica que foi inspecionada antes dentro do parque, mas a ideia é utilizar o material que não foi possível usar da outra vez, o detector de metais. É muito importante o uso desse instrumento, já que foi uma chacina a tiros - afirmou Gonzaga.

Ela, porém, acredita que talvez sejam necessárias outras expedições porque a área é muito extensa e não será possível avaliar todo esse espaço. O coordenador-científico da expedição é o médico-perito do Instituto Médico-Legal de Brasília Samuel Ferreira.

BUSCAS NO RIO

No Rio de Janeiro, foi montada uma equipe da comissão para tentar identificar as ossadas dos desaparecidos políticos Paulo Torres e Joel Vasconcelos. Em 2014, pesquisadores da Comissão Nacional da Verdade rastrearam o encaminhamento dos corpos dos dois para os cemitérios da Cacuia e de Ricardo de Albuquerque, respectivamente. Naquela época, porém, não foi possível realizar nenhum trabalho de exumação, o que se tentará fazer agora.

Além disso, a Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos pretende estender o convênio que hoje existe com a equipe de antropologia forense da Unifesp para analisar as ossadas do Cemitério de Perus, em São Paulo, para os restos mortais de opositores que morreram na Guerrilha do Araguaia. Esse ano, o grupo conseguiu identificar a ossada do desaparecido político Dimas Antonio Casemiro, a primeira do trabalho e, somente 27 anos depois da descoberta da vala.

- Precisamos estender esse convênio para o DNA de Perus para poder contemplar também essas ossadas do Araguaia - explica Eugênia.

A dificuldade, segundo Gonzaga, promete ser a verba para esses trabalhos todos. O orçamento total da comissão este ano é de R$ 430 mil e o grupo aguarda a liberação de emendas parlamentares para poder realizar essas pesquisas. No ano passado, embora um total de R$ 1,5 milhão tenha sido destinado, apenas R$ 700 mil foram realmente liberados. Em 2018, a expectativa é de R$ 1,6 milhão.

Para a presidente da comissão, a divulgação do documento da CIA devia fazer com que o governo federal criasse um órgão permanente para dar sequência aos trabalhos da CNV. A Comissão Especial de Mortos e Desaparecidos só pode fazer trabalhos relativos as localizações de corpos, mas não pode empreender investigações sobre os crimes, atribuição que era da CNV.

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- Esse órgão inclusive foi uma recomendação da CNV no final de seus trabalhos - disse Gonzaga.

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