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Ativistas acusam governo de apagar as evidências da morte de brasileira

Ativistas acusam governo de apagar as evidências da morte de brasileira

Carro de Raynéia e grupos paramilitares sumiram da área do crime, diz CENIDH

Publicado em 27 de julho de 2018 às 09:23

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Raynéia Gabrielle Lima, estudante brasileira na Nicarágua. (Reprodução)

Quatro dias após o assassinato a tiros da brasileira Raynéia Gabrielle Lima na capital da Nicarágua, uma série de perguntas-chave sobre o crime permanece sem resposta das autoridades nicaraguenses. Além do Itamaraty, defensores de direitos humanos pressionam o governo de Daniel Ortega a explicar, sobretudo, qual modelo de arma foi usado para matar a estudante de Medicina e onde está o seu carro, desaparecido desde segunda-feira. Críticos acusam autoridades de deliberadamente eliminar provas que possam contrariar a versão oferecida por Manágua.

Segundo a polícia, a jovem pernambucana teria sido atingida por um “guarda de segurança privada”, e não pelos grupos paramilitares pró-governo que dominam o bairro de classe média alta onde ela foi baleada.

Dirigente do Centro Nicaraguense de Direitos Humanos (CENIDH), Gonzalo Carrión chama de “hermética e precária” a reação do governo a um crime de repercussão internacional. Segundo ele, uma sede da empresa petrolífera Albanisa, no bairro onde Raynéia foi atingida, vinha servindo de base de operação para paramilitares ao longo das repetidas ofensivas contra estudantes da Universidade Autônoma Nacional da Nicarágua (Unan) nas últimas semanas. E, depois do crime, os homens armados teriam sumido da área.

— O governo busca varrer a cena do crime, apagar provas e, inclusive, a existência dos paramilitares armados. Limpam a zona para negar sua responsabilidade — diz Carrión. — Nós nos perguntamos: onde está o carro de Raynéia? Quantas balas atingiram o carro e o seu corpo? E por que um vigilante de segurança privada teria disparado?

SOM DE DISPAROS AUTOMÁTICOS

Embora autoridades forenses tenham confirmado que a brasileira, vivendo há seis anos na Nicarágua, morreu em decorrência de feridas de bala no tórax e no abdômen, não foi divulgado o tipo de arma usado no crime. Vizinhos relatam ter ouvido diversos disparos consecutivos, semelhantes aos de uma arma de alto calibre e automática.

Para ativistas, esta é uma informação essencial, uma vez que só a polícia, o Exército e paramilitares têm autorização para carregar armas desse porte. Vigilantes privados normalmente não portam armas, segundo Carrión, ou, se tiverem aval para isso, têm armas não maiores do que escopetas:

— Na zona da Albanisa, é muito improvável que outros tivessem armas, porque os paramilitares já têm hegemonia sobre o cenário — diz o representante do CENIDH. — E, seguindo a versão do governo, o mínimo seria que já soubéssemos em que casa trabalha este vigilante investigado, se ele tinha autorização para portar armas e, neste caso, quais armas. Como a grande maioria dos crimes da Nicarágua, este caso está ficando impune.

Nesta quinta-feira, o Itamaraty disse que a embaixadora da Nicarágua no Brasil, Lorena Del Carmen Martinez, repetiu a versão da polícia sobre o crime. Ela foi chamada para prestar esclarecimentos a autoridades brasileiras, que consideram as explicações de Manágua “insuficientes”.

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