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Homens são os que mais se posicionam sobre aborto nas redes sociais

Homens são os que mais se posicionam sobre aborto nas redes sociais

Levantamento exclusivo encomendado pelo GLOBO mostra que 61,7% das menções ao tema são feitas por eles; a maioria é contra a descriminalização

Publicado em 3 de agosto de 2018 às 11:17

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Em redes sociais, posicionamento mais frequente sobre aborto é contra a descriminalização. (Reprodução)

Polêmico e complexo, o aborto é pouco debatido nas redes sociais, que estão polarizadas e têm os homens à frente da maioria dos comentários. É isso o que mostra um levantamento feito a pedido do GLOBO, segundo o qual 61,7% das menções sobre o tema são feitas por homens. A maioria dos posicionamentos nas redes (68,9%), independentemente do gênero, mostrou-se contrária à descriminalização da prática. A porcentagem a favor é maior entre as mulheres, mas também não é maioria.

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O levantamento, feito pelo “Comunica que muda”, uma iniciativa digital da agência de publicidade nova/sb, analisou menções sobre o assunto nas principais redes sociais durante dez dias, entre 13 e 22 de julho. Neste período, foram identificadas 43.783 menções à palavra “aborto”. Os estados com maior número foram Rio de Janeiro, São Paulo e Minas Gerais, nessa ordem.

— Quase não existe um debate, de fato, sobre o assunto. Há muitas confirmações de posicionamento, como “sou contra” ou “a favor” ou “não quero discutir” — diz Rodrigo Camargo, do “Comunica Que Muda". — E ter a maioria das menções de autoria de homens é uma curiosidade, já que este é um assunto específico do público feminino.

TEMA ESTÁ EM DISCUSSÃO NO SUPREMO

O assunto tem polarizado ainda mais as redes após o Supremo Tribunal Federal (STF) convocar, para esta sexta-feira e para segunda, dia 6, audiências públicas para debater a possibilidade de o país descriminalizar o aborto nos três primeiros meses de gravidez.

Para Paula Martins, diretora da ONG de direitos humanos Artigo 19 Brasil, a opinião que mais deveria ser ouvida acerca desse tema é a da mulher. Ela ressalta que existe uma violência nas redes diante de assuntos polêmicos, como o aborto, que pode resultar em uma autocensura.

— Vimos o que aconteceu com a Debora Diniz (defensora da descriminalização do aborto que sofreu ameaças de morte). Isso faz com que muitas mulheres não se sintam confortáveis para falar nas redes — diz ela.

Exemplo de posicionamento contrário à descriminalização do aborto . (Reprodução)

Laura Molinari, idealizadora da Beta, robô que atua no chat do Facebook em defesa das mulheres, acredita que o fato de a mulher ser a principal atingida pelo aborto também é um dificultador para que ela se manifeste:

— Para o homem, o assunto perde a complexidade que tem para a mulher porque ele nunca passará por isso. Se uma em cada cinco mulheres aborta (segundo Pesquisa Nacional de Aborto 2016), claro que muitas não vão se manifestar. Se ela não abortou, conhece alguém que tenha feito.

Entre as menções identificadas pelo “Comunica que muda", estão a de um homem que mostra aparente contradição: “Sou contra o aborto, mas, se a mina engravidar,eu meto o pé”. Entre as consideradas favoráveis à legalização do aborto, há uma indicando ponderação: “O Estado não deve se meter no assunto, que tende a ser uma decisão difícil para a mulher. Nem proibir, nem estimular”. Outro exemplo indica o quanto o tema pode ser tratado de forma agressiva nas redes: “Dependendo das respostas (sobre ser a favor ou contra), as pessoas se revoltam e começam a ofender".

Exemplo de menção favorável á descriminalização do aborto . (Reprodução)

'BOLHA INFORMATIVA'

Estabelecer um debate de qualidade, portanto, é um desafio. A própria dinâmica das redes sociais dificulta isso. Paula Martins destaca que as pessoas se sentem protegidas atrás do computador e dizem o que não teriam coragem de dizer se fosse pessoalmente. Ela também ressalta que existe uma “bolha informativa”:

— Ao entrar numa rede, juntam-se ali os seus amigos, que pensam como você. Além disso, há a interferência dos algoritmos, que fazem com que cheguem até você informações a partir de como você interage. Não é um debate na praça pública.

Laura Molinari reforça que, as fake news exercem grande influência.

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— As pessoas preferem reforçar a opinião delas e distorcer dados. Mas deveriam olhar para o assunto com mais cuidado por conta da realidade que temos no Brasil: mulheres morrendo em decorrência de abortos clandestinos — conclui ela.

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