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Exploradores de índios serão homenageados no desfile da Independência

Exploradores de índios serão homenageados no desfile da Independência

Governo defende 'importância histórica' de bandeirantes que usaram mão de obra escrava

Publicado em 6 de setembro de 2018 às 11:44

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Tela mostra missão de Raposo Tavares (à direita, segurando o chapéu): bandeirante contribuiu para a expansão das fronteiras brasileiras. (Reprodução)

Dezesseis personalidades históricas brasileiras serão homenageadas nesta sexta-feira, no desfile que comemora, em Brasília, a Independência do país. Segundo o governo federal, a seleção é composta por pessoas que tiveram excelência em seu campo de atuação e na História. Entre elas, porém, há pelo menos dois personagens controversos — os bandeirantes Fernão Dias Paes Leme e Raposo Tavares, que exploraram mão de obra indígena em suas incursões pelo interior.

Paes Leme ganhou o apelido de "caçador de esmeraldas" por ter se dedicado à busca por pedras preciosas. Tavares, por sua vez, percorreu mais de dez mil quilômetros ao longo de três anos, entre São Paulo e o Rio Amazonas. Historiadores acreditam que a inclusão dos bandeirantes no panteão dos heróis nacionais é fruto de uma releitura de sua imagem, menosprezando seu caráter escravocrata em prol da exaltação de seu caráter desbravador.

Professora de História do Brasil da UFRJ, Marieta de Moraes Ferreira ressalta que os bandeirantes contribuíram para a ampliação das fronteiras do país além do que havia sido determinado pelo Tratado de Tordesilhas, mas que a análise sobre suas viagens mudou.

- Muitos personagens históricos podem ser alvo de uma memória positiva ou negativa, dependendo do momento em que são vistos - avalia. - Os bandeirantes já foram valorizados como desbravadores, mas depois houve uma crítica sobre o alto custo de suas práticas. Agora, talvez haja um esquecimento sobre as lutas que os indígenas enfrentaram.

Renato Franco, especialista em Brasil Colonial da UFF, acredita que os intelectuais paulistas revitalizaram a imagem dos bandeirantes na década de 1930, quando uma revolução capitaneada por Getúlio Vargas tirou do poder a elite política do estado.

- O projeto getulista é nacionalista, mestiço, agregador. São Paulo criou uma memória diferente: criou instituições, arquivos e monumentos para valorizar os bandeirantes e as incursões que levaram a civilização ao interior do país e contribuíram para o desenvolvimento econômico paulista - explica. - Essa visão negligenciou as atrocidades e as matanças realizadas nessas bandeiras. Fernão Dias Paes Leme e Raposo Tavares eram exploradores de indígenas.

Franco questiona por que a memória dos bandeirantes é recuperada em um momento em que a memória sobre a escravidão é tão sensível para a definição da identidade nacional. No entanto, reforça que outros personagens de popularidade incontestável também tinham seus defeitos, muitas vezes esquecidos nos livros de História. É o caso de Tiradentes, uma figura recuperada pela elite intelectual no início do século XIX, que viu nele traços de "republicanismo" e indignação contra a monarquia. Tiradentes, apesar da fama de militante pela liberdade, também tinha escravos.

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Procurado pela reportagem, o Palácio do Planalto afirmou que os personagens foram escolhidos devido à sua importância histórica. Além dos bandeirantes e de Tiradentes, o desfile homenageará os militares Duque de Caxias, Marechal Rondon e Almirante Tamandaré, o político José Bonifácio, o sanitarista Oswaldo Cruz, os imperadores Pedro I e Leopoldina, o padre Diogo Antônio Feijó, o quilombola Zumbi dos Palmares, o aviador Santos Dumont, a pintora Tarsila do Amaral e as líderes feministas Maria Quitéria e Chiquinha Gonzaga.

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