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Preço da cerveja pode dobrar por causa de mudanças climáticas

Preço da cerveja pode dobrar por causa de mudanças climáticas

Secas e inundações vão reduzir a produção global de cevada entre 3% e 17%, dependendo do cenário

Publicado em 15 de outubro de 2018 às 18:35

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Cientistas alertam que secas e tempestades mais constantes provocarão uma queda acentuada na produção do grão, levando a uma menor oferta e maiores preços ao consumidor. (Reprodução | Flickr)

As mudanças climáticas estão provocando o aumento do nível do mar, na frequência de extremos climáticos e colocando em risco a produção agrícola, inclusive da cevada, ingrediente principal da cerveja. Em artigo publicado nesta segunda-feira (15) na revista “Nature Plants”, uma equipe internacional de cientistas alerta que secas e tempestades mais constantes provocarão uma queda acentuada na produção do grão, levando a uma menor oferta e maiores preços ao consumidor.

"O mundo está enfrentando muitos impactos das mudanças climáticas que ameaçam a vida, então as pessoas terem que gastar um pouco mais para beber cerveja pode parecer uma comparação trivial", comentou Steven Davis, pesquisador da Universidade da Califórnia em Irvine e coautor da pesquisa. "Mas definitivamente existe um apelo cultural à cerveja, e não ter uma tulipa gelada no fim de um dia quente pode ser um insulto".

Os cientistas modelaram cenários de acordo com os níveis atuais e em projeções futuras de emissões de gases-estufa. Dependendo da severidade dos eventos, as perdas na produção variam, em média, entre 3% e 17%, inclusive em grandes regiões produtoras, como as Grandes Planícies americanas, as pradarias canadenses, as estepes asiáticas, Europa e Austrália.

“As maiores perdas ocorrem em áreas tropicais, como as Américas Central e do Sul e na África Central”, diz o artigo. “Nos mesmos anos, a produtividade em cultivos de cevada em clima temperado, como na Europa, diminuem de forma moderada”.

"Os níveis atuais de consumo de combustíveis fósseis e poluição de CO2 irão resultar no pior cenário, com mais extremos climáticos impactando negativamente a indústria da cerveja", explicou Nathan Mueller, professor na Universidade da Califórnia e coautor do artigo. "Nosso estudo demonstrou que até mesmo níveis modestos de aquecimento levarão ao aumento nos eventos de seca e calor extremo em áreas de cultivo da cevada".

Os pesquisadores destacam que, hoje, apenas 17% da cevada colhida no mundo vai para a indústria da cerveja, pois a maior parte é utilizada para alimentar o gado. Com a queda prevista na produção, os fazendeiros enfrentarão um dilema: matar a fome dos animais ou a sede dos humanos? Inserindo o declínio na disponibilidade de cevada no modelo de equilíbrio geral do setor, os cientistas encontraram uma queda ainda maior no volume de cevada para a fabricação de cerveja.

No pior dos cenários, a redução na oferta de cevada para as cervejarias varia entre 27% e 38% na Bélgica e na Alemanha, dois grandes centros produtores e consumidores da bebida. Com menor oferta, os modelos sugerem uma queda no consumo global de cerveja de 16% e aumento médio de 100% nos preços da bebida. Mesmo no cenário mais otimista, o consumo médio global cai 4% e os preços saltam 15%.

"Nossos resultados mostram que nos mais severos eventos climáticos, a oferta de cerveja pode cair 16%", afirmou Davis. "Isso é comparável a toda cerveja consumida nos EUA. O clima futuro e os preços podem tirar a cerveja do alcance de centenas de milhões de pessoas em todo o mundo".

Ninguém deve morrer se não puder tomar uma cerveja, mas trata-se de mais um exemplo de como as mudanças climáticas afetarão o cotidiano das pessoas em todas as regiões do mundo, não apenas nos países insulares e nas regiões costeiras que poderão desaparecer com a elevação do nível do mar. Os pesquisadores alertam ainda que muitos países mantém estoques de emergência para outros grãos, como milho, soja e trigo, mas não para a cevada.

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"As mudanças climáticas irão afetar todos nós, não apenas as pessoas na Índia ou em países africanos", disse Dabo Guan, professor na Universidade de East Anglia e líder da pesquisa.

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