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Malária também pode ser causa de microcefalia em bebês, diz estudo

Malária também pode ser causa de microcefalia em bebês, diz estudo

Pesquisa acompanhou 600 gestantes em região amazônica onde doença é endêmica

Publicado em 22 de novembro de 2018 às 21:55

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Mosquito transmissor da malária. (Reprodução | Rede Amazônica)

A malária, doença de origem tropical transmitida pela fêmea do mosquito Anopheles, também pode causar diminuição do perímetro encefálico e microcefalia em recém-nascidos a partir da infecção da mãe durante a gestação, segundo pesquisa publicada pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), da USP. O estudo, realizado entre 2013 e 2015, acompanhou 600 gestantes na região amazônica de Cruzeiro do Sul, no Acre, além de usar números relativos a recém-nascidos e episódios de malária — obtidas em plataformas oficiais —, cruzando-os em seguida, de forma a ter resultados mais abrangentes.

De acordo com os dados iniciais do estudo publicados pela primeira vez em 2017, além de outros problemas já comprovados, a ocorrência da malária durante a gravidez é causadora de menor perímetro encefálico principalmente se for contraída nos últimos meses de gravidez. Com a gestação sendo um período de maior fragilidade corporal da mulher, os riscos da doença envolvem principalmente a anemia na gestante, além de parto prematuro, baixo peso do recém-nascido e risco de aborto.

A microcefalia estava até então associada apenas ao vírus da zika, como afirmou um dos pesquisadores responsáveis pelo projeto, Claudio Marinho. Segundo o pesquisador, nas 600 gestantes acompanhadas durante o estudo, grande parte das 400 que apresentaram malária durante o período de análise tiveram bebês com redução do perímetro encefálico, o que não é o mesmo que microcefalia, lembra:

"Perímetro encefálico menor não é necessariamente um caso de microcefalia, mas um estágio anterior: é o que no inglês se chama de "small head". Tivemos alguns casos de microcefalia, mas a maioria apresentou apenas redução do perímetro", disse ele.

Ainda segundo Marinho, após o resultado, uma criteriosa análise foi feita, com a preocupação de certificar que essas gestantes tinham apenas malária e não outras infecções — como a própria zika — fato comprovado posteriormente. Nos casos analisados, a placenta se desenvolveu de forma diferente por conta do vírus Plasmodium falciparum , causador da malária.

Como outros casos de microcefalia, o tamanho do crânio pode voltar ao normal com o tempo, como lembra Marinho:

"Quando uma criança nasce com microcefalia, isso não quer dizer que isso é pra sempre, Inclusive com Zika. Nós não acompanhamos depois do nascimento, mas por dados da literatura sabemos que isso pode se reverter com o tempo. Acontece que mesmo revertendo você pode ter algum tipo de sequela, e danos ao desenvolvimento da cognição e do sistema nervoso central podem ocorrer", diz ele.

Com os resultados em mão, a hipótese foi aplicada em dados retrospectivos de outras 5 mil gestantes da mesma região entre 2012 e 2013. A relação entre malária, gestantes e bebês com menor perímetro encefálico também foi encontrada, segundo Marinho, o que dá força à pesquisa.

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"Nossa pesquisa foi confirmada por dados anteriores e se antes esses números antigos não foram colocados sob essa perspectiva, é porque essa relação entre perímetro encefálico, gestação e vírus só começou a ser mais estudada a partir dos crescentes casos de zika em 2016", afirmou ele.

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