A malária, doença de origem tropical transmitida pela fêmea do mosquito Anopheles, também pode causar diminuição do perímetro encefálico e microcefalia em recém-nascidos a partir da infecção da mãe durante a gestação, segundo pesquisa publicada pelo Instituto de Ciências Biomédicas (ICB), da USP. O estudo, realizado entre 2013 e 2015, acompanhou 600 gestantes na região amazônica de Cruzeiro do Sul, no Acre, além de usar números relativos a recém-nascidos e episódios de malária obtidas em plataformas oficiais , cruzando-os em seguida, de forma a ter resultados mais abrangentes.
De acordo com os dados iniciais do estudo publicados pela primeira vez em 2017, além de outros problemas já comprovados, a ocorrência da malária durante a gravidez é causadora de menor perímetro encefálico principalmente se for contraída nos últimos meses de gravidez. Com a gestação sendo um período de maior fragilidade corporal da mulher, os riscos da doença envolvem principalmente a anemia na gestante, além de parto prematuro, baixo peso do recém-nascido e risco de aborto.
A microcefalia estava até então associada apenas ao vírus da zika, como afirmou um dos pesquisadores responsáveis pelo projeto, Claudio Marinho. Segundo o pesquisador, nas 600 gestantes acompanhadas durante o estudo, grande parte das 400 que apresentaram malária durante o período de análise tiveram bebês com redução do perímetro encefálico, o que não é o mesmo que microcefalia, lembra:
"Perímetro encefálico menor não é necessariamente um caso de microcefalia, mas um estágio anterior: é o que no inglês se chama de "small head". Tivemos alguns casos de microcefalia, mas a maioria apresentou apenas redução do perímetro", disse ele.
Ainda segundo Marinho, após o resultado, uma criteriosa análise foi feita, com a preocupação de certificar que essas gestantes tinham apenas malária e não outras infecções como a própria zika fato comprovado posteriormente. Nos casos analisados, a placenta se desenvolveu de forma diferente por conta do vírus Plasmodium falciparum , causador da malária.
Como outros casos de microcefalia, o tamanho do crânio pode voltar ao normal com o tempo, como lembra Marinho:
"Quando uma criança nasce com microcefalia, isso não quer dizer que isso é pra sempre, Inclusive com Zika. Nós não acompanhamos depois do nascimento, mas por dados da literatura sabemos que isso pode se reverter com o tempo. Acontece que mesmo revertendo você pode ter algum tipo de sequela, e danos ao desenvolvimento da cognição e do sistema nervoso central podem ocorrer", diz ele.
Com os resultados em mão, a hipótese foi aplicada em dados retrospectivos de outras 5 mil gestantes da mesma região entre 2012 e 2013. A relação entre malária, gestantes e bebês com menor perímetro encefálico também foi encontrada, segundo Marinho, o que dá força à pesquisa.
"Nossa pesquisa foi confirmada por dados anteriores e se antes esses números antigos não foram colocados sob essa perspectiva, é porque essa relação entre perímetro encefálico, gestação e vírus só começou a ser mais estudada a partir dos crescentes casos de zika em 2016", afirmou ele.
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