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Decreto das armas pode aumentar arsenal do crime

Decreto das armas pode aumentar arsenal do crime

Armas obtidas legalmente também entram no mercado paralelo

Publicado em 22 de janeiro de 2019 às 12:07

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(Pexels)

O provável aumento da circulação de armas de fogo nas mãos de cidadãos comuns, resultado possível do decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro no dia 15 que flexibilizou a posse, pode incrementar o arsenal do crime. Ao menos é isso que afirmam especialistas que analisam a segurança pública.

Estudos mostram que boa parte das armas em poder de criminosos tem origem legal. Finalizada em novembro de 2006, a Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) que investigou o comércio ilegal de material bélico no Congresso Nacional mostrou que 86% das armas encontradas com bandidos foram adquiridas legalmente e posteriormente desviadas para o crime.

Para o ex-comandante da PM no Rio, coronel Ubiratan Ângelo, que também é pesquisador da ONG Viva Rio, esse dado continua atual:

— O decreto pode facilitar a ida das armas para as mãos de bandidos, porque o criminoso vai onde a coruja dorme. Se aumenta a comercialização de armas, aumenta também a ambição dos bandidos, que buscam casas de quem tem armas, além de estoques de armas das polícias e de empresas de segurança privada.

Segundo o especialista, a maior parte das armas apreendidas que têm origem legal é de pequeno porte, como revólveres e pistolas.

— Fuzis têm origem ilegal. A maioria das armas apreendidas é de revólveres legais.

Ângelo também ressalta que, em muitas das 134 mortes de policiais do Rio em 2017, os assassinos levaram a arma da vítima:

— Essa arma foi para o crime. O policial, que é treinado, entrou nessa estatística. Imagine o cidadão comum.

A CPI que investigou o tráfico de armas também constatou que de um lote de 10.549 armas apreendidas no Rio de Janeiro entre 1998 e 2003, 74% haviam sido compradas por pessoas físicas legalmente e 25% por empresas de segurança privada.

Analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, Guaracy Mingardi alerta para o fato de que mortes violentas no Brasil ocorrem principalmente por armas de pequeno porte.

— A maior parte dos homicídios é por calibre 38, 380. Não é fuzil nem metralhadora. É uma arma que alguém comprou há 10, 20 anos e que acabou caindo na mão do criminoso porque foi roubada ou desviada.

Já foram ilegais

Segundo ele, armas usadas em homicídios e crimes comuns no país foram, em algum momento, armas legais. Esse movimento, da legalidade para o crime, pode ser facilitado pelo decreto assinado por Bolsonaro, diz Mingardi.

— Aos poucos isso vai acontecer. Não será amanhã, mas daqui a cinco, dez anos. Uma boa parte vai acabar caindo nas mãos de criminosos. O próprio Bolsonaro teve uma arma roubada no passado — diz ele, acrescentando:

O jurista Wálter Maierovitch, especialista em criminalidade transnacional, afirma que o decreto assinado por Bolsonaro pode levar mais armas às mãos do crime.

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— É lógico que pode (facilitar armas nas mãos de bandidos). Vai colocar mais armas no mercado e vai dar mais facilidade de ter subtração de armas. Imagine alguém que pode ter até quatro armas. Agora imagine dez casas, dez moradores e quatro armas para cada um. Seria um arrastão de armas. O governo faz de conta que essas armas não vão gerar violência, mas vão.

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