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Marielle: testemunha desmente versão de miliciano e vereador investigados

Marielle: testemunha desmente versão de miliciano e vereador investigados

Em depoimento, Renatinho Problema diz que Marcello Siciliano e Orlando de Curicica se encontraram pelo menos quatro vezes

Publicado em 16 de janeiro de 2019 às 11:05

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Renatinho Problema é conduzido a uma cela: apontado pela polícia como braço direito de Orlando de Curicica, ele afirma que seu chefe esteve na casa e numa empresa de político. (Divulgação / Polícia Civil)

A Delegacia de Homicídios da Capital tem um testemunho que contesta declarações de dois investigados pelo assassinato da vereadora Marielle Franco (PSOL) e do motorista Anderson Gomes, ocorrido há dez meses no Estácio. Em um depoimento, Renato Nascimento dos Santos, o Renatinho Problema, disse que o miliciano Orlando Oliveira de Araújo, o Orlando Curicica (de quem seria braço direito), e o vereador Marcello Siciliano (PHS) se encontraram em pelo menos quatro ocasiões. Orlando e Siciliano haviam dito à especializada que só se conheciam “de vista”.

O depoimento de Renatinho Problema foi inserido num dos 28 volumes do inquérito sobre a morte de Marielle e Anderson. Ele disse à polícia que trabalhou como motorista de Orlando e que tinha a rotina de levar o miliciano a uma empresa e ao apartamento de Siciliano, no Recreio. A empresa seria a Martinelli Imóveis, que de acordo com a Junta Comercial, funciona no mesmo endereço da La Mia Vita Empreendimento Imobiliários, de propriedade do vereador.

PARCERIA SOB SUSPEITA

Para a polícia, Renatinho, preso no dia 18 de dezembro do ano passado, não era só o motorista de Orlando. Os dois respondem, juntos, a pelo menos quatro inquéritos sobre assassinatos. Antes de ser capturado por uma equipe da 82ª DP (Maricá), Renatinho tinha dois mandados de prisão preventiva por homicídio e associação criminosa.

Em um dos inquéritos, Renatinho e Orlando são acusados do assassinato do presidente da escola de samba Parque da Curicica, Wagner Raphael de Souza, o Dádi, em 2015. Segundo investigadores, a vítima não aceitava interferências de uma milícia na agremiação. Dádi morreu numa emboscada: seu carro foi atingido por 12 tiros. Uma outra pessoa que estava no veículo sobreviveu ao ataque e tem colaborado com a Delegacia de Homicídios.

Renatinho também é suspeito do assassinato de Rafael Freitas Pacheco da Silva, o Leão, crime que teria sido motivado por uma disputa pela distribuição ilegal de sinais de TV a cabo em parte da Zona Oeste. Executado com vários tiros em novembro de 2015 na Estrada da Boiúna, na Taquara, Leão era sócio da pessoa considerada testemunha-chave do caso Marielle. Orlando Curicica 2

Antes do depoimento de Renatinho — que não é considerado suspeito de envolvimento na morte de Marielle e Anderson —, a única evidência que ligava Orlando a Siciliano era a delação de um ex-integrante da quadrilha do miliciano. Ele contou que, em junho de 2017, viu o vereador em um restaurante do Recreio com Orlando. O político teria reclamado de Marielle e pedido ao miliciano para “resolver o problema”.

Em depoimento na Delegacia de Homicídios, Siciliano negou a conversa e disse que não conhecia Orlando, embora pudesse ter apertado a mão do miliciano em algum momento, por causa de sua atividade política.

De acordo com a testemunha-chave, Siciliano disse para Orlando: “Tem que ver a situação da Marielle. A mulher está me atrapalhando”. Depois, teria batido forte numa mesa e gritado: “Marielle, piranha do Freixo”. Por fim, ainda segundo o depoimento, olhou para o miliciano e disse “precisamos resolver isso logo”.

Marielle, antes de ser eleita vereadora com 46 mil votos, foi assessora de Marcelo Freixo (PSOL) durante a época em que ele integrava a CPI das Milícias, aberta na Assembleia Legislativa do Rio.

Orlando foi preso por porte ilegal de arma em outubro de 2017, e, depois da delação da testemunha-chave do caso Marielle, acabou sendo transferido para a penitenciária federal de Mossoró, no Rio Grande do Norte. Hoje, ele responde a sete inquéritos por dez homicídios.

SICILIANO NEGA

A Delegacia de Homicídios da Capital acredita que o assassinato de Marielle e Anderson está relacionado a uma luta por regularização fundiária na Baixada de Jacarepaguá, principalmente na região das Vargens (Grande e Pequena) e de Guaratiba, áreas de influência política de Siciliano, que atua no ramo imobiliário.

Em março de 2017, duas funcionárias do gabinete de Marielle participaram de uma reunião na comunidade Novo Palmares, em Vargem Grande, para discutir uma campanha por reconhecimento de propriedade de terras. Para a Delegacia de Homicídios da Capital, esse evento levou muitas pessoas a acreditarem que a vereadora daria apoio à luta dos moradores, algo que teria irritado empresários que constroem, vendem e alugam imóveis na região.

A Delegacia de Homicídios da Capital descobriu que, logo após a reunião, uma líder comunitária da Novo Palmares — cujo nome é mantido em sigilo por questão de segurança — telefonou para Siciliano.

O vereador reafirmou na terça-feira que nunca manteve qualquer relação pessoal com Orlando. Em nota, destacou que, se eventualmente cumprimentou o miliciano em algum lugar, isso foi algo normal, já que é um político e, como tal, tem o hábito de falar com muitas pessoas.

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Siciliano também voltou a dizer que está “revoltado com tamanha exposição” de seu nome “sem qualquer prova”. Por fim, disse que quem tenta ligá-lo ao assassinato de Marielle e Anderson é uma pessoa sem credibilidade, um criminoso confesso.

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