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Jovens fazem atos no Brasil pelo clima, mas movimento é novo no País

Jovens fazem atos no Brasil pelo clima, mas movimento é novo no País

Há pelo menos 21 ações previstas no País nesta sexta, quando jovens de todo o mundo fazem greves escolares para pedir ações dos governantes contra mudanças climáticas

Publicado em 15 de março de 2019 às 13:49

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Estudantes participam de protesto de estudantes contra as mudanças climáticas nos arredores do monumento do Pantheon, em Paris, na França, nesta sexta-feira, 15 de março de 2019. (Associated Press/Estadão Conteúdo)

A greve escolar climática global terá a colaboração de pelo menos 21 ações no Brasil nesta sexta-feira (15), mas o movimento demorou para ser notado por aqui e a mobilização climática dos jovens ainda engatinha no País.

Em São Paulo, estudantes do colégio Santa Cruz, zona oeste, descobriram na terça-feira os planos para esta sexta-feira e que jovens do mundo inteiro já vinham se mobilizando há meses em resposta ao após o chamado da estudante sueca Greta Thunberg.

Richard Timoner, de 16 anos, aluno do 1º ano do ensino médio do Santa Cruz, conta que tomou conhecimento do Fridays for Future lendo uma matéria sobre Greta.

“Achei muito legal e procurei me informar sobre ações que ocorreriam em São Paulo porque queria participar. Aí vi que não tinha nada formado, que teria de eu mesmo fazer algo.”

Ele, então, acionou mais dois amigos e, em dois dias, já tinham reunido quase 50 pessoas. O plano é ir para a escola nesta sexta-feira vestidos de verde, na hora do recreio ler uma tradução do discurso que Greta proferiu no Fórum Econômico Mundial de Davos no começo do ano e depois seguirem para o Masp, onde há a expectativa da realização de um ato ao meio dia.

Timoner conta que depois de ler a matéria, foi buscar também informações sobre dados citados pela adolescente sueca, como o último relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), lançado no ano passado, que alerta para um aumento da temperatura do planeta já em 2040.

“Eu fiquei extremamente preocupado. A gente aprende um pouco sobre mudanças climáticas na escola, havia uma preocupação com o comportamento do governo Bolsonaro com as questões ambientais, mas eu não estava por dentro do que ela fala, não sabia do relatório”, conta.

O plano, porém, não é abraçar as greves todas as sextas. “Como soubemos disso tudo muito tarde, queremos agora começar a formatar algo para quem sabe ter um movimento mais forte no ano que vem”, diz o estudante, que planeja aproximar a discussão da cidade, principalmente em relação aos problemas de mobilidade.

Em Florianópolis, os amigos Tom Ramsay, de 15 anos, e Isaura Viggiano Souza, de 16, também afirmam que sabiam genericamente sobre as mudanças climáticas, mas sem entender sua gravidade.

“Li notícias na internet, achei legal e fiquei triste porque vi que não tinha nada muito planejado aqui no Brasil. Uma amiga que mora na Groenlândia me disse que estava organizando lá a grave e resolvi fazer aqui também”, conta Tom.

“Não sabemos bem o que pedir ou como pedir, mas queremos alertar as pessoas e chamar atenção sobre quão grave é essa história”, afirma Isaura. Os dois se uniram, convocaram amigos da escola Waldorf Anabá e de outros colégios e vão fazer uma caminhada pelo centro da cidade.

“Acho que os governantes que estão no poder até agora, pela idade que eles têm, talvez achem que não vão sofrer tanto, mas a gente vai, ou os nossos filhos, nossos netos. Com o aquecimento vai ser mais difícil ter agricultura. Vai ser cada vez pior para as pessoas. Mesmo que eu não viva num planeta assim, não quero que as próximas gerações sofram isso. Quero que o planeta melhore em vez de decair cada vez mais”, complementa a adolescente.

“O que nos inspira é o discurso de Greta, que fala que o futuro é nosso. Somos nós que vamos viver mais 70 anos, nossos filhos e netos. Queremos fazer a mudança agora e não esperar até termos 40, 50 anos para fazer algo”, diz Tom.

Por enquanto também não há plano de ter greve toda sexta. “A princípio é um ato pontual para despertar o olhar das pessoas para a gravidade dos fatos e urgência da mudança. Para que percebam que os pequenos atos de cada um são necessários e que se interessem mais por estar cientes das ações dos governos (tanto federal quanto o municipal) com relação a isso”, diz Isaura.

E por que há pouca mobilização no Brasil?

Ambientalistas que trabalham com jovens no País opinam que aqui ainda estamos alguns passos atrás em relação aos estudantes europeus. Eles defendem que antes mesmo de se engajarem em greves climáticas, os estudantes precisam passar por uma boa educação climática.

Em entrevista ao Estado, Greta contou que já desde os 9 se preocupava com o aquecimento global, quando começou a ter o assunto na escola. No Brasil, o assunto aparece nas aulas de ciências, mas não de modo transversal e interdisciplinar, como ele de fato é.

“Antes de ser motivo de greve na escola, temos de exigir que as mudanças climáticas sejam incorporadas no currículo das escolas de modo amplo. Aqui temos uma lacuna. Os alunos precisam ter conhecimento científico para puxar uma greve”, afirma a ambientalista Evelyn Araripe, de 33 anos, que aplica no Brasil o projeto da ONG Plant for the Planet, de educação climática, que surgiu na Alemanha justamente como iniciativa de um menino de 9 anos como uma competição de plantio de árvores.

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“Educação climática é ter consciência de que nada do que a gente faz, come, veste, bebe está deslocado de impacto climático. Sem uma educação climática, a gente não consegue nem entender o que o Acordo de Paris se propõe, que é manter o aquecimento da temperatura do planeta abaixo de 2ºC até o final do século”, afirma Iago Hairo, da ONG jovem Engajamundo, em um vídeo feito para explicar o que são as Fridays for the Future.

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