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Rara, falha na vacina contra o sarampo pode acontecer

Rara, falha na vacina contra o sarampo pode acontecer

Existem o que especialistas chamam de falhas primária e secundária

Publicado em 16 de setembro de 2019 às 19:58

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Rara, falha na vacina contra o sarampo pode acontecer. (Wilson Dias/Agência Brasil | Arquivo)

Não é comum tomar a vacina contra o sarampo e contrair a doença, mas isso pode acontecer. Existem o que especialistas chamam de falhas primária e secundária.

Na primária, o indivíduo recebe as doses recomendadas pelo calendário nacional de imunização e o organismo não responde à vacina; já na secundária, há perda da proteção com o passar dos anos.

"A eficácia da vacina para uma dose fica entre 85% e 90%; para duas doses é de 95% a 97%, levando em consideração um paciente saudável. Isso significa que, em uma dose, o percentual de falha da vacina gira em torno de 10% a 15% e na segunda é de 3% a 5%", explica o presidente do Departamento Científico de Imunizações da Sociedade Brasileira de Pediatria, Renato Kfouri.

Ele reforça que, além de raros, casos de sarampo pós-vacina são leves. "Em época de surto, é mais comum encontrarmos sarampo em vacinados há mais de dez anos."

Francisco Ivanildo Oliveira Júnior, infectologista do Sabará Hospital Infantil, diz que, quando há epidemia ou surto, o número de doentes aumenta e ficam em evidência os casos de falha primária.

Kfouri alerta para a importância da vacinação. "É a única forma de interromper a cadeia de transmissão do vírus. A maior parte dos acometidos pelo sarampo são crianças menores de um ano, período em que as taxas de complicação e óbito são maiores, porque o sistema imunológico da criança responde com menos intensidade ao vírus. Então, há risco de complicações infecciosas, encefalite e pneumonias", afirma.

Segundo o médico do Sabará, a principal teoria discutida sobre a razão de haver falhas na vacina é o fato de que há 20 anos, quando se aplicava uma só dose, as pessoas eram imunizadas, mas eram expostas a casos de sarampo, então esse contato funcionava como um reforço da imunidade.

"Quando a doença passa a ser rara, as pessoas vacinadas perdem o contato com o vírus e a imunidade diante dele cai. Se essa hipótese, que tem sido usada para justificar os casos atuais de sarampo, se confirmar, será necessário revisar a teoria de que duas doses da vacina são suficientes para a vida inteira, ou seja, é possível que haja necessidade de tomar outros reforços ao longo da vida. E isso vale para qualquer vacina", diz.

Outra teoria, de acordo com Júnior, relaciona o atual surto de sarampo à modificação do vírus. "Apesar de só existir uma espécie de vírus do sarampo, ele tem genótipos distintos [pequenas diferenças no material genético que determinam a linhagem e permitem traçar o caminho do vírus]. A discussão atual é se a vacina tem menor eficácia diante desse genótipo, e por isso pessoas imunizadas estão contraindo doença, e se há necessidade de produzir vacinas de acordo com o genótipo circulante."

É importante esclarecer que o sarampo em vacinados não é perigoso, pois é uma forma leve, com tempo mais curto e sintomas mais amenos.

A vacina contra o sarampo é segura, segundo os especialistas. As reações mais comuns são dor no local da aplicação e vermelhidão.

Segundo Ana Paula Sayuri Sato, professora do Departamento de Epidemiologia da Faculdade de Saúde Pública da USP, como a vacina é de vírus vivo, o paciente pode apresentar sintomas que lembram a doença entre 4 e 12 dias após tomá-la.

"A vacina provoca uma simulação da doença para ativar o organismo a produzir anticorpos contra o sarampo. Não deixem de se vacinar para proteger a própria saúde e aumentar a cobertura vacinal, para impedir que a doença se espalhe na população."

Outras reações à vacina tríplice viral (que inclui a imunização contra o sarampo, caxumba e rubéola) são febre durante dois dias, manchas vermelhas no corpo, gânglios no pescoço e atrás das orelhas e edema na região das parótidas (glândulas salivares, na região do pescoço) por conta do componente do vírus da caxumba. Sato explica que esse quadro não é transmissível.

Não devem se vacinar contra o sarampo imunodeprimidos, quem toma corticoide em dose alta ou por tempo prolongado, transplantados, pessoas com HIV com imunidade muito baixa e grávidas.

As mulheres devem aguardar 30 dias para engravidar, porque na vacina tríplice viral está o vírus atenuado da rubéola, que cruza a placenta e pode provocar má-formação fetal.

Quem já teve reação anafilática (alergia grave) a doses anteriores não deve ser vacinado nem em ações de bloqueio. O ideal nesses casos é consultar o médico.

O número de casos de sarampo no estado de São Paulo teve aumento de 20,4% na semana até 11 de setembro, segundo a Secretaria Estadual da Saúde.

Foram confirmados 3.591 casos, 609 a mais que na semana passada. Três pessoas morreram –um homem de 42 anos e dois bebês.

A vacinação para bebês de 6 meses a 11 meses e 29 dias continua. Basta procurar o posto de saúde mais perto de onde mora. A vacina é gratuita.

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É importante lembrar que essa dose não substitui as do calendário nacional, que preconiza duas doses aos 12 meses e aos 15 meses.

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