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Policiais presos pela morte de mulher em porta-malas são acusados de executar criminoso

Policiais presos pela morte de mulher em porta-malas são acusados de executar criminoso

Em abril deste ano, a gerente Maria da Penha Auer morreu atingida por um tiro dentro do porta-malas, na Serra

Publicado em 30 de outubro de 2013 às 14:47

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Foto: Carlos Alberto da Silva

Carro de Maria da Penha Auer, morta a tiros na Serra

Os quatro policiais presos pela morte da gerente de supermercado Maria da Penha Auer, no porta-malas do carro dela durante um sequestro, em abril deste ano, na Serra, são também acusados de desviarem a rota da viatura logo após a prisão dos bandidos, com o objetivo de executá-los. Dados do GPS da viatura que fez o atendimento e ligações de moradores da Serra à polícia apontam que os policiais pararam em uma rua deserta às margens da BR-101 Norte, de onde foram ouvidos cerca de dez disparos.

  Um dos criminosos envolvidos no sequestro, Warley Clarindo Nascimento, o “Mimi”, foi morto. O outro rapaz capturado, Maycon Corrêa de Moraes, foi baleado nas costas. Na época do crime, a informação passada pelos policiais que atenderam à ocorrência era de que os dois foram baleados durante a troca de tiros, que também tirou a vida de Maria da Penha.

A constatação faz parte da denúncia do Ministério Público, acatada pela 3ª Vara Criminal da Serra e baseada nos laudos de exames cadavéricos, exames das armas de fogo e balística, do carro da vítima e da viatura, além do laudo pericial e dos boletins de ocorrência. Os policiais Emanoel Nascimento, Jailton Oliveira, Gibson Junior e Alvaro Martins Neto se apresentaram à Justiça no início de outubro e foram levados para o Quartel de Maruípe, onde continuam presos.

 A Corregedoria da Polícia Militar, que investigou toda a ação dos policiais na morte da gerente e do sequestrador, já concluiu o inquérito e enviou os resultados para o Ministério Público, que ainda analisa o processo. Mas a PM não divulgou as conclusões da investigação.

INFORMAÇÕES CONFLITANTES

Nos depoimentos prestados à polícia, os policiais envolvidos informaram que após a captura dos dois criminosos, a viatura fez uma parada rápida no acostamento da BR-101 Norte, pois o oficial que dirigia o veículo estava traumatizado com o fato de a gerente ter sido ferida, e não conseguia dirigir. Então, eles teriam trocado o motorista e seguido para o Hospital Dório Silva, também na Serra, já que os dois criminosos teriam se ferido durante a troca de tiros.

 Entretanto, após a análise dos dados do GPS da viatura que perseguiu o carro da gerente, que registraram a viatura entrando em uma rua deserta e permanecendo no local por cerca de dois minutos até voltar para a rota normal, o Núcleo de Investigações classificou a justificativa dada pelos policiais como “inverídica” e apontou, também, que houve execução no local, em Campinho da Serra.

LIGAÇÕES PARA O CIODES

 O processo contra os quatro policiais contém, também, transcrições de ligações de moradores de Campinho da Serra para o Centro Integrado Operacional de Defesa Social (Ciodes), informando que ouviram vários disparos que partiram de uma rua deserta. Leia trechos de três ligações que foram transcritas.

 Ligação 1:

CIODES: O que aconteceu aí, senhora?

Anônimo: Sete tiros, o cara levou sete tiros...

CIODES: Foi um veículo, isso? … Passou...

Anônimo: É. Foi um veículo. É, foi um veículo que desceu (...)

Anônimo: Não sei se tava com um cara dentro, só sei que deu tiro... Tá o chinelo do cara... levou sete tiros, tem sangue no local.. agora ninguém sabe se ele tá escondido, se ele caiu lá dentro dos mato, ou se o cara que matou carregou...

CIODES: Sim, ok senhora...

Anônimo: E vocês vão vir?

CIODES: Senhora, sua informação foi registrada. Nosso procedimento é o atendimento...

 Ligação 2:

CIODES: Ciodes. Qual é a sua emergência?

Anônimo: é da polícia?

CIODES: Sim, pois não...

Anônimo: Aqui, tá acontecendo... é... como é que fala? Um tiroteio aqui no Campinho da Serra, perto da BR-101...

Anônimo: É na BR... é antes da subida de Campinho, descendo lado esquerdo... eles estão saindo com o carro agora...

CIODES: Qual é o veículo que eles estão saindo?

Anônimo: Eles estão saindo pra lá... é um carro de polícia...

CIODES: Mas em qual carro?

Anônimo: É um carro de polícia...

CIODES: Como, senhora?

Anônimo: Acho que é um carro de polícia... acho não, é...

CIODES: Sim, mas quem cometeu o assal... o tiro... eles... é isso? Quantos tiros a senhora escutou?

Anônimo: Escutei uns nove, por aí...

CIODES: Certo, a ocorrência foi gerada... Daremos prosseguimento ao atendimento... mas quem cometeu os tiros foi a polícia?

Anônimo: Foi polícia...

CIODES: E a senhora viu se eles estão... estão em perseguição atrás de algum outro carro?

Anônimo: Não, não... não vi não... se eles estão em perseguição, não... eu sei o que eu vi sair era polícia...

 Ligação 3:

Anônimo: Aqui, deixa eu te falar. Na entrada do bairro Campinho da Serra um... teve um barulho de tiro, mais ou menos uns sete a oito tiros... aí nós passamos lá próximo de onde teve barulho de tiro. Tinham umas cápsulas no chão, e uma sandália lá...

CIODES: Tem quanto tempo que isso aconteceu?

Anônimo: Não tem pouco... tem mais ou menos uns 30 minutos a 40...

Policiais assumiram riscos

 Nas considerações do juiz Daniel Peçanha Moreira, da 3ª Vara Criminal da Serra ao Judiciário, após a defesa dos policiais entrar com pedido de Habeas Corpus, o magistrado aponta, também, que os policiais sabiam que havia vítimas dentro do veículo quando começaram a atirar. E não há informações sobre troca de tiros. Apenas sobre tiros efetuados por policiais. Leia o trecho.

 “Infere-se dos autos que os denunciados já cientes de que haviam vítimas sequestradas a bordo do citado veículo, através das informações repassadas via CIODES a todas as viaturas da 4ª Cia, ao efetuarem vários disparos em direção ao veículo, assumiram integralmente o risco do resultado, causando o óbito da vítima Maria da Penha Chofp Auer, que estava localizada no porta-malas do automóvel”.

 Família procura respostas

Para a família de Maria da Penha, não houve surpresa sobre a ação dos policiais durante o atendimento à ocorrência. A sobrinha da gerente vítima de sequestro, Polyanna Rodrigues Auer, questiona a forma como os policiais agira.

 “Pelo que o meu tio (marido da vítima) fala, nós já tínhamos noção. A gente não entende o motivo de eles chegarem atirando, se os bandidos não atiraram e o único que estava armado fugiu. Agora esperamos o que vai acontecer. Todos cometem erros. E eles precisam pagar pelos erros”.

 Polyanna afirma que não há problemas no trabalho da polícia, mas que erros acontecem e, quando ocorrem, devem ser corrigidos. “Não sabemos o que teria acontecido com minha tia se eles não chegassem atirando”, sugere.

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 “Como já está comprovado, esperamos a Justiça. Meu tio estava dentro do carro e sempre deixou claro que o bandido armado fugiu, que não houve troca de tiros. E quando ele saiu do carro, os dois bandidos estavam vivos. Agora está tudo comprovado”.

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