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Terezinha Bertollo: uma vida de notícias e histórias para contar

Terezinha Bertollo: uma vida de notícias e histórias para contar

Após 36 anos de trabalho, Terezinha Bertollo se despede da TV Gazeta

Publicado em 30 de setembro de 2017 às 18:38

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Após 36 anos atrás das câmeras da TV, Terezinha se despede sob aplausos: "Levei a vida numa boa". (Carlos Alberto Silva)

Dona de olhos azuis-turquesa, sorriso largo e gestos expansivos que denunciam sua descendência italiana, a jornalista Terezinha Bertollo encerrou, na última sexta-feira (29), uma trajetória de 36 anos vividos no “coração” da TV Gazeta. Casada com o diretor corporativo de Jornalismo da Rede Gazeta, Abdo Chequer desde 1982, ela foi a primeira ponte entre o Espírito Santo e o jornalismo da TV Globo. Agora, ao despedir-se da redação, confessa sentir orgulho de ter ajudado a construir um novo capítulo do jornalismo local, mais engajado e próximo do público.

"Sempre gostei muito de escrever e de ler. Não me lembro de estar sem ler um livro, ou dois, ou três. Leio um livro de jornalismo, um livro para passar o tempo e um livro de formação. Acordo todos os dias às 6h20 e leio todos os jornais com uma caneta na mão para marcar o que me chama a atenção. Sempre achei que faria o que na época se chamava de ‘área 3’, que eram as Ciências Sociais. Sempre adorei Comunicação. Passei em primeiro lugar no vestibular. E quem passou em segundo? Abdo. Foi na Ufes que nos conhecemos e deu no que deu (risos).

Entrei na Rede Gazeta em 1981, trabalhei na editoria de Economia de A GAZETA, mas saí. Em novembro de 81 comecei a trabalhar como contratada da TV Globo. A Globo pediu à TV Gazeta para contratar uma produtora para as eleições, e então tive um contrato temporário de três meses. Fui efetivada em fevereiro de 82.

Tinha que ter matérias legais, criativas, que pudessem mostrar o Espírito Santo para o Brasil. Depois disso, e por dois ou três anos, dei início ao núcleo de rede, ou seja, era eu quem fazia a ponte da TV Gazeta com Jornal Nacional e Jornal Hoje. Era fogo! É muito difícil conseguir convencer os editores nacionais a colocar no ar algo do Espírito Santo, porque o Estado não tem presença, não tem lembrança no imaginário do país.

A primeira vez que eu consegui colocar uma lapada no Jornal Nacional eu vibrei. Você sabe o que é uma lapada? É um texto que o apresentador lê com imagens por cima. Como eu não tinha repórter de rede aqui, a única coisa que eu conseguia mandar para lá eram lapadas. E eu mandava várias! Ficava esperando sair, ficava vendo Jornal Nacional, Jornal Hoje, e nada, nada. Até que um dia saiu: o Cid Moreira leu um texto meu.

Nunca fui para frente do vídeo, não tenho coragem... mas muita gente me pedia isso. Foi uma opção minha. Sempre trabalhei junto do Abdo, e quando ele estava na TV, eu sentia um orgulho só. Fui a primeira produtora do Bom Dia ES, em 1983, então nós dois trabalhávamos juntos. Naquela época era fogo, porque o jornal ia ao ar às 6h30. Algumas pessoas às vezes não queriam ir, achavam cedo demais. Abdo era muito engraçado: quando ele queria que uma pessoa fosse ao estúdio e ela se atrasava, ele ligava para a casa da pessoa e mandava a empregada acordá-la. ‘Bate na porta que ele acorda, se não, ele não vai gostar de saber que eu liguei e ele não atendeu’, ele dizia. Era engraçado.

Na vida pessoal meu maior desafio (pausa)... Acho que foi conciliar o fato de ser a mulher do Abdo Chequer e ser também a jornalista Terezinha, saber fazer essa distinção. Já tive um chefe, há muitos anos, que não fez essa distinção e eu cheguei a pedir demissão. Não tenho perfil para acharem que eu estava no meu trabalho por causa do meu marido.

Nós tivemos três filhos. Abdo Filho nasceu em 1985. Lucas, em 1987, na época em que o Abdo estava virando editor-chefe da TV. Foram muitas mudanças, uma confusão! E depois veio o Miguel, que nasceu em 1988. Eu pensava assim: ‘eu não posso sair da fase das fraldas, se não, não vou ter mais filhos’. Por isso as diferenças entre eles são pequenas. Dava muito trabalho, era preciso muita organização, e eu sempre trabalhei só meio expediente. Conseguia conciliar tudo.

Terezinha conta sobre sua vida profissional e pessoal no vídeo abaixo:

Eu aprendi que a gente não tem que levar a vida muito a sério. A gente tem que aceitar ajuda das pessoas. Ninguém consegue fazer tudo sozinho, não tem jeito. Também não se deve fazer da sua casa um ambiente onde ninguém pode entrar, onde as pessoas não conseguem ser quem elas são. Sou alegre, organizada, gosto de cantar, sou muito curiosa... e acho que essa qualidade – bem, eu acho isso uma qualidade – me ajuda a não me bastar com uma primeira resposta. Isso me levou a muitas coisas que conquistei no Jornalismo.

Do que mais tenho orgulho é ter participado do desmonte do crime organizado no Espírito Santo. E não foi fácil. Você tem que esperar, tem que ter cautela, tem que saber usar a informação. Porque dependendo da informação, se você a solta, a pessoa atingida descobre quem te passou. Isso não pode acontecer. Se você quiser desvendar, desnudar uma pessoa, tem que ir devagarzinho até que, uma hora, você a pega de jeito. Se não for assim, é o investigado que te pega.

O fundamento do Jornalismo é sempre o mesmo: apuração, conhecimento, concatenar os diversos personagens e episódios, e lembrar que aquilo ali tem a ver com outra coisa.

Nos últimos anos coordenei o ‘Prometeu, Cumpriu?’ do ESTV. O calendário começou a ser pensado quando o jornal ganhou um tempo muito grande de exibição. Não iríamos cair na tentação da violência, como nosso concorrente sempre fez. Com esse quadro conseguimos juntar a comunidade e as autoridades; cumprimos nosso papel de intermediar essa relação. Às vezes íamos uma vez, duas vezes, três vezes a determinado bairro e nada era resolvido. E agora estamos numa fase ótima (risos)... os prefeitos de Vitória, Cariacica e Serra se reelegeram. Então acabou aquela história de ‘é culpa da gestão passada’. São as promessas deles mesmos! Me orgulho de ter alimentado esse quadro durante esses anos todos.

Olho para tudo o que eu já fiz, os meninos, o Abdo, as minhas coisas e as coisas que a gente já viveu e sinto muito orgulho. São coisas que um dia nós pensamos que queríamos fazer e realizamos.

A partir de agora, com a aposentadoria, pode ser que eu seja a Terezinha avó (a primeira neta chega em novembro), mas estou pensando em fazer um curso de Excel e fazer algo que sempre tive vontade, mas não tinha tempo: olhar para aquelas tabelas e interpretar dados oficiais. Números do governo, da Justiça... são dados que estão ali! É informação pública.

Eu sei fazer tricô, estou fazendo sapatinho para minha neta. Agora também vou comprar um tear e fazer tecidos finos de tricô. Não sou uma pessoa acelerada. Levei a vida numa boa, e acho que as coisas, assim, vão se dando com alegria, com boa convivência.

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Eu acho importante saber entrar e sair das situações. A gente tem que aprender a botar um ponto final.”

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