Entrevista

"Ando armado por medo e para me proteger", afirma produtor rural

Após ser assaltado, produtor rural decidiu manter sempre por perto a sua arma

A arma se tornou companheira inseparável do produtor rural em suas viagens
A arma se tornou companheira inseparável do produtor rural em suas viagens
Marcelo Prest
A arma se tornou companheira inseparável do produtor rural em suas viagens
A arma se tornou companheira inseparável do produtor rural em suas viagens
Foto: Marcelo Prest

Após ser espancado ao ponto de ter uma fratura na clavícula durante um assalto no caminho da roça, um produtor rural de 43 anos, que pediu para não ser identificado, tomou uma decisão radical: agora ele só anda armado. E mais, ele mantém a arma sempre acessível quando realiza a distribuição de produtos rurais.

Como foi o assalto que o senhor sofreu?

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Há cerca de seis meses, eu saí de uma feira e seguia para Santa Maria Jetibá, na Região Serrana. Quando passava por Cariacica-Sede eu percebi que um carro preto estava me seguindo. Quando eu estava subindo a serra, na ES 080, o carro me deu uma fechada. Fui obrigado a parar. Saíram seis homens armados do carro. Um com uma espingarda calibre 12, dois com fuzis e mais duas armas curtas. Já chegaram colocando armas na minha cara. Só levantei as mãos. Eles me bateram e até me quebraram a minha clavícula com o cano da espingarda.

O que roubaram?

Levaram R$ 6 mil e o celular. Eu só pedi para me deixarem vivo e pouparem a minha família.

O senhor procurou a polícia?

Fui à delegacia de Santa Leopoldina, onde registrei a ocorrência, mas até hoje não tive resultado. O governo fala que tem polícia, mas quando faço esse caminho até Cariacica, não vejo policiais nos destacamentos. Nós ficamos à mercê dos bandidos.

Acha que a profissão não é valorizada?

Trabalho na roça desde os 8 anos. Trabalho a semana toda para o fim de semana chegar e eu levar alimento fresco direto da roça para o cliente. Aí o bandido chega, te machuca, te humilha igual a um cachorro e leva tudo embora. Cheguei a pensar em não trabalhar mais, mas preciso sustentar a minha família, pois tenho três filhos.

Foi por isso que decidiu se armar?

Sim. Ando armado por medo e proteção. No meu sítio eu só ando armado. E agora, se eu estiver voltando pra casa e tentarem fazer algo comigo e minha família, eu não vou pensar duas vezes. Eu levo minha família para a feira, mas não sei se ela volta. Não tenho outra solução. Me sinto refém, infelizmente. Me sinto ameaçado toda vez que saio na estrada. Não tem jeito, antes ele do que eu.

Como é viver assim?

Difícil. Tenho medo de ser assaltado ou morto na estrada. Quando me levaram os R$ 6 mil, voltei para casa zerado depois de tanto trabalho. Ficaram as contas pra pagar e o trauma. Qualquer carro diferente que eu vejo no retrovisor, eu já fico assustado.

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