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Ameaça e perseguição: violência contra a mulher não é só física

Ameaça e perseguição: violência contra a mulher não é só física

Agressões psicológicas sofridas por médica também são criminosas

Publicado em 20 de janeiro de 2018 às 03:01

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Após ter sido baleada na cabeça, Milena Gottardi Tonini Frasson não resistiu aos ferimentos e morreu no dia 15 de setembro. ( Reprodução/Facebook)

Apesar do que dita o senso comum, não é preciso que haja uma agressão física para dizer que uma pessoa está em uma relação violenta. No Estado que registra um dos maiores índices de violência contra a mulher do país, o caso da médica Milena Gottardi revela um outro tipo de crime: a violência psicológica. Amigos e parentes da médica relataram em depoimentos nesta semana no Fórum Criminal de Vitória ameaças, possessividade e agressões em forma de palavras feitas pelo ex-marido da vítima, o policial civil Hilário Frasson.

A médica foi assassinada em setembro do ano passado na saída do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam), em Vitória, e um dos acusados de ser mandante do crime é o ex-parceiro. Segundo a delegada de polícia do Plantão da Mulher, Natália Tenório, a Lei Maria da Penha classifica os tipos de violência contra a mulher nas categorias patrimonial, sexual, física, moral e psicológica. A última, por ser subjetiva, chega a ser de difícil identificação. Na maioria dos casos, é negligenciada até por quem sofre – por não conseguir perceber que ela vem mascarada pelo ciúmes, controle, humilhações, ironias e ofensas.

“Muitas mulheres não percebem que são subjugadas, chegam a se sentir culpadas pelo que ocorreu. A maioria possui até mais narrativas de violência psicológica que física”, diz.

A coordenadora de enfrentamento à violência doméstica e familiar, juíza Hermínia Azoury, explica que a violência psicológica, assim como a física, garante medida protetiva para a mulher. Ela explica que, para identificar esse tipo de violência, são analisados diversos aspectos que vão desde o comportamento da vítima até provas materiais, como conversas em redes sociais.

“Às vezes, até o depoimento é suficiente nesse tipo de violência que causa prejuízo social e econômico. Algo que me preocupa são as crianças que convivem com isso, porque elas se tornar violentas.”

Consequências

A presidente da comissão de saúde do Conselho Regional de Psicologia (CRP), Keli Lopes Santos, explica que esse tipo de violência pode desencadear diversos problemas psicológicos, como depressão, isolamento social e até suicídio. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), a violência psicológica é uma das principais causas de suicídios de mulheres vítimas de violência.

“O impacto da violência na vítima varia, não dá para classificar qual tipo de violência é pior. Não se pode é banalizar o que ocorre com a vítima, ela precisa de apoio”, explica.

Denúncia

A promotora de Justiça do Ministério Público do Estado (MPES) Cláudia Santos Garcia, do Núcleo de Enfrentamento à Violência Doméstica e Familiar Contra a Mulher (Nevid), acredita que é preciso ampliar o debate para que haja uma mudança cultural. Além de uma estrutura federal, estadual e municipal que ofereça assistência à vítima e ao agressor.

“A gente precisa de uma abordagem que desnaturalize a violência. Os órgãos públicos precisam, no mínimo, ofertar às mulheres acompanhamento com psicólogos e assistente social. Além disso, criar projetos para homens agressores que os façam refletir sobre o que fazem”, aponta.

A promotora explica que, quanto mais cedo a mulher romper com o ciclo de violência, maior a chance de sobreviver. A denúncia pode ser feita por qualquer pessoa anonimamente pelos telefones 180 e 181. A polícia pode ser procurada pelo 190.

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