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Fotógrafo brasileiro é preso em Paris por usar drone

Fotógrafo brasileiro é preso em Paris por usar drone

Lucas Pinhel é paulista, mas foi criado em Vitória, onde morou até o início do ano passado. De volta ao Brasil, ele relatou o ocorrido em sua página no Facebook e conversou com o Gazeta Online

Publicado em 22 de janeiro de 2018 às 02:00

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Lucas Pinhel, fotógrafo brasileiro preso em Paris. (Arquivo pessoal)

Em Paris a passeio, o fotógrafo brasileiro Lucas Pinhel, de 24 anos, resolveu fazer uns cliques de uma das cidades mais encantadoras do mundo. Só não imaginava que iria parar atrás das grades por usar um drone para fazer as imagens.

Paulista criado em Vitória, onde morou até o início do ano passado, ele relatou o ocorrido em sua página no Facebook.

A prisão aconteceu no último dia 18. "Voei de drone em Paris, cidade que está completamente em alerta anti-terrorismo, e fui preso. Dormi na cadeia, passei dois dias algemado, dividindo cela. Foram os piores dias da minha vida", contou o jovem.

Lucas admite que acabou nessa situação por um único motivo: desinformação. "Sempre fui de abrir a mochila, voar o drone e nem perguntar. Mas vi que o assunto na Europa é seríssimo e precisamos ter cautela".

Confira algumas das últimas fotos que Lucas fez em Paris antes de ser preso:

Felizmente, a confusão foi resolvida e Lucas pôde voltar ao Brasil com tranquilidade. Só vai precisar de um novo drone agora. No aeroporto de Curitiba, neste domingo (21), Lucas conversou por telefone com o Gazeta Online.

Confira o bate-papo

Como aconteceu a prisão, Lucas?

"Eu havia viajado para a Suíça a trabalho e na volta, como faria escala em Paris, resolvi ficar mais dois dias. Estava com um amigo, que é empresário em São Paulo, na Champs Elysees, por volta de 13h, e decidi fazer umas fotos. Primeiro usei minha câmera. Depois, comecei a voar com o drone. Vinte minutos depois, chegaram uns três carros de polícia e fui abordado por uns oito policiais armados com metralhadoras. Pediram meu passaporte e do meu amigo e perguntaram se o drone era meu. Falei logo que sim, afinal, não tinha nem como negar. Eu estava com o controle na mão. Eles me deixaram pousar com o equipamento. Assim que o pousei, antes de guardá-lo na mochila, tirei o cartão de memória, que consegui esconder. Foi uma abordagem tranquila. Em nenhum momento foram agressivos. Mas com todas aquelas armas, é algo que assusta.

Vocês dois foram levados para a delegacia?

Sim, nós dois. Mas lá, meu amigo foi liberado logo. Fiquei para prestar depoimento. Até então estava tranquilo. Achei que fosse ser advertido, como já aconteceu quando usei drone em outros países. Não imaginava que isso iria tão longe. Chamaram uma tradutora que falava espanhol, já que tenho dupla cidadania espanhola. Expliquei toda a situação. Mesmo assim, ao final do depoimento, ela me disse: 'Más notícias. O delegado não aceitou seu depoimento, seu equipamento vai ser apreendido e você vai ser preso'. Foi aí que fiquei muito nervoso, sem chão. Meu voo era no dia seguinte de manhã. Fiquei desesperado e comecei a fazer contatos. Alguns amigos entraram em contato com a embaixada brasileira lá, que tentou ir até mim, mas eu estava sob custódia, sem acesso.

E como foi na cadeia?

Saí da delegacia à noite e fui levado para a cadeia, onde, para os policiais, eu era um criminoso como outro qualquer. Fui algemado, obrigado a entregar meus pertences, e colocado numa cela com outros dois presos. Depois, conversando com eles, soube que um era paquistanês e o outro um russo. O paquistanês estava preso por tráfico de cocaína. E eu lá, com eles, preso por operar um drone. A cela era muito pequena, passei muito frio. Foi uma noite péssima.

Como você foi liberado?

Na manhã seguinte, me levaram para outra cela, para pessoas que aguardam julgamento. Veio uma tradutora que falava português e disse que iria me ajudar. Era achava um absurdo aquela situação, mas me explicou que a lei estava muito rígida em Paris, de propósito mesmo, para que ninguém mais tivesse coragem de voar com drone lá. Bom, o juiz aceitou minha história e transformou a pena numa multa de 500 euros que eu só teria que pagar se cometesse alguma outra infração no país. Saí da cadeia por volta de 18 horas e fui direto para o aeroporto. Meu amigo havia conseguido alterar meu voo para a noite. Pude voltar para o Brasil.

Que lição você tirou dessa situação toda?

Eu não imaginava que a legislação estivesse tão dura com uso de drones. Em momento nenhum fui maltratado. O problema é a humilhação que você passa, tratado como um delinquente. Foi muito barra pesada. Por um momento achei que ficaria mais tempo preso. Meus pais, que moram em Vitória, iam acompanhando tudo pelo meu amigo, mas cheguei a ficar incomunicável por cerca de 12 horas. Vou continuar voando. Fiquei sem meu drone, que custou mais de R$ 6 mil. Vou comprar outro e continuar usando, com mais cuidado agora, claro.

"Enxergam drone como uma ameaça", diz especialista

Especialista em drone e sócio de uma empresa que vende o equipamento em Vitória, Rafael Destefani afirma que muitos países, principalmente os que vivem sob tensão por causa do terrorismo, enxergam o drone como ameaça. "Recentemente, duas bases militares da Rússia foram atacadas por 13 drones. Eles carregavam morteiros. Então, o drone, que é usado na maioria das vezes como um equipamento para fazer imagens aéreas, pode sim ser visto como uma arma", comenta o empresário.

Segundo ele, as regras nesses países são muito mais rigorosas para uso de drones. Mas no Brasil, diz Destefani, também há uma legislação. "É preciso registrar o aparelho na Anac e pedir autorização de voo ao sistema do Departamento de Controle do Espaço Aéreo. Isso para fins profissionais. Para fins recreativos, há regras, como poder operar apenas a até 30 metros de altura, e o equipamento não pode sair da vista do piloto. Também deve ser respeitada uma distância mínima de 30 metros de outras pessoas. Há risco de o drone cair e machucar alguém. Ou seja, há regras aqui também, só não são cobradas com tanto rigor", disse.

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A popularização dos drones tem gerado esse alerta. "Há mais facilidade de aquisição e de operação. Há uns cinco anos, era mais complicado. Hoje você consegue decolar e pousar só apertando um botão", afirma Destefani.

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