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Pacientes esperam até três anos por consulta no Espírito Santo

Pacientes esperam até três anos por consulta no Espírito Santo

Quem passa pela situação diz que é até possível uma pessoa morrer antes de conseguir uma consulta com especialista

Publicado em 17 de janeiro de 2018 às 18:55

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Maria Nilcéia esperou três anos por uma vaga com oftalmologista . (Kaique Dias)

A dona Maria Nilcéia Nascimento há três anos esperava por uma consulta de um oftalmologista no Centro Regional de Especialidades, o CRE Metropolitano. A costureira de 60 anos tem um problema de visão e teve que pagar uma consulta particular para saber se precisaria trocar de óculos. Vários pacientes passam pela mesma situação de longa espera no CRE, inclusive em especialidades como cardiologia.

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Depois de uns dois anos e meio que vi que não marcavam minha consulta, eu fui e me consultei no particular

Costureira Maria Nilcéia
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“Em 2015 eu dei entrada. Só agora que fui chamada, mas eu já tinha feito tudo no particular, inclusive tinha comprado os óculos. É muito longo o tempo de espera, ainda mais eu que tenho diabetes”, lamenta.

A situação também foi relatada pelo colunista de A Gazeta, Leonel Ximenes. Depois de muitos desmaios, em 2009, a doméstica Eliana Maria Louret, de 44 anos, deu entrada para se consultar com neurologista, mas só em 2012 conseguiu uma vaga, quando soube que tinha um coágulo no cérebro. Agora ela já espera há mais de um ano para voltar ao especialista. “Já estou sem remédio por causa da consulta que está demorando. Demora demais. Ele marca com urgência, para voltar em 90 dias, mas já tem mais de um ano e ninguém me chamou. Na primeira vez, que demorou três anos, eu nem lembrava mais que tinha pedido consulta com o neurologista”, disse.

 

O CRE Metropolitano atende os municípios da Grande Vitória e outros do interior do Espírito Santo, segundo a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa). Todas as solicitações de consultas são feitas pelo município. 

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Há mais de dois anos a comerciante Maria do Carmo da Silva, de 62 anos, foi recomendada a fazer exercícios físicos, por causa do reumatismo. O problema é que ela precisa de autorização do cardiologista e conseguiu uma consulta só no ano passado. Agora ela terá que esperar os exames para depois retornar e receber a autorização.

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Quando liberam a consulta a gente já morreu

Desabafo da comerciante Maria do Carmo
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“Eu sou hipertensa e preciso fazer atividade física. Estou sem os exames e sem fazer atividade física. Muito demorado e quando sai a consulta a gente já morreu, como ocorreu com uma vizinha minha. Quando saiu a consulta dela, ela tinha morrido”, lamentou.

OUTRO LADO

Secretaria de Estado da Saúde

A subsecretária de Estado da Saúde, Joanna de Jaegher, afirmou que demoras como as narradas na reportagem do Gazeta Online não são comuns no Espírito Santo. "Essa demora aqui não é uma coisa que acontece muito. Alguns fatores podem contribuir para esse atraso. A unidade básica de saúde não tem contato direto com as especialidades, isso já demanda um certo tempo, e muitas vezes o paciente não consegue comparecer na data marcada", disse. 

Joanna disse ainda que não faltam procedimentos a serem ofertados no Estado. "No CRE Metropolitano são ofertados, por ano, 720 mil procedimentos entre consultas e exames. 36,6% dos pacientes não comparecem às consultas. Não podemos culpar os usuários, imprevistos acontecem", afirmou. 

Para tentar otimizar o atendimento e corrigir os problemas causados pelas filas de espera, a subsecretária afirmou que estão sendo realizados treinamentos em todas as unidades de atenção primária. "Queremos reestruturar o processo de trabalho. Precisamos fazer um redesenho", concluiu.  

Prefeitura de Vitória

Todos os pedidos de especialidade vão para um sistema nacional, em que as prefeituras cadastram as solicitações. Mas antes é necessário analisar dentro dos municípios. No caso de Vitória, a prefeitura tem um sistema próprio de regulação. Quando um paciente solicita uma especialidade, o médico faz o cadastro no sistema municipal e uma análise acontece antes do pedido ir para a Sesa.

Segundo a gerente de Regulação, Controle e Avaliação, Andréa Barbosa Alves, não é possível dizer o tempo máximo que esse pedido fica com a prefeitura, mas que, nos casos de prioridade imediata, o máximo são 30 dias.

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Não priorizamos quem está na fila, mas o quadro clínico do paciente. Temos que atender rápido quem precisa, por isso temos que qualificar os pedidos

Andréa Barbosa Alves, Gerente de Regulação, Controle e Avaliação
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Prefeitura de Cariacica

No caso de Cariacica, a prefeitura disse, em nota, que o prazo para qualquer inserção de solicitação de consulta com especialidade ou exame especializado é de 30 dias. Da mesma forma que Vitória, existe um central de regulação.

"A Gerência explica que os atrasos podem acontecer quando o médico regulador da Central Estadual solicita o detalhamento do quadro clínico do paciente. Caso o pedido de consulta ou exame seja feito por médico da rede municipal, o detalhamento do quadro clínico é feito com mais rapidez. Mas quando o profissional é da rede estadual, a solicitação desse procedimento sofre alguns atrasos", informou por meio de nota.

Prefeitura de Vila Velha

A prefeitura afirmou que, como não tem serviço próprio de especialidades, depende da oferta do Estado. O município dá o exemplo da oftalmologia, uma das mais procuradas. "O município tem cerca de 400 consultas de oftalmologia agendadas pela Regulação Estadual, mensalmente, insuficiente para o que é disponibilizado. A demanda é mais que o dobro da oferta e não se consegue atender ou equilibrar esta demanda, com o quantitativo disponibilizado pelo Estado", disse.

Prefeitura da Serra

A prefeitura disse que não há demora nas solicitações realizadas pelo município. Em nota, no entanto, não explicou o tempo máximo de espera. De acordo com a prefeitura, após a consulta médica, no caso de haver encaminhamento para exame ou consulta com especialidades, o paciente solicita a marcação na própria unidade onde consultou, no mesmo dia do atendimento na referida unidade.

"O pedido é inserido automaticamente em um sistema para avaliação do quadro clínico e nível de urgência, e a solicitação é enviada para a regulação do Estado, que é a responsável pela disponibilização das vagas para especialidades", explicou a prefeitura.

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