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Padre está surpreso por ter sido intimado como testemunha de Hilário

Padre está surpreso por ter sido intimado como testemunha de Hilário

Em mensagem compartilhada nas redes sociais da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, que fica na Serra, o Padre José Pedro Luchi diz que não teve conhecimento prévio da intimação

Publicado em 14 de janeiro de 2018 às 23:09

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Missa de sétimo dia da médica Milena Gottardi celebrado na Paróquia Nossa Senhora de Fátima, na Serra. . (Marcelo Prest )

Intimado pela Justiça como testemunha de defesa do policial civil Hilário Frasson, acusado de ser um dos mandantes do assassinato da médica Milena Gottardi, o padre José Pedro Luchi divulgou, neste domingo (14), uma nota em que diz ter sido pego de surpresa pela intimação. Segundo o religioso - que foi celebrante do casamento do policial e da médica -, ele não tinha conhecimento prévio de que poderia ser arrolado para testemunhar.

A mensagem foi compartilhada no final da tarde na rede social da Paróquia Nossa Senhora de Fátima, na Serra. Foi nessa paróquia que o padre celebrou a missa de sétimo dia de Milena Gottardi. É a primeira manifestação do religioso após a divulgação da intimação.

“Há alguns dias fui surpreendido por uma intimação judicial para comparecer como testemunha, requerida pela defesa do acusado, porém sem nenhum conhecimento prévio de minha parte. Fui surpreendido pela intimação”, diz o texto. Na mensagem, padre Luchi ressalta, ainda, que "os sentimentos de dor e injustiça que se seguem a uma morte violenta ainda recente são feridas na comunidade". Ele pondera, contudo, que "a justiça dos homens atua no seu espaço de competência."

O nome do padre entrou na lista de defesa das testemunha com mais outros 12 nomes, entre eles, um desembargador aposentado, dois assessores de desembargador e o chefe da Polícia Civil do Espírito Santo, Guilherme Daré. A primeira audiência sobre o caso está marcada para o próximo dia 16.

O fato de o nome do padre constar na lista de testemunhas de defesa de Hilário gerou forte repercussão em comunidades católicas e também nas redes sociais. Na mensagem deste domingo, o padre agradece as pessoas que o ajudaram a esclarecer os fatos: "Agradeço aos irmãos e amigos que ajudaram a esclarecer na internet uma situação exposta por alguns veículos da mídia de maneira que não se mostrava clara, dados os mal entendidos, que foram então rapidamente dissipados por tantas intervenções corretivas das manifestações equivocadas”, diz.

Ainda segundo o padre Luchi, tudo aquilo que ele ouve ou orienta no exercício da função é revestido de sigilo e a Justiça brasileira protege esse preceito. “O Código de Direito Canônico da Igreja Católica prescreve o sigilo moral das orientações e o sigilo sacramental da confissão. Aquilo que se ouve no exercício do ministério da orientação ou confissão é revestido de sigilo pelas mais altas razões”, escreveu.

TEXTO ATRIBUÍDO À FAMÍLIA 

Também neste fim de semana, começou a circular nas redes sociais um texto de repúdio à convocação do religioso como testemunha de defesa de Hilário Frasson. A nota é atribuída aos familiares do padre.

O texto corrobora a versão do padre ao afirmar que em momento algum ele ficou sabendo que teria que testemunhar a favor de Hilário. “O fato é que nosso irmão está sendo bombardeado de críticas por ter sido arrolado como testemunha de defesa do rr. Hilário Frasson, suspeito de ser mandante do assassinato da médica Milena Gottardi”.

O texto informa ainda que em nenhum momento o padre foi consultado por Homero Mafra, advogado de defesa do ex-marido da médica, baleada na cabeça no dia 14 de setembro de 2017 . “Esclarecemos que em momento algum nosso irmão fora consultado pelo dr. Homero Mafra acerca do testemunho, sendo certo que fora surpreendido com uma intimação judicial”, diz o texto.

No final o texto, familiares ressaltam que o padre será escutado pelo juiz "contra sua vontade", e que ele se encontra em grande estado de tristeza. Que “tratasse de um padre idôneo, honesto que está sendo criticado injustamente". Os autores da mensagem frisam que padre Luchi possui “compromisso com a Igreja e não pode revelar qualquer segredo de confissão, seja ele feito por qualquer cidadão”.

Padre Pedro Lucchi e seus familiares foram procurados pela reportagem, mas não foram localizados. O advogado Homero Mafra, que defende o policial civil Hilário Frasson neste processo, não atendeu às ligações do Gazeta Online.

PADRE PODE PERMANECER CALADO

De acordo com especialistas procurados pelo jornal A GAZETA na última semana, o padre pode permanecer calado caso a informação solicitada tenha sido passada em confissão. O advogado criminalista e professor Jovacy Peter Filho esclareceu que todas as pessoas intimadas são obrigadas a comparecer. No entanto, é vedada a colheita do depoimento de pessoas que, em razão da sua função, ministério, ofício ou profissão, devam guardar segredo.

“As pessoas são obrigadas a comparecer como testemunhas, mas nesse caso elas podem permanecer caladas sem consequência de alguma punição”, esclarece.

O criminalista e professor da FDV, Israel Domingos Jorio, acrescenta que isso ocorre porque o segredo impõe-se como consequência ética da atividade. Isso ocorre também com outros profissionais, como psicólogos e psiquiatras.

“O padre só passa a ser obrigado a falar se o juiz entender que não há nenhuma outra maneira de obter provas do fatos, como provas materiais”, finaliza.

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Padre Pedro Luchi celebrou a missa de 7º dia da médica assassinada no estacionamento do Hospital Universitário Cassiano Antonio Moraes (Hucam) e também e o casamento de Hilário e Milena, há 13 anos.

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