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Após foto, jovens negros vão à polícia denunciar injúria racial

Após foto, jovens negros vão à polícia denunciar injúria racial

Imagem postada por rapaz branco em rede social fazia referência a roubo

Publicado em 16 de fevereiro de 2018 às 02:28

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Iarley Duarte, 23 anos, Igor Vieira Rocha, 18, Lucas Lima, 17, e Weverson Souza, 17, ficaram ofendidos. (Carlos Alberto | AG)

Eles eram apenas jovens que se divertiam juntos no carnaval em Vitória, mas, por serem negros, viram seus rostos serem associados a potenciais assaltantes após uma postagem com a foto deles, acompanhada da legenda “vou roubei seu celular”, se espalhar pelas redes sociais. Para o autor da publicação, o universitário Lucas Almeida – que aparece em primeiro plano na imagem – tratava-se de uma brincadeira, mas, para muitos, o que se revela por trás dela é o preconceito racial.

O caso vai ser levado à polícia por três dos quatro jovens (um deles aparece pela metade na foto), que se sentiram ofendidos com a publicação. Igor Vieira Rocha, de 18 anos, Weverson Souza, de 17, e Iarley Duarte, de 23, apresentarão hoje uma notícia-crime contra Lucas por calúnia e injúria racial na Delegacia de Repressão a Crimes Eletrônicos. Eles contam que participavam do Bloco Bleque, no Centro, na última segunda-feira, quando foram abordados por Lucas, a quem não conheciam. Após tirar a foto, ele sumiu na multidão.

A situação só foi descoberta por Iarley na quarta-feira, quando um amigo o marcou na publicação. A frase “vou roubei seu celular” é um meme da internet e sugere que uma pessoa rouba o celular de outra antes mesmo de terminar de falar. Em geral, a brincadeira é feita com fotos de jovens negros. O conjunto de imagem e texto dá a entender que esse é o perfil dos ladrões.

“Fiquei muito triste e senti raiva pelo acontecido. Sempre trabalhei, nunca me envolvi com nada errado. Minha vida sempre foi trabalhar”, lamenta Iarley, apoiado pelos amigos.

Conforme explica o advogado do trio, Amarildo Santos, o caso se configura como calúnia e injúria porque atingiu especificamente a honra dos amigos. A ideia é que a partir da notícia-crime um inquérito policial seja instaurado para investigar a atitude de Lucas. Além da esfera criminal, uma representação na esfera cível também será feita. “Nos próximos dias vamos entrar com ação por danos morais contra o Lucas. O que vamos precisar nos próximos dias é a qualificação completa dele.”

Para o doutor em Educação e pesquisador de relações étnico-raciais, Gustavo Forde, ao contrário do que argumenta Lucas, a situação não se trata de brincadeira e sim de uma violência racial. “Ele atribui aos três jovens, que nem eram seus conhecidos, a criminalidade. Este é mais um estigma com os quais o negro convive: o do suspeito, do vagabundo e do improdutivo.”

O professor ressalta que a publicação nas redes é mais um reflexo do histórico preconceito vivido por negros nas ruas. “No Brasil, existe o mito de que não há racismo, essa seria apenas uma questão de classe social, de pobreza. Mas não havia uma nota de rodapé naquela foto dizendo que aqueles jovens negros são de periferia ou não, são escolarizados ou não. O que houve foi uma condenação racial pelo fato de eles serem negros.”

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