> >
BR 259: rodovia no ES tem asfalto ruim, matagal e obras sem fim

BR 259: rodovia no ES tem asfalto ruim, matagal e obras sem fim

Por conta da situação da estrada, o Ministério Público Federal (MPF) já entrou com várias ações contra o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) na Justiça Federal

Publicado em 20 de fevereiro de 2018 às 23:06

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
BR 259, a estrada do abandono no ES. (Bernardo Coutinho | GZ)

Um dos principais eixos viários do Espírito Santo, a BR 259 — ligação do Noroeste do Estado com o leste de Minas Gerais — enfrenta vários problemas além da interdição no km 79, na localidade de Itapina, em Colatina, provocada por um deslizamento de pedras há quase duas semanas. Em muitos pontos, a estrada tem sinais de abandono.

Entre os problemas, a falta de sinalização, que tem causado confusão entre motoristas, asfalto cedendo quando chove e a interdição há quase 10 anos de um desvio de dois quilômetros, em outro distrito de Colatina, Baunilha, onde também há risco de desmoronamento de pedras, cuja obra custou quase R$ 8 milhões.

Nelson Rosa Rabelo, 31, costuma porque a mãe mora em Aimorés - ele é de Vitória. "Deveria melhor muito. Tem pontos críticos, em que tem mato fechando as placas. Pode ter risco de acidentes. É um descaso total.". (Bernardo Coutinho | GZ)

O traçado da pista – considerado antigo para a atual demanda – também é um problema. Passando pela rodovia em um dia de sol, os problemas no asfalto não são tão visíveis, mas muitos moradores da região relataram à reportagem que, quando chove, a pista cede e cria crateras em diversos trechos. É necessário também dirigir com cautela pela via, já que praticamente toda ela – de João Neiva a Baixo Guandu – é em pista simples.

Já a sinalização está escondida em alguns trechos. Em boa parte da rodovia após a Segunda Ponte de Colatina, é impossível ver a maioria das placas. Isso porque elas ficam escondidas em meio ao matagal. E não só placas indicando o melhor caminho. Até sinalização de radares e de velocidade máxima permitida estão sem visualização.

Por conta da situação da estrada, o Ministério Público Federal (MPF) já entrou com várias ações contra o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) na Justiça Federal de Colatina.

BR 259, a estrada do abandono no ES. (Bernardo Coutinho | GZ)

O MPF pede adequação dos acostamentos, restauração da rodovia, realização de sinalização vertical e horizontal, correção do desvio entre km 26,3 e o km 28,7, e instalação de postos de pesagem de carga. A criação de terceiras faixas também é uma solicitação antiga.

A briga na Justiça já dura mais de dez anos. Em março do ano passado, um interventor foi nomeado pela Justiça para atuar no Dnit. Essa nomeação faz parte do processo movido desde 2006, com o objetivo de melhorar o tráfego na BR 259.

 

DESVIO DE QUASE R$ 8 MILHÕES NÃO É USADO

Uma situação que se arrasta há quase 10 anos, a BR 259 tem um desvio de dois quilômetros não utilizado que ganhou o apelido entre os motoristas de “elefante branco do Noroeste”. É um trecho entre o km 26,3 e o km 28,7, em Colatina, cuja obra da pista foi finalizada há quase 10 anos, mas continua fechado para passagem pelo perigo do deslizamento de pedras da encosta que fica ao seu lado. Isso depois de um gasto de R$ 7,6 milhões para fazer o desvio.

Pedras que deslizam de encosta em desvio da BR 259, em Baunilha: passagem não é permitida. (Bernardo Coutinho | GZ)

Perto do distrito de Baunilha, o trecho feito para evitar acidentes – o ponto por onde os motoristas passam era chamado de “curva assassina” e, por isso, foi pensado um novo traçado. O projeto previa a correção da curva e a criação da terceira faixa. Apesar da pista entregue pronta em 2009, a passagem não pode ser utilizada até hoje. A obra foi feita sem levar em conta o deslizamento das pedras da encosta, percebida apenas após ser finalizada e o paredão não foi estabilizado.

Hoje, com o desvio fica fechado, só é possível ver na pista as muitas pedras que descem os barrancos. Quem passa pelo local teme desabamentos ainda maiores.

"Do jeito que está hoje está prestes a acontecer mais acidentes como era antes. Antes era feio, tinha acidente direto", diz Renato Bertoldi, de 47 anos, que é lavrador e morador de Baunilha. (Bernardo Coutinho | GZ)

Por conta disso, motoristas continuam passando pelo traçado antigo da pista, muitos até invadindo a contramão.

GASTOS

Com gasto inicial de R$ 4 milhões, a obra acabou custando R$ 7,6 milhões. E, para reparar a situação, estabilizando a encosta, deve ter mais um custo de R$ 21 milhões, segundo o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes.

Pedras que deslizam de encosta em desvio da BR 259, em Baunilha: passagem não é permitida. (Bernardo Coutinho | GZ)

“Comeram o dinheiro todinho que tinha e está ali daquele jeito. Enquanto não tiver um acidente em que morra bastante gente não vão tomar vergonha na cara e consertar aquilo”, reclama o morador de Colatina e pintor Maurício César Cirino, de 56 anos.

AÇÕES

O Ministério Público Federal acompanha a situação e a obra do desvio já foi alvo de duas ações na Justiça. No ano passado, o Dnit prometeu começar a trabalhar no local para resolver o problema, mas nada começou a ser feito. Agora, a promessa é de resolução até dezembro.

Entre as soluções indicadas, a estabilização dos morros onde ainda há deslizamentos de pedras. Para evitar acidentes – como ocorria há anos atrás – hoje no local existe sinalização e quebra-molas.

VEJA VÍDEO

 

OBRAS COMEÇAM NESTA QUARTA, DIZ DNIT  

As obras para a retirada das pedras e estabilização das encostas no km 79 da BR 259, em Itapina, Colatina, vão começar nesta quarta-feira (20). Uma empresa de Vila Velha foi contratada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) de forma emergencial e a obra está orçada em R$ 5,9 milhões, segundo o superintendente do órgão no Estado, André Martinez.

De acordo com um dos engenheiros responsáveis, Renato Prandina, a obra é complexa, devido aos riscos de desabamento da encosta. Ele diz que, muito mais do que é visível próximo das pedras, existem 110 metros de altura de encosta que precisa ser estabilizada.

“O bloco maior que ficou sobre a pista está escorado na encosta. Ele está se equilibrando. Na hora que for desmontado, vão cair mais blocos. A empresa vai fazer a remoção e a estabilização, que é o mais importante”, explicou.

A grande quantidade de chuvas foi um dos motivos para a ruptura. Segundo o engenheiro, pelo menos quatro blocos caíram depois da interdição há duas semanas, o que poderia causar acidentes em caso de liberação precoce da via.

Apesar do superintendente do Dnit no Estado, André Martinez, ter afirmado à TV Gazeta na semana passada que até o final do mês a pista estaria liberada, o órgão não dá um prazo agora, devido às análises de segurança que devem acontecer.

Primeiramente, apenas carros de passeio serão liberados para passar, em sistema de pare e siga, e posteriormente veículos de grande porte. Com as chuvas diminuindo, os engenheiros acreditam que a operação será mais fácil. Outros 40 trechos são monitorados pelo Dnit em toda a BR 259.

Sobre o mato impedindo a visualização de muitas placas, o Dnit garantiu que faz a manutenção no local informado. A sinalização da interdição será reforçada, de acordo com o órgão.

ORIENTAÇÃO

A Polícia Rodoviária Federal (PRF) afirmou à reportagem que após um acidente na semana passada com um caminhão – que colidiu com as pedras que deslizaram em Itapina – orientou os motoristas, mas que isso é dever do Dnit agora. A corporação disse ainda que monitora a rodovia de forma programada, mas que não tem efetivo para continuar na via durante 24 horas.

O Ministério Público Federal (MPF) também foi demandado pela reportagem para falar sobre os problemas na BR 259 denunciados à Justiça, mas preferiu não se manifestar por enquanto.

INTERVENÇÃO EM DESVIO TERMINA EM DEZEMBRO

No ano passado, um interventor foi nomeado pela Justiça, a pedido do Ministério Público Federal, para atuar no Dnit e garantir as melhorias demandadas. Desde então, obras emergenciais começaram a ser feitas na BR 259, segundo o órgão. A intervenção no desvio entre km 26,3 e o km 28,7, por exemplo, deve ser finalizada até dezembro.

"Vim para descarregar uma carga de madeira em Colatina, cheguei aqui e me deparei com essa pedra. Fiquei sabendo agora. Nem a Polícia Rodoviária Federal (PRF) que estava na rodovia nos avisou. Não tem sinalização, só o gelo baiano. Está perigoso", relatou Aladir Klitzki, caminhoneiro de 42 anos. . (Bernardo Coutinho | GZ)

Segundo André Martinez, são cinco obras em andamento de João Neiva a Colatina, principalmente para recuperar ou refazer parte do asfalto que cedeu. Também há intervenções para estabilizar encostas, como no km 79 e no km 20.

“O trânsito de veículos pesados destrói o pavimento. A rodovia começou a ceder. Tem vários tipos de manutenção. Graças à intervenção conseguimos dinheiro para fazer as obras na rodovia”, ponderou.

Ele garantiu que, por serem emergenciais, as obras em andamento terminam em até dois meses.

No caso do desvio entre km 26,3 e o km 28,7, as obras de contenção, que seriam realizadas em 2017, não foram à frente devido à problemas na licitação – as cinco empresas foram desclassificadas no certame.

Martinez garante que, após dez anos, as obras terminam até dezembro, com o contrato assinado em março. O custo será de mais R$ 21 milhões.

Para ir ao médico em Baixo Guandu, a auxiliar de serviços públicos Maria Aparecida Jacobsen, 44, de Pancas, foi de van até a interdição, no km 79, e pegou carona do outro lado. "Andei um trecho a pé até chegar onde os carros podem passar.". (Bernardo Coutinho | GZ)

Este vídeo pode te interessar

 

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais