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Conheça cinco personalidades que são a cara do Centro de Vitória

Conheça cinco personalidades que são a cara do Centro de Vitória

Reportagem reúne figuras marcantes do bairro, que vão desde boêmios a garçons, designer e vendedor discos

Publicado em 23 de fevereiro de 2018 às 23:04

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Zilda abriu o bar com o primeiro marido, há 22 anos. (Carlos Alberto Silva)

Para quem mora no Centro de Vitória ou frequenta o local, a imagem da Zilda certamente é bem conhecida. Mas e para quem não mora e já deve ter ouvido muito falar do bar que leva o nome dela e mais um monte de gente para a parte alta da Rua Sete de Setembro?

“Mesmo depois de vinte anos aqui, tem gente que pensa que Zilda é uma lenda, que não existe, que é só o nome do bar”, conta Zilda Antônia de Aquino, 50 anos, aquela mesma que reúne sambistas nos fins de semana e que é uma das caras do tradicional bairro de Vitória.

Como ela relata, no bar simples da Rua Maria Saraiva, a comerciante recebe gente até de fora do Estado, por causa do boca a boca estimulado pelos próprios frequentadores. Ela confirma a curiosidade de quem chega. “No balcão, perguntam sempre para minha cunhada, que é branca, se ela é a Zilda, a dona do bar. Nunca perguntam a mim. Sempre me pergunto: ‘Será que é porque sou preta?’”, deixa o questionamento Zilda.

BOEMIA

Saindo do bar da Zilda e descendo a Rua Sete, outra figura que certamente estará no caminho é Wagner de Oliveira Souza, 45, o garçom mais antigo da Rua Sete. “Mais antigo em atividade”, corrige. “Porque tem o Pelé”, lembra, sobre outra figura que por décadas trabalhou no local.

Waguinho adotou para si uma forma só sua de cumprimentar as pessoas: "Sempre bem". (Carlos Alberto Silva)

Waguinho é de Minas Gerais, veio em 1997. Propostas de trabalho, ele diz já ter recebido muitas para sair daquela região. “Moro a um quarteirão daqui (Bistrô da Sete). Não vou ser milionário trabalhando como garçom. Então o que procuro hoje é qualidade de vida. Trabalho da forma como eu gosto, no ambiente que eu gosto.”

No local, fez família. Tem seis afilhados e já foi em casamento de gente que ele conheceu ainda “na barriga da mãe”. “Na minha profissão sou muito bem quisto.”

Do lado de cá da bandeja, sobra gente. E um dos representantes do povo da bebida é Joacier José Bernardes, 60, sambista, cantor, motorista e o que mais Deus mandar. Ou simplesmente Pé de Pano, outro que optou pela vida tranquila (em dias sem festas...) do Centro.

Ele viveu de 1987 a 2004 nos Estados Unidos, de onde voltou depois de anos de trabalho pesado. “Você pode viver lá 50 anos e vai ser sempre correria. Aqui é essa paz. Existe lugar melhor para viver? Não existe”, diz apontando para a Sete, vazia num início de tarde de uma quarta-feira.

Amélia Grillo, garçonete do Bar do Nei (outra figura que por si só valeria uma nova matéria), abre o bar preferido de Pé de Pano às 8 horas. E ai dela se ultrapassar esse horário. “Já começam a bater aqui na porta”, diz.

Pé de Pano se enrola todinho na hora de explicar o apelido. Se enrola e enrola. “Tento responder essa pergunta há uns cinco ou seis anos. Não sei o motivo, é coisa de rua. Dizem que pulei janela. Nunca pulei janela de ninguém.”

Mas que tipo de janela é essa, Pé de Pano? “Aí você já está querendo futucar demais.”

GOLIAS, O HOMEM DO DISCO CONTINUA NA MODA DEPOIS DE 50 ANOS 

A quantidade de discos ninguém sabe. Valter Vieira da Silva, 72 anos, o Golias, não revela por nada o tamanhão daquele acervo que ele mantém na Jerônimo Monteiro, Centro de Vitória. Para ele basta saber que é referência por aqui em venda de LPs e que, depois de cinco décadas no Centro, ainda está na moda.

Para ele basta saber que é referência por aqui em venda de LPs e que, depois de cinco décadas no Centro, ainda está na moda. (Katilaine Chagas)

“A primeira coisa que você tem que colocar na sua cabeça são os anos que Golias trabalha com isso. Quem comprar mais discos são os jovens, não os coroas. Em Vitória, onde vão comprar discos? Lá no Golias. Mas é por causa dos anos envolvido com o produto.”

O homem viu o Centro se transformar. Diz não estar muito contente com o que há hoje. Avalia que está abandonado. “Muito perigoso...” E diz também que com o desenvolvimento de outros bairros, os capixabas já não têm o Centro como referência “para comprar tudo”.

Nostalgias de quem está ali há muito tempo e de quem começou como discotecário, “que são os DJs de hoje”, explica.

Como relata, desde 21 de dezembro de 1971, quando abriu a loja, viveu o auge do LP, quebrou em 1998 com a concorrência dos CDs e retomou a atividade no ano seguinte.

Desde então vê seus LPs (e sua risada estrondosa) atraírem os mais diversificados dos públicos.

ELA PROMOVE E DEIXA MAIS COLORIDO O CENTRO 

O Centro de Vitória vai ficar no mínimo menos colorido daqui a alguns meses. A designer de moda Gabi King, 47 anos, vai deixar o país em busca de mais experiência e aprendizado, mas diz que de tempos em tempos volta. “Nunca vou deixar. Vou sempre voltar para fazer algum trabalho. Acho que vai melhorar a qualidade do meu trabalho. Trazer novas ideias. Minha família é daqui”, completa a designer.

Gabi King, com a amiga Karina Ferrari, costuma promover desfiles associados a outras festas, na Rua Gama Rosa. (Carlos Alberto Silva)

Ela, com a amiga Karina Ferrari, costuma promover desfiles associados a outras festas, na Rua Gama Rosa. “A gente sempre promove eventos aqui que misturam modas, cultura. O último evento que a gente fez foi o Verão Hippie, cantores do musical Hair. Todos os bares daqui participaram.”

Sobre o Centro, enaltece. “É um lugar inspirador, onde você faz tudo a pé. Tem tecido, tem armarinhos, tem o Centro Histórico, tem a boemia...”

ZILDA PROMOVE SAMBA EM VITÓRIA

Zilda abriu o bar com o primeiro marido, há 22 anos. “Um ano depois ele faleceu. Aí eu continuei e investi”, relata. “Comecei colocando seresta, mas vi que não era o forte. Agora já faz 10 anos que tem samba aqui.”

Nos sábados e domingos, um grupo de samba comanda a festa no local. “Alguns membros mudaram, mas o cabeça continua lá.” Em outros dias, como em feriados, ela abre o espaço para outros grupos. “Dou oportunidade para outros. Aí o marketing ajuda um e outro. Aqui a gente vai se ajudando”, diz Zilda.

O público é diversificado: “Aqui vem jovem, velho”.

POPULARIDADE

Pé de Pano tem uma popularidade incontestável no Centro de Vitória. Tanto que de tempos em tempos alguém passava e mexia com o homem e gritava “Vai queimar a foto, Pé de Pano!” Para todos, a resposta era a mesma: “Eu sou artista, rapá”.

Pé de Pano tem uma popularidade incontestável no Centro de Vitória. (Carlos Alberto Silva)

Perguntado sobre qual seria a sua profissão, ele enumera: “Sou motorista, cantor, pedreiro, músico, sambista, que é o carro-chefe”.

Encontrá-lo não é a coisa mais difícil do mundo. Ele tem uma posição cativa no Bar do Nei, na Rua Sete, onde frequenta ao lado de amigos como o sambista Edson Papo Furado, que pouco depois da foto acima apareceu para fazer companhia ao colega.

No pedido desse povo, ela mesma. “Só bebo cachaça. É o carro-chefe”, diz Pé de Pano.

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