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Especialistas alertam: criminosos no ES estão cada vez mais ousados

Especialistas alertam: criminosos no ES estão cada vez mais ousados

Quando em um dia criminosos fecham um bairro, e no outro explodem um banco, é sinal que estão ficando cada vez mais ousados.

Publicado em 22 de fevereiro de 2018 às 10:02

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Homens armados fizeram clientes de um bar refém e depois explodiram caixas eletrônicos de um banco nesta quarta. (Bernardo Coutinho)

Diariamente a população se vê vulnerável diante da ação de bandidos. É roubo de celular, assalto a padaria, tráfico de drogas... Mas, quando em um dia criminosos fecham um bairro, e no outro explodem um banco, é sinal que estão ficando cada vez mais ousados.

Comandante do 6º Batalhão da Polícia Militar (Serra), o tenente-coronel Roberto Mauro da Rocha observa que, no município, os bandidos têm partido mais para o enfrentamento, como o registrado em Central Carapina na terça-feira. “Podemos dizer, sim, que estão mais ousados. Em 2016, tivemos 20 confrontos armados entre marginais e militares. No ano passado saltaram para 76 e, neste ano, já tivemos vários embates”, pontua o oficial.

“Mas é bom ressaltar que essa não é uma atitude muito inteligente dessas pessoas. Se forem alcançadas pela polícia, é melhor baixarem as armas porque a PM está treinada e usará sempre a técnica e a força necessárias para enfrentar a injusta agressão”, completa o tenente-coronel Mauro Rocha.

 

O próprio comandante-geral da PM, coronel Nylton Rodrigues, já reconheceu uma mudança na atitude de criminosos, pós-greve dos militares, em fevereiro de 2017. Em entrevista para A GAZETA quando o movimento grevista completou um ano, no início deste mês, o coronel Nylton falou que “o período de ausência da Polícia Militar nas ruas gerou uma série de problemas no mundo do crime”.

 

“O criminoso ficou mais ousado. Tivemos aumento de enfrentamentos e de confrontos armados. Além disso, entraram mais armas no Estado, o bandido teve mais acesso a armas de fogo. A ausência da PM gerou consequências que favoreceram o crime e é o que estamos enfrentando”, afirmou.

 

Rodrigo Pimentel: "O Brasil está cada vez mais violento, e o bandido, com cada vez mais facilidades. Temos leis desconectadas dos anseios da sociedade". (Divulgação / Facebook)

Para o capitão Rodrigo Pimentel, que já comandou o Batalhão de Operações Policiais Especiais (Bope), no Rio de Janeiro, é justamente o armamento pesado, decorrente de falhas na fiscalização das rodovias federais, que torna os criminosos mais audaciosos. Ele ressalta que, diferente de tempos atrás, quando apenas as facções do Rio de Janeiro possuíam fuzis, hoje já é possível encontrar essas armas no Espírito Santo. “A única diferença é que nas favelas e em certos bairros do Rio de Janeiro a polícia não consegue mais entrar e no Espírito Santo a PM e a PC conseguem.”

 

No entanto, Pimentel afirma que, por oferecer condições para que os delinquentes se livrem de punições, a legislação criminal acaba se tornando uma aliada da criminalidade. “O Brasil está cada vez mais violento, e o bandido, com cada vez mais facilidades. Temos leis desconectadas dos anseios da sociedade.”

Quanto ao ataque ao Banco do Brasil, em Vila Velha, o tenente-coronel Marcelo Muniz, diretor-adjunto de Comunicação da PM, destaca algumas características dos criminosos. Para ele, trata-se de uma quadrilha com alto nível de organização e planejamento, diferente de outros episódios de explosão em agências bancárias no Estado. “Inclusive, eles tinham organização nas tarefas a serem realizadas. Antes, notava-se um certo amadorismo. Neste caso, não”, opina.

ANÁLISE

"Histórico de vulnerabilidade"

A falta de acesso e a má qualidade da educação somam-se ao desemprego, à inadequada infraestrutura urbana e à alta densidade demográfica em áreas com histórico de vulnerabilidade, como Central Carapina. Jovens que nascem em um contexto de poucas oportunidades são mais facilmente cooptados por gangues e cometem uma série de crimes dos quais também são vítimas. Mesmo com a segregação socioespacial, bairros são interconectados e quando os criminosos precisam de recursos para manter suas atividades ilegais, acabam recorrendo a outros delitos, como o assalto em Vila Velha. A chave para a segurança pública é a integração. Também precisamos que o Judiciário dê respostas mais ágeis e de uma reforma nas leis criminais, que são brandas demais.

Pablo Lira - Professor do Mestrado em segurança Pública da UVV

ANÁLISE

 

"É preciso valorizar a carreira policial"

No Espírito Santo, existem bairros que são disputados por facções. Mas diferente do Rio de Janeiro, aqui as polícias têm o controle da situação. Mas ainda poderíamos estar melhor em inúmeras coisas: não há estrutura adequada em quartéis e delegacias, a Polícia Civil possui um déficIt de efetivos de 40% e falta combustível para as viaturas rodarem.

Onde o Estado não está presente, o criminoso age com mais facilidade. Precisamos de mais fiscalização nas rodovias para evitar o contrabando de armas e drogas. Hoje, nem mesmo o treinamento de policiais é feito corretamente porque custa caro. Por outro lado, a legislação ainda protege muito mais o criminoso do que o agente público e isso precisa mudar. É necessário valorizar a carreira policial.

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Patrick Oliveira - Especialista em segurança pública

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