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Ex-Bope, capitão Pimentel defende intervenção federal no Rio de Janeiro

Ex-Bope, capitão Pimentel defende intervenção federal no Rio de Janeiro

O consultor de segurança, Rodrigo Pimentel compara Estados e apoia intervenção

Publicado em 18 de fevereiro de 2018 às 02:57

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Rodrigo Pimentel diz que, embora possa ter viés eleitoreiro, medida é urgente. (Divulgação / Facebook)

A intervenção federal na segurança pública do Rio de Janeiro, decretada pelo presidente Michel Temer (PMDB), na sexta-feira (16), tem dividido a opinião de analistas quanto a um possível radicalismo do ato e de seus contornos eleitoreiros.

Defensor da medida, o ex-capitão do Bope e co-roteirista dos filmes Tropa de Elite 1 e 2, Rodrigo Pimentel, em entrevista ao Gazeta Online não descartou a segunda hipótese, mas foi enfático ao dizer que seu Estado hoje está sem comando e vive uma crise sem precedentes. "A intervenção é urgente, necessária e está atrasada".

O hoje consultor de segurança e ex-comentarista da Rede Globo, ainda defendeu que seja dada maior liberdade ao exército para agir, citando como exemplo a missão no Haiti comandada pelo Brasil e a atuação da polícia francesa após atentados terroristas naquele país.

"A polícia de lá ganhou autorização para que se entrasse em qualquer casa, a qualquer hora do dia. Se lá que é a maior democracia isso pode acontecer, porque aqui não se pode entrar nas casas para encontrar fuzis, por exemplo?".

O ex-Bope também deixou claro que não acredita que bandidos do Rio de Janeiro migrarão para o Espírito Santo por causa da intervenção, assim como tem alardeado alguns políticos capixabas. Confira abaixo a entrevista:

Intervenção

Sou a favor. As forças estaduais chegaram no limite da capacidade. Falta combustível nos quartéis, papéis nas delegacias, munição nos paióis, policiais nas ruas. O Estado vive uma crise econômica e política sem precedentes. Há quem alegue que o Rio de Janeiro não é o mais violento, que está na décima posição e que esta intervenção não ocorre em outros lugares. Mas aqui é diferente dos outros lugares, existem áreas que estão ocupadas por facções. Por mais que o município da Serra aí no Espírito Santo seja considerada mais violenta, as forças de segurança do Estado podem entrar em uma rua de periferia. Aqui não é mais possível.

Viés político

Quando converso com os acadêmicos eles alegam que a intervenção é uma ação política, o que pode até ser verdade, mas é fato que o Rio precisa de ajuda federal, as autoridades municipais e estaduais desapareceram. Todas autoridades desapareceram durante o carnaval. Arrastões ocorreram em regiões turísticas, por exemplo, e o Rio precisa do turismo assim como o Espírito Santo precisa do petróleo. Não podemos achar que a intervenção não é razoável, ela é urgente, é necessária e está atrasada, deveria ter ocorrido há mais tempo.

Rio sem comando

As cidades de Natal e Vitória passaram por caos na segurança pública, mas no Rio a gente vê imagens de facções com fuzil de assalto trafegando pelas favelas, genocídio de PMs, só em 2018 já foram 16 mortos. Na greve daí tinha governo, com decisões certas ou erradas, mas tinha. Aqui todas desaparecem. Durante o Rock in Rio (setembro 2017) a Rocinha foi invadida e a segurança pública daqui não deu nem uma satisfação. Existe um vácuo de poder no Rio que afeta a segurança, temos 44 mil policiais militares aguardando ordens. Eles não aguardam só recursos, mas aguardam um norte. É uma confusão aqui. O governador Luiz Fernando Pezão (PMDB) era vice do ex-governador Sérgio Cabral (PMDB), que está preso, o secretário de obras do Cabral, que era sub do Pezão também foi preso. Pezão está no meio de duas pessoas presas e se encontra fragilizado pela Lava Jato, aguardando o tempo passar sem saber se vai ser preso ou não.

Situação não pode piorar mais

Um policial civil foi espancado em Copacabana na semana passada, uma senhora foi enforcada, um jovem foi assaltado em frente a um batalhão, um supermercado foi invadido ao lado de um outro batalhão. O que pode ficar pior? Tem uma linha de sociólogos, que se dizem especialistas, mas nunca entraram na favela. Eles afirmam que os números da violência no carnaval de 2017 foi maior que 2018 e por isso não se justificaria a intervenção. Mas a população não quer saber de números, quer saber de percepção de segurança. Existem áreas que o Estado não consegue colocar o pé. Existe ainda uma crise de roubo de carga, 30 por dia, 900 por mês no Rio. Dezenas de mercados não estão conseguindo se manter, o que também vai gerando desemprego, então as pessoas vão percebendo que o Rio está sem solução.

Dificuldades para o exército

Mas não será fácil para o exército, ele vai chegar sem legislação que o ampare. Para combater a violência tem que prender, não existe outra solução se não prender criminosos que subjugam a sociedade, que colocam a cidade com medo. Mas aí existe o discurso do desencarceramento. Mas então o que faço com essas pessoas? Estamos vivendo uma loucura chamada audiência de custódia, que o general do exército vai se deparar na segunda-feira (hoje), onde a maioria dos presos são colocados em liberdade em menos de 24 horas. Será que o exército consegue segurar isso aí? Vai ter dificuldades, mesmo tendo conseguido pacificar no Haiti. Esse exército vai descobrir que as leis favorecem ao criminoso, não só por causa de penas pequenas, mas por elas estarem somadas as questões de audiência de custódia. Se eu fosse o general pediria ao Temer para colocar um pacotão de medidas que pudessem facilitar a ação policial.

Haiti e França

Situações limites como a que vivemos hoje a PM poderia dispor de mandados coletivos, com câmera filmando para que não se cometessem arbitrariedades. Na França a polícia de lá ganhou autorização para que se entrasse em qualquer casa, a qualquer hora do dia. Esse mandado tem que ser revalidado a cada 100 dias. Se lá é a maior democracia isso pode acontecer, porque aqui não se pode entrar atrás de fuzis por exemplo? Será que o terrorismo faz mais mal do que o Comando Vermelho e o PCC faz para o Brasil? Se você autoriza o exército a realizar ações fiscalizadas, como foi feito mais ou menos no Haiti e faz hoje no território francês, com mais liberdade nas ações, poderão haver resultados.

Mostrar para que veio

Existem três mil policiais cedidos a diversos órgãos do Estado, prefeituras, Assembleia no Estado. De imediato o general Braga Netto pode solicitar estes policiais, coisa que o Pezão não tinha força política por ser pressionado por prefeitos, deputados... Está faltando policiais nas ruas, enquanto que o deputado Paulo Mello (PMDB), por exemplo, que está preso e não perdeu o mandato tem ainda 10 policiais lotados em seu gabinete. A sociedade não concorda com isso. O general pode aproveitar o pleno poder dele e em um ato administrativo publicar a determinação do retorno aos batalhões. Se ele fizer isso na segunda-feira (hoje) vamos entender que a intervenção veio para valer, se não fizer isso, mostra que será uma intervenção de brincadeira. O carioca precisa acordar na terça-feira (amanhã) e perceber que a intervenção já começou, ninguém aguenta maios saber de análise e números. O que o general pode fazer de imediato é colocar PMs nas ruas e mostrar ao carioca que tem o controle da segurança, pois hoje o carioca acredita estar tudo abandonado.

Bandidos rumo ao Espírito Santo

Não acredito, pois os traficantes terão que disputar território com facções daí. Imagina, por exemplo, oito cariocas se estabelecendo na Serra, quanto tempo vai demorar para os traficantes locais não denunciaram? Pergunto para todo mundo onde vou se tem cariocas e me dizem que se tivesse chamariam atenção pela forma de falar, o jeito. O traficante Polegar estava em Atibaia, São Paulo, e foi a um posto 24 horas e comprou 12 garrafas de uísque pagando em notas de R$ 100, o que não é normal. As pessoas ficaram apavoradas e ligaram para o 190, em 20 minutos o lugar onde ele se encontrava estava cercado. Outro traficante, o Uê, foi preso em Fortaleza também por ter chamado a atenção em um hotel sofisticado. Então acho pouco provável que traficantes do Rio se juntem aos bandidos de Serra ou de Vila Velha, por exemplo, ou que vão para aí para expulsar os locais.

Ministério da Segurança Pública anunciado por Temer

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Não muda em nada. Já existe uma Secretaria Nacional de Segurança Pública que já tinha orçamento, que apoiava estados e municípios com recursos. Não consigo imaginar um ministério ditar normas a 27 entes da federação, que possa tentar coordenar uma ação articulada, pois quem sabe dos problemas de cada um são as administrações locais. O que funciona para o Rio não funciona para outro lugar e vice-versa. Cada Estado tem suas necessidades.

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