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BR 262: Abandono e risco no caminho das montanhas no Espírito Santo

BR 262: Abandono e risco no caminho das montanhas no Espírito Santo

Falta de duplicação, buracos e mato em placas tornam viagem perigosa

Publicado em 14 de abril de 2018 às 23:35

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Uma BR cheia de problemas: mato alto escondendo a sinalização, grandes buracos no asfalto e trânsito intenso na pista simples, enquanto não há duplicação. (Carlos Alberto Silva)

Com o clima cada vez mais ameno, as montanhas capixabas se tornam uma das principais atrações para o turista. Mas, até chegar ao destino final, é preciso passar pela BR 262, uma rodovia que é sinônimo de abandono e guarda muitas armadilhas para os motoristas que por lá trafegam.

A estrada é o principal corredor para o turismo regional e logístico do Espírito Santo. No entanto, a via que conecta o Estado a Minas Gerais é também considerada uma das mais perigosas: somente no ano passado ocorreram 26 mortes e 695 acidentes.

A reportagem de A GAZETA percorreu 49 quilômetros da via, de Cariacica até Marechal Floriano, no trevo de acesso a Paraju (Domingos Martins), inclusive parte do trecho que está na promessa de ser duplicado. Encontrou sinalização farta, mas em vários pontos ela estava escondida pelo mato alto.

Muitos trechos também apresentavam buracos nas pistas que já são estreitas e cheias de curva, além da falta de acostamento. Numa parte do trajeto, até mesmo um carro abandonado ajudava a compor o cenário de caos.

Além do problema da falta de duplicação, as obras de recapeamento asfáltico na rodovia estão paradas porque a empresa vencedora da licitação simplesmente desistiu. E o pior: as outras cinco participantes da concorrência pública também não quiseram assumir a tarefa.

Diretor da Associação Brasileira de Medicina de Tráfego (Abramet), o médico Dirceu Rodrigues Alves ressalta que a manutenção das rodovias é indispensável para a segurança dos usuários. Embora as principais causas de acidentes ainda estejam relacionadas aos motoristas – por negligência, imprudência ou imperícia – a má conservação das vias também contribui para as ocorrências.

“Falta de sinalização, esburacamento, ausência de acostamento. É uma gama de fatores que podem concorrer para os acidentes. À noite, os buracos não são vistos e podem ser responsáveis por uma capotagem, por jogar um carro em uma ribanceira. Por isso, a manutenção da via é fundamental”, diz Alves.

DUPLICAÇÃO

Há 12 anos começava uma história que, até agora, não tem solução: a duplicação da BR 262. Anunciada em 2006, a obra continua, em 52 km da via, apenas nas promessas do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) e de políticos. Nem os 7,25 quilômetros iniciais tiveram início (de Viana a Vitor Hugo, em Domingos Martins).

O auge dos fracassos aconteceu em 2013, quando as regras do leilão afugentaram investidores. Não houve proposta para que a rodovia fosse concedida à iniciativa privada. Um mês antes, reportagem de A GAZETA já havia alertado sobre defeitos do modelo de concorrência que ameaçavam o processo. Passados mais cinco anos de sucessivas promessas, o novo prazo para o início das obras é neste mês de abril (veja mais na página 10).

Até o presidente Michel Temer, durante solenidade de inauguração do Aeroporto de Vitória, no mês passado, disse que o governo federal vai se empenhar para que as obras sejam realizadas.

PREJUÍZOS

Enquanto a BR 262 não passa por melhorias, quem também perde são os empresários da região. O presidente da associação Montanhas Capixabas, Turismo e Lazer, Valdeir Nunes dos Santos, afirma que o estado da rodovia diminui o fluxo de turistas.

“É pela rodovia que chegam os turistas. Mas alguns deixam de vir e outros diminuem a frequência com essa situação. Só de não ter buraco seria um avanço, pois alguns já estouraram o pneu do carro e até houve caso de ter que buscar cliente na via. Sabemos que uma pessoa mal servida espalha o problema para outras 25.”

Atualmente, Valdeir afirma que está em diálogo com o Dnit. A promessa é que os buracos serão tapados antes de junho, quando começa a alta temporada nas montanhas. No ano passado, para evitar mais prejuízos, os próprios empresários tiveram que arcar com o serviço, no trecho entre os quilômetros 69 e 71 da BR.

O DRAMA DE QUEM VIVE ÀS MARGENS DA PISTA

A dona de casa Lucineia Fischer, de 28 anos, mora em Marechal Floriano e todos os dias precisa atravessar a BR 262, que corta o município. Um trajeto que ela faz com medo, mas que é necessário para que consiga realizar suas atividades diárias, como ir ao mercado. Ela relembra muitas histórias que ocorreram na via, uma delas foi a perda de uma amiga.

Lucineia Fischer passa pela rodovia diariamente com medo. (Carlos Alberto Silva)

Nos quilômetros percorridos pela reportagem, além de Lucineia, foram ouvidos Douglas, Erli, Alcenir, Edson e Aldurval. Em comum, a dependência da via por trabalhar e morar às margens dela. Eles colecionam histórias de acidentes e amigos perdidos, assim como centenas de outros que moram às margens da pista.

“Eu tenho medo do carro vir e passar por cima de mim”, diz Lucineia ao se referir à travessia que precisa fazer no meio da pista, em Marechal Floriano. “Todos os dias convivo com os mesmos problemas: asfalto ruim, buraco na estrada e falta de sinalização para atravessar.”

MELHORIAS

A rodovia que soma inúmeros problemas também já causou prejuízos para o vendedor Douglas Brito, 41 anos. Ele, que precisa sair de Cariacica e passar pela BR 262 todos os dias até chegar a Marechal Floriano, já foi vítima de acidente. Há três anos, perdeu o controle do carro e bateu em uma grade de proteção.

De lá pra cá, relata que nada mudou na via, nem mesmo os serviços essenciais de manutenção que estão sendo feitos. Mas ele tem esperança de que a BR 262 seja duplicada para que o número de acidentes possa ser reduzido. “Eles deveriam duplicar a BR 262, mas isso nunca sai do papel. Tem que ser feito de forma urgente, tem acontecido muitos acidentes”, disse.

Motociclista Edson soma prejuízos na 262. (Carlos Alberto Silva)

As más condições da via causaram prejuízo também para o motorista Edson Sena Pereira, de 34 anos. Vítima de dois acidentes de moto em menos de três meses, devido aos buracos na via, ele alega que já gastou R$ 790 em concertos de moto.

“Está difícil para trafegar. Os aros da moto amassaram ao passar pelos buracos. O problema é que o dinheiro sai do meu bolso e não tenho a quem recorrer”, lamenta.

QUEIXAS

“Todos os dias passo quatro vezes pela BR 262. Está sempre do mesmo jeito, só tapam buraco. Não é feito um serviço de qualidade para durar mais tempo”

Alcenir José Alves, motorista

“Já presenciei muitos acidentes, a rodovia está um caos: mato alto e buracos são alguns dos problemas que nós enfrentamos todos os dias na BR 262”

Erli Lopes Cordeiro, comerciante

“Todos os dias tenho que percorrer cerca de 100 km, só na BR 262 são 50. São muitos buracos que atrapalham o trajeto, tento procurar caminhos alternativos”

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Aldurval Bermonde, motorista

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