> >
Caso Milena: Hilário fala sobre conteúdo de carta deixada por médica

Caso Milena: Hilário fala sobre conteúdo de carta deixada por médica

A carta foi escrita no dia 5 de abril do ano passado pela médica Milena Gottardi. Ela revela a situação em que vivia meses antes de ser executada

Publicado em 26 de abril de 2018 às 01:53

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Médica deixou carta registrada em cartório. (Gazeta Online)

O policial civil Hilário Frasson, acusado de ser um dos mandantes do assassinato da médica Milena Gottardi em setembro do ano passado, relatou, em depoimento, que a carta escrita por Milena foi de grande surpresa. “Eu não tinha conhecimento sobre os fatos narrados e isto não era do perfil dela. Acredito que Milena tenha sido orientada a escrever aquilo depois que começou a procurar advogado”.

A carta deixada pela médica e registrada em cartório foi publicada pelo Gazeta Online em setembro do ano passado. [Veja conteúdo na íntegra no final desta publicação]

O depoimento de Hilário foi dado na última audiência do caso Milena Gottardi, nesta quarta-feira (25). Ele foi ouvido pelo juiz Marcos Pereira Sanches, na 1ª Vara Criminal de Vitória e respondeu apenas aos questionamentos do juiz e de seu próprio advogado de defesa, Leonardo Gagno. Hilário deixou de responder a 50 perguntas da acusação e dos advogados de defesa dos outros réus.

> CASO MILENA | A cobertura completa com materiais exclusivos

A carta foi escrita no dia 5 de abril do ano passado pela médica Milena Gottardi. Ela revela a situação em que vivia a vítima meses antes de ser executada. O documento foi registrado pela própria médica em cartório, e detalha que, além de problemas no casamento, ela enfrentava o medo do que poderia acontecer com as duas filhas.

Aspas de citação

e sinto uma refém dentro da minha própria casa. Está insuportável. Não quero brigar com ele, mas também não consigo ter uma conversa, um diálogo. Ele não permite iss

Palavras de Milena, em carta registrada em cartório
Cargo do Autor
Aspas de citação

A médica começa dizendo que estava com problemas na separação e destaca: "Por várias vezes ele (Hilário) demonstrou um temperamento difícil com mudanças de humor frequentes durante o dia. Reage com agressividade em algumas situações, porém sem agressão física. A agressividade é feita através de palavras", escreveu.

PRESSENTIU A MORTE

Em trecho da carta, Milena sugere que tinha medo de ser morta pelo ex-marido Hilário Antônio Fiorotti Frasson. Ela também detalha que o processo de separação estava complicado e levantou a hipótese de o marido se suicidar. "[...] se acontecer algo de ruim comigo, por exemplo, se Hilário Antônio Fiorotti Frasson me matar e, pode ser que tente se matar também [...]".

AMEAÇAS

Durante vários momentos do documento, que foi registrado em cartório, Milena revela que o ex-marido era agressivo com ela e com as crianças, e que não conseguia manter um diálogo com ele. Além disso, a médica complementa lamentando que não sabia mais o que fazer. "[...] por várias vezes ele demonstrou um temperamento difícil com mudanças de humor frequentes durante o dia. Reage com agressividade em algumas situações [...] a agressividade é feita através de palavras".

Milena, após relatar episódios de ameaça, também sugere que Hilário poderia sofrer de uma doença psiquiátrica. "[...] (Hilário) tem manias como de limpeza excessiva que ao meu ver é muito sugestivo de transtorno obsessivo compulsivo".

ALCOOLISMO

A médica aponta o terror que era conviver com Hilário quando a bebida passou a fazer parte do cotidiano da família. "A situação ficou mais grave a partir do momento que o alcoolismo começou a se tornar algo real nas nossas vidas. Ele era um etilista social (embora mesmo nos finais de semana sempre abusava da quantidade de álcool), o hábito se tornou diário".

GUARDA DAS FILHAS

Prevendo seu possível assassinato, a médica se adiantou e deixou clara a vontade que tinha de que suas filhas, na época de dois e nove anos, ficassem sob a guarda do irmão, Douglas. Ela queria que as meninas continuassem tendo uma boa educação e avaliou que a família dela poderia proporcionar isso.

O trecho em que isso é detalhado, descreve: "[...] se Hilário Antônio Fiorotti Frasson me matar [...] eu desejo que minhas filhas "X" e "XX" fiquem sob a guarda do meu irmão Douglas Gottardi Tonini com a supervisão de minha mãe Zilda Maria Gottardi porque assim ficarei em paz".

MENSAGEM ÀS FILHAS

Prevendo a própria morte e com medo de deixar as filhas sem orientação, Milena, no último parágrafo da carta, deixou uma mensagem às filhas. Leia:

"A "X" e a "XX" tenham certeza de que vocês são o bem maior que tenho. O meu amor por vocês é infinito. Um dia vocês saberão que a mamãe tentou de todas as formas manter o casamento, mas não deu. E a separação foi a forma que eu encontrei de busca a nossa paz e a nossa felicidade. Eu sempre estarei com vocês para protegê-las e amá-las."

A CARTA NA ÍNTEGRA

No vídeo abaixo, a jornalista Patrícia Vallim lê a carta escrita por Milena Gottardi:

 

Vitória, 05 de abril de 2017

Meu nome é Milena Gottardi Tonini , sou mãe de "X" (9 anos) e "XX" (1 ano e 10 meses). Sou casada com Hilário Antônio Fiorot Frasson, mas estamos em processo de separação. Temos um relacionamento de 20 anos (7 anos de namoro e 13 anos de casamento).

Por várias vezes ele demonstrou um temperamento difícil com mudanças de humor frequentes durante o dia. Reage com agressividade em algumas situações, porém sem agressão física. A agressividade é feita através de palavras. Tem manias como de limpeza excessiva que ao meu ver é muito sugestivo de transtorno obsessivo compulsivo.

Toda essa personalidade sempre me preocupou e me oprimiu porque nunca sabia como ele reagiria às situações do cotidiano. Orientei por diversas vezes à procura de tratamento psiquiátrico, mas ele nunca levou a sério. Ia ao psiquiatra, mas não seguia o tratamento proposto. A situação ficou mais grave a partir do momento que o alcoolismo começou a se tornar algo real nas nossas vidas. Ele era um etilista social (embora mesmo nos finais de semana sempre abusava da quantidade de álcool), o hábito se tornou diário.

Em relação às meninas, sempre foi um bom cuidador, porém, principalmente com a "X" usava também de palavras agressivas e castigos físicos [...].

A nossa relação sempre foi de posse. Ele sempre demonstrou muita obsessão à minha pessoa, mesmo antes do namoro.Diante de todos esses fatos, hoje sairei dessa com minhas filhas por determinação judicial, uma vez que estou desde o dia 5 de março de 2017 tentando convencê-lo a sair de casa ou aceitar pacificamente a separação. No entanto, não obtive êxito nas inúmeras tentativas.

As conversas ele sempre partia para o lado das ameaças. Falava que não sairia de casa, nem deixaria as meninas, que se um dia me separasse, ele declararia guerra, e se mataria (falou isso perto de "X" dentre outras falas). Me sinto uma refém dentro da minha própria casa. Está insuportável! Não quero brigar com ele, mas também não consigo ter uma conversa, um diálogo.

Ele não permite isso. Temo pelas crianças. A "X" está em acompanhamento com psicóloga "Y", a qual orientou sempre pouparmos de qualquer divergência entre o casal, mas ele grita e fala coisas terríveis perto dela.

Não aguento essa situação, por isso pedi ao juiz a liberação para sair de casa com as meninas para me poupar e, principalmente, as minhas filhas de um ambiente hostil.

No entanto, não sei qual será a reação dele. Tenho medo que essa agressividade verbal se concretize em atitudes. Temo em ele tirar sua própria vida e, como vemos em muitos casos, tirar a minha vida também.

Poderia ir na delegacia e relatar meus temores, mas não quero prejudicá-lo. Desejo muito que a situação seja resolvida pacificamente.

Embora eu desejo e rezo pela paz. Tenho duas crianças que dependem de mim que são "X" e "XX", dependem do meu amor, do meu carinho, dos meus ensinamentos e financeiramente.

Por isso, venho através desta carta expor a minha vontade que, se acontecer algo de ruim comigo, por exemplo, se Hilário Antônio Fiorotti Frasson me matar e, pode ser que tente se matar também, eu desejo que minhas filhas "X" e "XX" fiquem sob a guarda do meu irmão Douglas Gottardi Tonini com a supervisão de minha mãe Zilda Maria Gottardi porque assim ficarei em paz.

Sei que eles têm plenas condições de seguir com os ensinamentos e afeto para com as minhas filhas da forma que eu mesma faria. Bem como de utilizar todos os benefícios financeiros a favor da educação das minhas filhas.

Expresso essa vontade em vida e na forma dessa carta para que, se acontecer algo comigo, que as autoridades responsáveis possam se sensibilizar com o desejo de uma mãe que estava em busca somente de paz.

A separação será para mim a busca de paz e, com isso, uma casa harmonioza para criar minhas filhas. A "X" e a "XX" tenham certeza de que vocês são o bem maior que tenho. O meu amor por vocês é infinito. Um dia vocês saberão que a mamãe tentou de todas as formas manter o casamento, mas não deu.

E a separação foi a forma que eu encontrei de busca a nossa paz e a nossa felicidade. Eu sempre estarei com vocês para protegê-las e amá-las.

* As filhas da médica foram identificadas como "X" e "XX", e a psicóloga à que Milena se referiu é chamada de "Y" para preservar as identidades destas pessoas

Este vídeo pode te interessar

CLIQUE NAS PÁGINAS PARA AMPLIAR A CARTA

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais