A implantação de espaços para as empresas de tecnologia e inovação em Vitória, a chamada Ilha Criativa anunciada na última terça-feira (3) pelo prefeito Luciano Rezende, nem de longe atende os interesses do setor. É o que garantem empresários ouvidos pela reportagem.
As novas áreas oferecidas pelo município a Fábrica de Ideias e a região do Centro de Vitória não substituem o Parque Tecnológico, que seria instalado em Goiabeiras. A proposta é considerada um tapinha nas costas que não atende às empresas. Na avaliação dos empresários, a criação de uma área exclusiva para este tipo de setor oferece atrativos que vão muito além do espaço físico.
INCENTIVOS
Dentre eles, destaca Evandro Milet, consultor em inovação e comentarista da rádio CBN Vitória, está a criação de uma marca. Um parque já consolidado vira uma marca. É como uma grife, uma chancela que ajuda as empresas na hora, por exemplo, de disputar concorrências. E quanto mais empresas atrai, mais forte fica a marca, observa.
Outro ponto importante são os incentivos que uma ZPT (zona de Parque Tecnológico) oferece, como pondera Adriano Del-Rey, vice-presidente e co-fundador da Inflor. Ele questiona qual a atratividade que este tipo de projeto oferece para empresas como a dele.
Empresas constituídas precisam de capital, com uma taxa de juros viável ao meu negócio, acesso a recursos especiais por estar em uma ZPT, mão de obra qualificada perto de mim, ter insumos de tecnologia. Dentro de um parque gero valor para a minha cadeia, pondera.
Del-Rey vai mais longe ao avaliar que a discussão em torno do Parque Tecnológico carece também de foco. Lembra que o parque de Florianópolis começou com setores específicos, como o aeroespacial, eletrônico e eletromédico. Porque não começamos com inteligência artificial? Tem que ter um propósito, criar um ambiente propício, uma ZPT. Mas hoje não conseguimos usufruir de nada disso porque o terreno tem dono e o prefeito avalia que estamos precisando apenas de m2 (espaço físico), desabafa.
DESÂNIMO
Outro a quem a nova proposta também não agradou é Marcos Martins, da FrameYou. Não resolve o problema de maneira geral. Pode ajudar a empresas como a minha, uma startup, mas as mais maduras, com infraestrutura, não atende, relata.
Para Marcos, nada substitui a ambiência, a concentração de empresas do setor em um mesmo espaço físico. Isto não tem preço. Se a decisão da Câmara de uso misto não for revertida, vou mudar o domicílio fiscal da minha empresa. Não tenho interesse de ficar em Vitória, acrescentou.
Outro problema do projeto, aponta o presidente da TecVitória, Fábio Oliveira, é que a promessa de ocupação da Fábrica de Ideias não será tão rápida quanto o prometido pelo município, em 90 dias. A Fábrica de Ideias pode ser interessante, mas porque deixaríamos o nosso atual prédio sem nem saber em que condições a ocupação ocorrerá, pondera.
E não fica só neste ponto. Fábio relata que o Instituto federal do Espírito Santo (Ifes), a quem o prédio já foi cedido, tem projetos para o local. Se todos eles forem executados, não haverá espaço para mais empresas, relata, acrescentando que a TecVitória foi convidada para reunião com o prefeito para ouvir informações sobre o setor e acabou sendo surpreendido com o anúncio. Minha posição é clara, a peça fundamental para o nosso ecossistema é o Parque Tecnológico, que Vitória precisa, mas que não vamos ter.
Para o empresário e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Álvaro Abreu, que propôs a criação do parque em 1991, a cidade está pondo em risco o seu futuro.
O VAIVÉM DO PARQUE
PROJETO
Cidade
A Prefeitura de Vitória encaminhou o projeto do novo PDU da Cidade, para a Câmara, propondo que na Região de Goiabeiras a Zona de Parque Tecnológico (ZPT) fosse de uso exclusivo para as empresas do setor de tecnologia e inovação.
MUDANÇA
Vereadores
Após longas discussões, vereadores votaram o projeto, no dia 27 do mês passado, com alterações. O uso exclusivo da ZPT caiu. Foi autorizado o chamado uso misto, que permite a construção de residências na região, com algumas restrições.
REVOLTA
Empresários
A medida não agradou empresários do setor de tecnologia, que já alertaram que não vão se instalar numa área que não é de uso exclusivo. A principal alegação é de que este setor precisa de um ambiente favorável a troca de conhecimentos que só é viabilizado com a presença de um grande números de empresas da área, o que não seria possível com a construção de casas.
VETO
Expectativa
A expectativa é de que o prefeito Luciano Rezende vete as mudanças feitas pela Câmara. Mas o problema é que pode não haver justificativas legais para sua derrubada. Há ainda o fato de que os vereadores podem derrubar o veto.
NOVA
Proposta
Em meio a uma discussão de criação do Parque Tecnológico de uso exclusivo que ainda está longe do fim, o prefeito anunciou a criação da Ilha criativa, oferecendo dois novos espaços para o setor: a Fábrica de Ideias, em Jucutuquara, e a região do Centro, com novos incentivos. Proposta que não agradou os empresários do setor.
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