*Edilaine tem 35 anos e está no sexto mês de gestação. Seus dias e noites de gravidez não passam no conforto de uma casa. Sua morada é nas ruas, marquises e, às vezes, em abrigos improvisados feitos por ela nas calçadas de Vila Velha, onde usa drogas mesmo com um filho na barriga. Sua capacidade de acompanhar e planejar o futuro foi silenciado por causa do vício.
A conhecemos após acompanhar duas manhãs de trabalho da equipe de abordagem social do município. Vivendo em situação de rua, ela não procurou atendimento médico nem para saber o sexo da criança. A dependência química a impediu de cuidar da própria saúde e a de seu bebê.
Quando você começa a fumar, não consegue parar. Não consegue pensar em mais nada, a não ser em sustentar o vício. Penso se esta criança merece uma mãe como eu, disse Edilaine, emocionada.
A primeira gravidez dela foi aos 17 anos, idade em que começou a usar crack. É mãe de seis filhos: quatro meninas e dois meninos. Cinco vivem com a avó, que mora em Vitória. O filho da última gestação foi levado por ordem judicial para um abrigo, logo após o nascimento, e encaminhado para adoção.
Ele não tinha sido registrado ainda. Saiu de mim com três ou quatro meses quando estava na casa da minha mãe. Não procurei saber. Não fui atrás. Só fumava e não ia resolver essa situação, relatou.
Edilaine tentou ficar na casa da mãe com os filhos, mas o vício a levou para a rua por diversas vezes. Está grávida novamente do companheiro que conheceu na rua, que também é dependente químico.
Também em situação de rua e grávida de três meses está Rayane. Com apenas 23 anos, ela é mãe de outros três filhos que moram com a avó em um bairro da Serra. Mudou-se para Vila Velha, com medo de ser morta pelo tráfico do local de onde morava e engravidou.
Eu devia R$ 120,00, mas já paguei quase R$ 400,00. Não sei o que pode acontecer se eu voltar. Já vi gente morrer depois que entrega o dinheiro, conta Rayane.
SERVIÇOS
Em Vila Velha, Edilaine recusou o tratamento no Centro de Tratamento Psicossocial (Caps) e o acolhimento noturno, oferecido em dois abrigos da prefeitura. Algo que, segundo a secretária municipal de Assistência Social, Ana Cláudia Pereira Simões Lima, é comum, pois a adesão aos serviços precisa ser voluntária.
As mulheres grávidas em situação de rua são encaminhadas pela equipe de abordagem social para os serviços de saúde, mas, por causa do vício, muitas recusam. Por isso é feito um trabalho de criação de vínculo e convencimento por parte da equipe. O primeiro passo é aceitar, o que dificilmente acontece, disse a secretária.
Quando a encontramos, Edilaine reclamou que o bebê não se mexia na sua barriga. Uma semana depois, convencida pelos assistentes sociais, foi encaminhada para o primeiro atendimento do serviço de saúde. Na consulta médica não conseguiu ouvir as batidas do coração do bebê e, agora, vai passar por exames.
*O sobrenome das gestantes não vai ser divulgado para evitar constrangimentos.
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