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Jovem com vitiligo faz ensaio no ES para dar um basta no preconceito

Jovem com vitiligo faz ensaio no ES para dar um basta no preconceito

Karina de Oliveira, de 23 anos, descobriu a doença aos 18; problemas emocionais aceleraram o avanço do vitiligo

Publicado em 4 de abril de 2018 às 21:49

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Karina de Oliveira, de 23 anos, faz ensaio para alertar sobre preconceito contra pessoas com vitiligo. (James Rodrigues)

Aos 18 anos, Karina de Oliveira começou a perceber que algumas partes de corpo estavam "ficando brancas demais". Ela, preocupada, procurou um médico para saber o que estava acontecendo. O exame trouxe o diagnóstico: vitiligo.

O momento mais crítico da doença foi quando Karina passou a se achar feia. Não demorou para ela se encontrar em um quadro de depressão profunda. Após três anos lutando contra a depressão, a moça que trabalha como atendente em uma loja, agora conhecedora de sua beleza, criou uma página em uma rede social para destacar a importância de lutar contra o preconceito. Desde então, ela assumiu as manchas como identidade e vem derrubando preconceitos em relação à enfermidade.

Karina passou a ser referência para outras pessoas que encaram as mesmas dificuldades que ela, e se diferencia por expor as marcas que o vitiligo trouxe.

A moradora de Cariacica hoje tem 23 anos e posou para um ensaio mostrando as manchas. E ela deu uma lição de empoderamento e aceitação do próprio corpo. Karina conta que pretende influenciar positivamente outras pessoas que, assim como ela, sofrem bullying por ter a doença.

Karina de Oliveira criou projeto "Se Ame". (James Rodrigues)

"Fui humilhada inúmeras vezes. Isso porque as pessoas se esquecem que, além das palavras, olhares também podem ser bastante preconceituosos. Resolvi me abrir e falar sobre o vitiligo depois que conheci meninas que vinham sofrendo abusos em seus relacionamentos por se acharem feias. Passou um filme pela minha cabeça, pois um dia também me senti assim. Tento transmitir para essas pessoas que existem belezas diferentes e que somos lindos do jeito que somos", alertou.

Karina falou também que o posicionamento acerca da situação a torna uma pessoa ainda mais especial. "Vivemos em uma sociedade preconceituosa e que julga os outros através da aparência. Eu penso diferente. Tento olhar mais para o que existe dentro de cada pessoa. Acho que por conta disso, muitas pessoas dizem que me admiram por eu ser assim, outros me elogiam dizendo que me acham bonita."

Karina agora usa as manchas para fazer arte e deu ao ensaio o nome de "Projeto Se Ame". Nele, o corpo é usado como tela para promover o conhecimento sobre o vitiligo e incentivar mais pessoas a não esconderem a doença.

'NÃO ME CONTRATAVAM POR CAUSA DA MINHA PELE"

Mãe de uma menina de 4 anos, chamada Maria, Karina passou por problemas financeiros por conta do preconceito. Quando estava desempregada, após terminar o ensino médio e não ter conseguido entrar em uma faculdade, ela tentou buscar uma vaga de emprego para poder sustentar a própria filha. O problema é que, em algumas situações, ao chegar para fazer as entrevistas, ouvia a seguinte frase depois de ser olhada "dos pés a cabeça", como ela relata: "Já contratamos outra pessoa. Não temos mais a vaga."

Karina encontrou dificuldades para conseguir trabalho. (James Rodrigues)

"Ouvir aquele tipo de frase me machucava profundamente. Eu recebia olhares maldosos dos entrevistadores. E isso não aconteceu apenas uma ou duas vezes, foram várias vezes. Sequer queriam me conhecer, conhecer meu currículo. Não me contratavam por causa da minha pele. Mas graças a Deus que, após bater tanto na tecla, consegui um serviço. Na empresa onde trabalho hoje foi bem tratada, respeitada por todos."

AMIGA FOI FUNDAMENTAL EM RECUPERAÇÃO

A fotógrafa James Rodrigues, amiga de infância de Karina de Oliveira, foi quem teve a iniciativa de valorizar a beleza da atendente.

Percebendo que a colega estava com problemas emocionais, James teve uma ideia e falou para Karina: "Vou fazer um ensaio seu para te mostrar o quanto você é linda." E não deu outra, como ela mesma diz: "Foi um sucesso imediato."

Amiga fotógrafa ajuda Karina em sua recuperação. (James Rodrigues)

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"Às vezes, por ser diferente fisicamente, você acaba sendo excluído do restante das pessoas. Mas ninguém está aqui na terra por acaso. As pessoas precisam acreditar que tudo ficará bem, que existe recomeço. Ser diferente é normal", comentou James.

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