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100 pessoas ocupam prédios abandonados em Vitória

100 pessoas ocupam prédios abandonados em Vitória

Pelos menos seis imóveis do Centro foram ocupados por sem-teto

Publicado em 2 de maio de 2018 às 01:35

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Em Vitória, pelo menos 100 pessoas ocupam seis imóveis abandonados, todos no Centro da cidade. O número foi passado pelo Movimento Nacional das Famílias sem-teto vindas da Fazendinha (MNFTF). Destes imóveis, três são de responsabilidade da Prefeitura de Vitória e, pelo levantamento feito pela administração municipal cerca de 59 pessoas ocupam os espaços.

Os imóveis municipais ocupados são o antigo colégio Americano Batista, o edifício Santa Cecília e uma casa, atrás do antigo colégio Americano, onde funcionava uma casa de acolhimento institucional. Os outros dois, segundo informou MC Tim, coordenador do MNFTF, são o antigo hotel Majestic e o antigo prédio Ômega.

Todas as ocupações aconteceram entre 2017 e este ano. O número de famílias que ocupam os imóveis varia. No Santa Cecília, por exemplo, há 40 famílias.

Tim explica, ainda, que pode ser que haja outros prédios ocupados mas que as pessoas não estão ligadas ao movimento.

“Tem muita ocupação que está invisível. Há casos de gente que ficou mais de dez anos em um prédio abandonado”, explica Tim.

ASSISTÊNCIA

De acordo Iohana Kroehling, secretária municipal de Assistência Social de Vitória, as famílias que ocupam os prédios municipais são abordados por equipes que oferecem atendimento de programas desenvolvidos pela prefeitura.

“A prefeitura visita essas famílias e explica quais são os benefícios que elas podem ter direito”, afirmou a secretária.

Ela explicou, contudo, que nessas abordagens não são oferecidas alternativas de moradias.

“A gente tem uma lista que precisa ser atendida de acordo com uma ordem de chegada das pessoas”, argumenta.

Equipes de saúde e vigilância sanitária da Prefeitura de Vitória também fazem fiscalizações nos imóveis ocupados com o objetivo de prevenir focos de doenças. A defesa civil também acompanha, observando questões estruturais e para identificar algum risco eminente.

Fiação no Santa Cecília indica prática de “gato”. (Fernando Madeira)

PREVENÇÃO

A preocupação do Movimento Nacional das Famílias sem Tetos vindas da Fazendinha (MNFTF) com a prevenção de possíveis acidentes vem desde antes do acidente com um prédio ocupado em São Paulo, que pegou fogo e desabou. Pelo menos é o que garante o coordenador do movimento, MC Tim.

“A gente sempre se preveniu muito. A nossa orientação é que ninguém faça nada com fogo e álcool, por exemplo. O cuidado com a segurança sempre foi uma preocupação do movimento ”, garante o coordenador.

A promessa, entretanto, é que após o acidente que aconteceu no prédio ocupado em São Paulo os cuidados nos locais ocupados em Vitória sejam reforçados.

LOCAIS OCUPADOS

Antigo colégio Americano

No prédio onde funcionava escola no Centro, moram 15 pessoas.

Prédio Santa Cecília

Este prédio no Centro de Vitória está ocupado por 38 pessoas.

Casa de assistência

A casa, no Centro, funcionava como acolhimento institucional mas estava fechada e foi ocupada por seis pessoas.

Antigo Hotel Majestic

Não há informação sobre quantas pessoas estão no local.

Antigo prédio Ômega

Não há informação sobre quantas pessoas estão no local.

Prédio próximo ao Hospital São José

Não há informação sobre quantas pessoas estão no local.

A ocupação do antigo IAPI aconteceu em maio do ano passado. No local estavam abrigados idosos, crianças e pessoas desempregadas. A reintegração aconteceu quase dois meses depois de decisão judicial. (Fernando Madeira)

"PRÉDIO FOI OCUPADO POR 20 ANOS"

MC Tim é coordenador do Movimento Nacional das Famílias sem-Teto vindas da Fazendinha (MNFTF) e explica como estão as ocupações em Vitória.

Quantos imóveis estão ocupados em Vitória?

São cinco prédios e uma casa.

Onde eles estão?

São todos no Centro da cidade.

Quantas pessoas participam da ocupação?

Cerca de 100. Mas o número pode ser maior porque pode ser que tenha pessoas dentro de prédios e a gente não sabe. São ocupações invisíveis.

Como assim?

São pessoas que estão dentro de um prédio e a gente nem sabe. Teve um prédio, por exemplo, que tinha uma pessoa ocupando há mais de 20 anos. Era uma pessoa que não era ligada ao movimento. Só soubemos desse caso quando ocupamos o prédio.

Depois do que aconteceu em São Paulo vocês estão com algum tipo de receio?

A gente tem as nossas preocupações mas a gente também se previne muito. É um procedimento nosso de ocupação ter todo cuidado com os ocupantes.

O que vocês fazem?

No processo de ocupação temos uma cozinha comunitária. A nossa orientação é que ninguém faça nada com álcool. Gestantes por exemplo ficam em um lugar que não precisa subir escada, ficam em um local que está iluminado.

As orientações serão reforçadas?

Somos mais que obrigados. Os próprios ocupantes viram a notícia, se conscientizaram e vão cobrar um cuidado maior.

ANÁLISE

Fracasso das políticas públicas no país

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"Habitação é um direito previsto na constituição e, como outros, continua sendo descumprido. O caso de São Paulo revela vários problemas, principalmente desigualdade. Trata-se de uma série de fragilidades expostas que representam o fracasso das políticas públicas no país. A constituição prevê políticas públicas e há planos diretores que estipulam políticas habitacionais mas pouco se aplicam na prática. Há um distanciamento entre o que deveria ser feito e o que é feito. Com isso, vemos resultados lamentáveis. A ocupação indevida que oferece risco não é a saída, mas ir pra onde? Casos como o de São Paulo são esporádicos, mas repetem o que acontece com saúde, educação e segurança. É um exemplo de ineficiência e ineficácia. É uma sucessão de erros que depende mais do que de políticas. Tirar nosso país deste estado lamentável depende mais de mudar nossas atitudes do que nossas falas", analisou o cientista social Joilton Rosa.

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