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A tristeza e a revolta do luto coletivo

A tristeza e a revolta do luto coletivo

As mortes dos irmãos em Linhares causaram comoção

Publicado em 27 de maio de 2018 às 00:14

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George deu entrevista após o crime, na porta do DML. (Marcelo Prest)

Até o momento em que a polícia divulgou detalhes da morte dos irmãos Kauã Salles Butkovsky, 6 anos, e Joaquim Alves Salles, 3, muitas pessoas não queriam acreditar que o pastor Georgeval Alves Gonçalves, padastro do mais velho e pai do caçula, pudesse ter envolvimento no assassinato das crianças, ocorrido em 21 de abril, no município de Linhares. Tanto pela relação paternal, quanto pelo fato de se apresentar como pastor. Contudo, a crueldade do crime, segundo as investigações policiais, revelou sua outra face, além de deixar um clima de comoção no Estado.

Mesmo para quem não é da família fica impossível não se sensibilizar diante do sofrimento dos meninos que, de acordo com a acusação, foram estuprados, espancados e queimados quando ainda estavam vivos, embora o pastor George, como é conhecido, afirme ser inocente. Num caso de violência dessa dimensão, muitos passam por uma espécie de “luto coletivo” e é importante saber lidar com esses sentimentos.

Presidente da Associação de Mães e Filhos de Vítimas da Violência, Maria das Graças Nacort, que teve um filho assassinado há quase 19 anos, ainda se comove com a violência. Para ela, difícil não ficar revoltada diante da morte dos irmãos.

O psicólogo Pedro Luiz Ferro observa que, em geral, a primeira vontade é fazer justiça com as próprias mãos, o sentimento de vingança se manifesta, com linchamentos e outras reações violentas, mas é importante ter controle sobre essas sensações.

“Esse comportamento não é saudável. Agir assim é se igualar ao criminoso. A justiça tem que ser feita, mas pelas vias legais. O ponto de virada entre nós e quem comete o crime é esse: respeito ao outro e às leis.”

Na opinião da psicóloga Adriana Müller é fundamental que, quem vive o trauma da violência, busque um caminho para a transformação. “Quando um valor absolutamente precioso é violado, a fragilidade existe, mas não podemos deixar esse sentimento tomar proporção maior. É preciso, ao contrário, reforçar valores, como estar com a família, com os amigos; lembrar d o poder do encontro, do abraço, de agradecer pelo que se tem”, recomenda.

IMPUNIDADE

Para a psicóloga Daniela Reis e Silva, especialista em trauma e luto, crimes dessa natureza deveriam servir para que a sociedade não se cale e possa se unir a fim de acabar com a impunidade.

“Infelizmente, esse tipo de caso não é o primeiro, nem será o último. À medida em que os detalhes vão sendo revelados, as pessoas vão ficando em choque. Mas nem todos os crimes são resolvidos nessa celeridade e, para a família que perde alguém, é uma angústia muito grande. É importante que diante de uma violência como essa, para a qual não tenho expressão para qualificar, possa se jogar luz sobre todos os outros que passam por situações semelhantes”, opina.

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Psicólogo do Programa de Atendimento às Vítimas de Violência Sexual (Pavivis) no Hospital Universitário Cassiano Antonio de Moraes (Hucam), Getulio Sérgio Souza Pinto avalia que a reação das pessoas diante do assassinato dos irmãos também tem relação com o fato de que uma violência tão recorrente no universo familiar – mais de 60% dos casos de abusos contra crianças e adolescentes acontece em suas casas – ainda é invisibilizada. “Fechar os olhos para esse crime permite que continue acontecendo.”

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